'Dois por dois' traz a música dos compositores Luiz Millan e Moacyr Zwarg
Por Kiko Ferreira
A origem está nas sessões que os autores fazem, aos sábados, para “conversar sobre música, sobre a vida, para jogar conversa fora, para ouvir o trabalho dos compositores e intérpretes que admiramos e, principalmente, para compor”, na descrição de Millan.
Já os veteranos Teco e Michel se conhecem desde os 14/15 anos, quando eram alunos da escola do Zimbo Trio, Clam, e guardam na memória afetiva a primeira visita que o pianista fez à casa do flautista, por sugestão do baixista Chico Valente, com destaque para as músicas que a mãe de Cardoso, a pianista Norma Guerreiro Cardoso, mostrou ao jovem instrumentista.
Mais tarde, eles formaram um dos mais interessantes grupos instrumentais dos anos 1980, o Zonazul, e não deixaram de se encontrar desde então.
O CD conta, ainda, com participação da cantora Anna Setton, que, então grávida de nove meses, canta a única melodia com letra, Janeiro de 1976.
Os versos sintomáticos e nostálgicos de Millan partem de uma foto desbotada e fazem referência a Drummond, Simone de Beauvoir e Beatles. Mais especificamente, da música Let it be, ouvida numa vitrola.
Gravado em três dias de novembro do ano passado (um para Janeiro de 1976 e dois para as outras 13 músicas), o álbum tem um clima de intimidade que remete mais a encontros como o da gaita de Toots Thielemans com o piano de Bill Evans (Affinity) do que àqueles duetos que soam como duelos e desafios, tipo o Samambaia, de Hélio Delmiro e Cesar Camargo Mariano.
A autêntica ação entre amigos sugere uma música popular de câmara. Tem samba (Quem sabe..., O passar das horas), baião (Dois por dois), frevo (Frevo pra Léa, feito para homenagear a flautista Léa Freire) e misturas rítmicas que remetem a influências de jazz, bossa nova, choro e música erudita, aqui e ali lembrando Jobim, Edu Lobo e Chico Buarque. Enfim, música inspirada e erguida em encontros sólidos e férteis.
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