Um dos instrumentistas mais brilhantes do país, músico gaúcho lança Verão e Pantanal, registros de seu multifacetado talento
O gaúcho Nenê legitima a constatação de que o músico toca nada mais do que aquilo que ele é. O tempo o deixou mais enigmático, talvez menos pesado, e sua música tem sido também assim. Em outros tempos, Nenê tocava com mais explosão, mais volume, sem medo das toneladas do próprio braço, mas há discos em que ele busca nuances que o aproximam dos compositores eruditos, apostando na bateria que fala tanto quanto um instrumento de sopro ou de cordas. Quanto mais homens houver ali dentro, mais recursos o baterista terá.
Seja quantas forem suas facetas, o fato é que Nenê se tornou um dos maiores instrumentistas do Brasil. Seus 50 anos de baquetas são comemorados agora com dois álbuns. Em Verão, ele vem produzido pelo também baterista Carlos Ezequiel, que acaba de dar dignidade a outro obelisco das percussões, Airto Moreira, que fez pela primeira vez um álbum no Brasil depois de mais de 50 anos. Sua formação aqui é de trio, com Irio Jr. (piano) e Alberto Luccas (contrabaixo), e a ideia é fechar uma quadrilogia. Outono saiu em 2009 e Inverno em 2013. O próximo será Primavera.
JAZZ
Verão abre com o Nenê dos experimentos e do jazz. Sua música tem imagem e seu instrumento parece interferir na melodia, tamanho seu desprendimento do chão rítmico. A seguinte, Calunga, tem mais tensão, com o diálogo do trio, de novo, em alta intensidade A experiência que a música propõe é outra, de absorção, como um livro. Uma história está sempre sendo contada. Fraterna é outra criação que sai de uma cabeça fora do lugar comum. Um piano que parece brincar, como se estivesse criando a melodia ali mesmo. E Meu sábado cai sempre no domingo inicia por um solo. Nenê é da época em que os bateristas solavam.
O outro disco tem o nome de Pantanal, com a mesma produção de Carlos Ezequiel. Além de Nenê, estão nele Rodolfo Guilherme (trompete), Gustavo Benedetti (sax), Fabio Leandro (piano) e Jakson Silva (contrabaixo). A história aqui é outra.
Um grupo grande, com sopros, vem mais ironicamente quente que o verão. É agora uma música suingada que aparece em Pantanal. Calunga, do álbum anterior, é de novo mostrada; e seguem Tarde fria, Dark square, Choramingando. Mais melodias, belíssimas, até que outros temas de Verão são reapresentados em uma nova proposta. (Estadão Conteúdo)
QUARTETO NOVO
Nascido em 1947, Realcino Lima Filho começou a tocar profissionalmente aos 15 anos. Assim que Airto Moreira foi para os Estados Unidos, o gaúcho de Porto Alegre assumiu o lugar do colega catarinense no antológico Quarteto Novo. Ao lado de Elis Regina, gravou o disco e fez parte da temporada histórica de Falso brilhante. Mais tarde, Nenê cairia nos braços de Milton Nascimento para fazer shows de Geraes e gravar Clube da Esquina 2. Hermeto Pascoal foi outro companheiro de palco e de estúdio do gaúcho.
Fonte: Estado de Minas
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