segunda-feira, 8 de junho de 2020

PAUTA MUSICAL: A ARTE DE ASCENDINO LISBOA, POR LAURA MACEDO

Por Laura Macedo


A Arte de Ascendino Lisboa


Ascendino Lisboa atuou como compositor/cantor entre as décadas de 1920 / 1930. Gravou seu primeiro disco pela Victor, em 1929, com acompanhamento da Orquestra Victor cantando os sambas: “Dou tudo” (André Filho) e “Tapeação” (João Martins).

“Dou tudo” (André Filho) # Ascendino Lisboa. Disco Victor (33.210-A) / Matriz (50039). Gravação (12/09/1929) / Matriz (50039). Gravação (12/09/1929) / Lançamento (novembro/1929).

“Tapeação” (João Martins) # Ascendino Lisboa. Disco Victor (33.210-B) / Matriz (50040). Gravação (12/09/1929) / Lançamento (novembro/1929).


Pesquisando na Revista Carioca, nos anos de 1936/1937, constatei que o nosso homenageado fez sucesso nas épocas citadas. Vou tentar reproduzir a matéria da “Carioca”.

“Foi um conjunto típico norte americano que revelou aos ouvintes do Brasil um brasileiro esplêndido intérprete das músicas da outra América: Ascendino Lisboa.

O Conjunto Yankee, ao qual devemos tal revelação, visitou, há alguns anos, o nosso país e era chefiado por Little Esther, aquela pretinha que era a alma de toda a Companhia e cuja publicidade que no Rio foi beneficiada por uma importantíssima interferência do Juiz de Menores, interessada pela sua pouca idade. Estará dançando em algum “cabaré” negro do negríssimo Harlem?

Mas o que interessa neste momento é a figura de Ascendino Lisboa. Ele foi, como dissemos, lançado pela ‘troupe’ de Little Esther. Naquela época o diretor conversou com Ascendino e, deliberadamente, fez o convite para participar do Conjunto. Ascendino concordou e durante quatro meses correu as capitais brasileiras cantando músicas americanas, sem destoar do Conjunto.

A turma ‘Yankee’ voltou para os Estados Unidos, mas Ascendino ficou e começou sua carreira radiofônica, em São Paulo, na Cruzeiro do Sul, onde esteve por muito tempo. Talvez tenha sido ele o primeiro artista brasileiro que se notabilizou cantando músicas americanas no idioma original.

Conhecendo suficientemente o inglês, fruto da sua convivência com o pessoal de Little Esther, possuidor de uma voz bonita e qualidades violonísticas bem razoáveis, Ascendino estava perfeitamente apto para vencer e venceu.

A Rádio Cruzeiro do Sul por muito tempo abrigou Ascendino Lisboa como figura de valor principal do seu ‘cast’. Depois ele inaugurou a Rádio Difusora de São Paulo, uma das boas transmissoras brasileiras.

Durante sua estada na Difusora, Ascendino teve a oportunidade de visitar os Estados do Sul, nas Embaixadas organizadas por Barreto, o homem que levou ao Paraná e ao Rio Grande os ‘ases’ do Rádio Carioca e Paulistano. Afinal a Rádio Tupy contratou Ascendino e ele repetiu, aqui no Rio, seus anteriores sucessos sulinos.

Durante sua carreira no ‘Broadcasting’ Ascendino gravou vários discos. Ultimamente ele ocupa o lugar de ‘crooner’ no Cassino Copacabana. O seu contato permanente com os artistas internacionais que constituem a atração artística dos grandes centros de diversões da cidade foi alvo do interesse dos empresários estrangeiros que observavam o seu estilo de cantar sambas e emboladas. Uma excelente oportunidade para satisfazer o público europeu, ansioso do exotismo da nossa Música Popular.

Antes de partir, Ascendino esteve em nossa redação expondo planos que pretende executar na Europa.

– Mas você deixará de lado as suas atividades de ‘crooner’?

– A Europa está cheia de gente que cantam as músicas americanas melhores do que eu. Ao passo que poucos serão os intérpretes de músicas brasileiras existentes por lá. Além de tudo será incrível que eu, filho da mais musicalmente típica das terras, saísse por aí cantando a música de outros países’”.

Agora vamos conhecer um pouco mais da trajetória musical de Ascendino Lisboa curtindo algumas de suas composições / interpretações. Espero que gostem!

Revista O Malho / Edição nº 157 / 1936


ASCENDINO LISBOA
*Rio Tinto (PB)
+23/06/1975


“Falta de consciência” (Ary Barroso) # Ascendino Lisboa. Disco Columbia (22.218-A) / Matriz (381487). Gravação (julho/1933).

“Quando a noite vem” (Ascendino Lisboa) # Ascendino Lisboa. Disco Columbia (22.300-B) / Matriz (3089).

“Zombando da vida” (Ary Barroso/Márcio Leme Azevedo) # Ascendino Lisboa e Orquestra Lino do Rio de Janeiro. Disco Columbia (22.018-B) / Matriz (381488). Lançamento (1933).

“Boi amarelinho” (Raul Torres) # Ascendino Lisboa/Raul Torres. Disco Victor (33.730-A) / Matriz (65869). Gravação (23/10/1933) / Lançamento (dezembro/1933).

“Minha linda Guanabara” (Antenógenes Silva/Ernani Campos) # Antenógenes [solo de acordeon] / Ascendino Lisboa [canto]. Disco Odeon (11.413-A) / Matriz (5411). Gravação (09/10/1936) / Lançamento (dezembro/1936).

“Boneca não tem coração” (Antenógenes Silva/Ernani Campos) # Antenógenes Silva [solo de acordeão] / Ascendino Lisboa [voz]. Disco Odeon (11.413-B) / Matriz (5412). Gravação (09/10/1936) / Lançamento (dezembro/1936).

“Só vinho de uva” (Ascendino Lisboa) # Ascendino Lisboa e Orquestra Columbia. Disco Columbia particular nº5 [encomenda da 1ª exposição Vitivinícola e frutos do Estado de São Paulo].

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Fontes:
– Arquivo Nirez – Liberação do fonograma: “Tapeação” (AQUI).
– Biblioteca Nacional Digital: Revistas: Fon Fon e Carioca.
– Dicionário Cravo Albin da MPB / Verbete: Ascendino Lisboa (AQUI).
– Montagem áudio SouldCloud: Laura Macedo.
– Vídeos YouTube / Canais: “Ao Chiado Brasil”, “luciano hortencio”, “Pedro Salomao”, “Moacyr Filho”, “Gilberto Inácio Gonçalves”.

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