domingo, 30 de outubro de 2016

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DA MPB

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Falar sobre Taiguara é, sem dúvida alguma, rememorar um dos mais talentosos artistas que já aportaram em terras brasileiras, pois em uma carreira de quase três décadas o músico que infelizmente faleceu bastante jovem deixou uma significativa obra e álbuns que entraram para a história de nossa música. Um músico controverso par ao regime existente ao longo de boa parte de sua carreira. O cantor e compositor teve músicas e discos censurados como foi o caso do álbum "Imyra Tayra Ipy", álbum de carreira, lançado pela EMI-Odeon em 1976 em LP, mas que foi banido do mercado fonográfico brasileiro pela censura apenas 72 horas depois de seu lançamento, durante a ditadura militar no Brasil. Composto por 14 faixas, o disco só apresenta uma canção não assinada por Taiguara ( trata-se de "Três pontas", de autoria de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos). Hoje não me estenderei acerca da biografia do saudoso artista, mas a ocasião suscita lembrar que Taiguara foi um dos artistas da música popular brasileira mais perseguido pela censura durante boa parte de sua carreira e talvez esse fator tenha corroborado substancialmente para gerar a mítica história que envolve este disco que viria a seu último lançado ao longo da década de 1970. Vale o registro que "Imyra Tayra Ipy" não foi o primeiro disco do artista uruguaio a ser proibido no Brasil. Um ano antes, após um período de cerca de dois anos em auto-exílio na Europa, Taiguara que havia gravado o álbum "Let the children hear the music" em Londres, viu este projeto fonográfico totalmente censurado pelo Regime Militar brasileiro. Com apenas as faixas "Porto de Vitória" e "Terra das Palmeiras" em português (o álbum tinha 90% de suas letras em inglês), Taiguara usou de sua criatividade para ir de encontro à Ditadura Militar.

Nesse período em Londres, Taiguara aprofundou-se em teorias musicais, dedicou-se com afinco nos estudos de composição e arranjos no Ghildhall School of Music e chegou a tocar com a orquestra sinfônica de Londres. Longe do seu torrão natal, a saudade o proporcionou não apenas ter uma visão do Brasil com maior clareza, mas também p fez aproximar-se de um estilo de composição exaltação, onde chegou a compor canções que falavam da saudade de sua terra, o sofrimento de seu povo e a opressão do governo durante esta época. "Let the children hear the music" denunciava as atrocidades cometidas em toda a América Latina e para poder driblar a censura usava pseudônimos na autoria de algumas faixas e o nome de sua esposa na época, Gheisa Chalar da Silva como autora de três canções: Terra das Palmeiras, Situação e Público. "Imyra Tayra Ipy" (nome dado em homenagem a seus filhos) traz muito em seu bojo muito dessa característica que rege o disco anterior. A ficha técnica do álbum citado consta com alguns dos maiores nomes da música instrumental brasileira de todos os tempos tal qual Wagner Tiso, Toninho Horta, Novelli, Jacques Morelembaun, Nivaldo Ornelas, Mauro Senise, Raul Mascarenhas, Ubirajara Silva e Hermeto Pascoal. Reza a lenda que um dos técnicos de som da EMI, chamado Nivaldo, responsável pela mixagem do disco, quase enlouqueceu na mesa de edição com o Taiguara e o Hermeto querendo ouvir todos os detalhes milhões de vezes. Devido a tamanho stress, assim que terminou a edição do disco o pobre do técnico teve que se internar em uma clínica para tratar-se de uma crise nervosa. A filha do cantor, instrumentista e compositor, anos depois, definiria o disco como uma espécie de Guernica Latino Americana. A quem não se recorda, Guernica é um painel pintado por Pablo Picasso em 1937 por ocasião da Exposição Internacional de Paris e que busca retratar o bombardeio sofrido pela cidade espanhola de Guernica em 26 de abril de 1937 por aviões alemães, apoiando o ditador Francisco Franco. Além do disco apreendido, o pretenso show de lançamento do mesmo também não foi permitido pelos militares. Marcado para o 1º de Maio de 1976, nas ruínas das Missões no Rio Grande do sul, o espetáculo  foi cancelado apenas 24 horas antes de sua estreia. Banido do mercado brasileiro, o álbum teve os seus direitos comprados por produtores japoneses que lançaram na terra do sol nascente em 1980, só vindo a ser lançado no Brasil mais de três décadas depois da edição japonesa.

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