Com forte acento nordestino a cantora mistura canções de jovens autores e regravações de Belchior, Gonzagão e Dominguinhos
A cantora paraibana comemora os 40 anos de carreira e anuncia turnê para fevereiro (foto: Alexandre Sant'Anna/divulgacao)
“Vamos pisar no chão!” É assim que Elba Ramalho abre a conversa com a reportagem do Estado de Minas. A frase não deixa de sintetizar o espírito do seu mais recente álbum, O ouro do pó da estrada, o 38º de seus 40 anos de carreira, disponível em todas as plataformas digitais. O disco físico chega às lojas em janeiro pela gravadora Deck. A terra, o Nordeste, o amor, as preocupações com o mundo estão presentes ao longo das 13 faixas do projeto que tem produção e arranjos de Yuri e Tostão Queiroga, também responsáveis por Qual o assunto que mais lhe interessa? (2007). “O repertório tem muita força e muito a ver comigo. Fala do chão, das raízes. Quanto mais regional a gente é, mais universal nos tornamos”, afirma a cantora.
A canção de abertura é a potente Calcanhar, de Yuri e Manuca Bandini, mescla suingue, rock, uma pitada de manguebeat e conta com texto incidental do poeta Bráulio Tavares. Foi a escolhida para o lançamento do videoclipe. “Ela já é uma pancada. Mostra a que veio”, diz. A cantora paraibana faz dueto com Ney Matogrosso em O girassol da caverna (do cantor, compositor e poeta pernambucano Lula Queiroga, tio de Yuri).
Em O mundo (André Abujamra), convidou as cantoras e amigas Maria Gadú, a conterrânea Lucy Alves e Roberta Sá. “As meninas são minhas parceiras. Roberta, então, é uma pessoa que adoro. Queria comemorar e fazer este disco com pessoas que admiro e estão na estrada comigo”, conta. Apesar de ser de 1995, a composição não deixa de ser um retrato dos tempos de hoje. (O mundo – caquinho de vidro/ tá cego do olho, tá surdo do ouvido/ O mundo tá muito doente/ O homem que mata, o homem que mente/ Todos somos filhos de Deus/ Só não falamos as mesmas línguas.) “É sim uma visão da realidade. Várias dessas músicas são atemporais e sobrevivem a todos os tempos e ocupam todos os espaços”, acredita.
Elba Ramalho mostra a obra de autores contemporâneos como Marcelo Jeneci e Chico César, em Oxente, José, de Siba, além do estreante no ramo, o ator George Sauma. É dele a delicada Se não tiver amor, abertura de Pais de primeira, seriado que protagoniza na Globo aos domingos. “Temos algumas revelações em termos de composição como o próprio George. Achei a música dele linda. E tem também Areia, do Juliano Holanda, que é um compositor de Pernambuco maravilhoso”, elogia.
Reggae A cantora incluiu regravações, que ganharam nova roupagem. Girassol, sucesso com o grupo Cidade Negra, se transformou em uma espécie de reggae. “Sou fã do Cidade, do Tony (Garrido), e queria que essa canção, que é tão linda, estivesse nesse disco. A música tem frescor.” Elba também resgata o cancioneiro de grandes nomes da música brasileira. Dominguinhos e Fausto Nilo, em Além da última estrela; Luiz Gonzaga e Nelson Valença, em O fole roncou; e Belchior, em Princesa do meu lugar.
Mesmo com tantas preciosidades, Elba optou pela faixa O ouro no pó da estrada, parceria de Yuri e Lula Queiroga, para batizar o projeto. “A música é, sem dúvida, umas das mais belas do disco. O Yuri Queiroga é um ‘menino’ de 30 anos que tem talento para produzir e para compor. Isso já vem de berço porque ele é filho do Mestre Spok e da Nena Queiroga, uma grande cantora de frevo. Ele e Tostão trabalharam muito bem a questão do ritmo e deu super certo com este álbum.”
Na canção que dá nome ao álbum, Elba canta: “Minha janela é o mundo”, “o trem da vida apitou chamando” ou “prometo que um dia eu volto, mas eu vou sozinho”, Para ela, os versos resumem de maneira poética a rotina dos artistas. “Fala muito da nossa relação com a arte. A nossa vida é na estrada e muito solitária, apesar de ter equipe, produção e, banda. E a gente sempre está indo para algum lugar como diz a composição, que é lindíssima”, diz. A própria capa – que tem direção de arte de Mana Bernardes – traz essa atmosfera de levantar a poeira e pôr o pé na estrada com Elba no meio de um caminho trajando um vestido em que, literalmente, carrega as músicas no corpo.
A cantora se diz extremamente feliz com o resultado final e afirma que o disco revela um Brasil que ela queria mostrar, de qualidade e com o pé no chão. “O ouro no pó da estrada tem muito da nossa cultura. Poder explorar isso foi maravilhoso. Tudo foi muito caprichado e te digo que cantar essas faixas não foi fácil. Mas ficou um trabalho primoroso e vamos com tudo para a turnê que começa em fevereiro, em São Paulo”, avisa.
Fonte: UAI
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