Sexto disco na carreira de Pedro Mariano, "Incondicional" era para ser seu quinto trabalho. Mas, num imbróglio que diz muito sobre a crise de identidade que a indústria da música atravessa, só agora chega ao mercado, cinco anos após ter sido finalizado. E, para finalmente vir a público, o cantor paulistano teve que criar o seu próprio selo, Nau, e negociar a liberação da fita com a EMI, gravadora que inicialmente bancara o CD e, em seguida, após uma mudança na sua diretoria, rejeitou-o.
O curioso nessa história é que, artisticamente, o novo (e velho) disco do filho de Elis Regina e Cesar Camargo Mariano pouco ousa, reafirmando o pop com apelo radiofônico que vem marcando sua carreira desde a estreia, em 1997, na Sony, com "Pedro Camargo Mariano" (como ele então assinava). Ou seja, traz o tipo de repertório e de embalagem instrumental que diretores artísticos das grandes gravadoras costumam gostar. Predominam baladas, entre o pop e o soul, assinadas por um elenco de compositores que passa por Frejat, George Israel & Mauro Santa Cecília ("Três moedas"), Jorge Vercillo ("Quase amor"), Lulu Santos & Marcos Valle ("Próxima atração"), Jair Oliveira ("Memória falha" e "Colorida e bela"), Moska ("O jardim do silêncio") e Samuel Rosa & Chico Amaral ("Simplesmente").
Melhor fase foi na gravadora Trama
Entre a sua estreia na Sony, em 1997, e a criação do atual selo próprio, Nau, Pedro Mariano passou também pela Trama - a gravadora independente dirigida por seu meio-irmão, João Marcello Bôscoli, na qual gravou seus três melhores discos, "Voz no ouvido" (2000), "Intuição" (2002) e, este em duo com o pianista Cesar Camargo Mariano, "Piano e voz" (2003) - e pela Universal, onde comemorou, em 2005, dez anos de carreira no CD "Ao vivo". Esse projeto foi uma tentativa de recuperar terreno após a traumática experiência na EMI, em 2004.
Na época, contratado pelo então diretor artístico Jorge Davidson, Mariano teve liberdade artística total: selecionou o repertório, coproduziu (ao lado do também arranjador e músico Otávio Moraes) as gravações, em março daquele ano, que foram masterizadas nos EUA. Também já tinha feito as sessões para as fotos de capa e encarte (que, coerentemente, agora foram usadas em "Incondicional") e preparava-se para rodar o clipe, quando, em junho de 2004, foi avisado de que a cúpula da EMI tinha sido trocada. O novo presidente, Marcos Maynard, recusou o CD, ou, como contou na época o cantor, quis botar a mão, mexendo no repertório - pretendia trocar pelo menos seis músicas. Mariano bateu o pé, não aceitando qualquer intromissão e rescindiu seu contrato. No entanto, perdeu o direito ao trabalho a que tanto se dedicara.
Nova diretoria da EMI negociou com o cantor
Ele perdeu o disco mas manteve o prestígio, tanto que, no fim daquele ano, assinou com outra gigante do setor, a Universal. A primeira ideia era levar o CD recusado para a nova casa, mas o alto preço pedido pela EMI inviabilizou essa opção. Daí o tal "Ao vivo", que, chovendo no molhado, foi lançado em 2005 e passou em branco.
Mas, como o mundo do disco dá muitas voltas, ainda mais nessa última década de turbulências, em 2007, uma nova diretoria, com Marcelo Castello Branco à frente, assumiu a EMI, e Pedro Mariano, já desligado da Universal, finalmente pôde negociar e trazer de volta à vida seu disco abortado.
Acertadas as contas com o passado recente, já é mais do que hora de Pedro Mariano, aos 34 anos, cumprir a promessa acenada em sua estreia profissional, em 1995, num tributo a Elis. Na época, também foi um dos "Artistas Reunidos" (ao lado de, entre outros, Jair Oliveira, Luciana Mello, João Marcelo Bôscoli e Daniel Carlomagno) da geração Trama. Ele confirmava o ótimo "pedigree", com belo timbre vocal, afinação perfeita, senso rítmico e demais fundamentos obrigatórios para um grande cantor. Talento que, no entanto, vem sendo desperdiçado em discos irregulares, como esse "Incondicional", de gestação tão conturbada. Teremos que aguardar seu novo disco.
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