sábado, 7 de novembro de 2015

PÚBLICO DE SHOWS DIMINUI EM PORTO ALEGRE

Alta do dólar, inflação crescente e preços de ingressos turbinados na carona da lei da meia-entrada estão obrigando o espectador a ser mais seletivo na hora de escolher em que shows vai (ou não) investir seu dinheiro

Por Gustavo Brigatti



Quando Jimmy London subir ao palco do Opinião, neste domingo, ele não verá o mesmo mar de camisetas pretas a que está habituado. Há um ano, sua banda, o Matanza, arrastou cerca de 1,4 mil pessoas ao local. Pelas contas da Abstratti, produtora do show, o vocalista não deverá cantar para tanta gente de novo.

Reflexo da crise econômica que atingiu em cheio o setor cultural em 2015, a diminuição de público em shows é visível. Artistas que antes costumavam encher com facilidade as casas de espetáculo da Capital hoje precisam cortar um dobrado.

Vínhamos em uma onda crescente, mas estimo uma queda de público de uns 40% de uns meses pra cá – avalia Carlos Konrath, diretor da Opus.

Como exemplo, Konrath cita o show conjunto dos sertanejos Paula Fernandese Daniel, no último domingo no Araújo Vianna. Segundo ele, um espetáculo de apelo tão popular deveria ter tido seus ingressos esgotados com antecedência – ao invés disso, o comparecimento do público foi apenas satisfatório.

Para além da crise, Konrath aponta o aumento dos preços, adotado pelas produtoras após a implementação da lei da meia-entrada, como responsável por parte da debandada de público:

– Veja o Lulu Santos. No ano passado, ele esgotou ingressos para duas noites. Neste ano, depois de esgotar a primeira, a segunda noite ficou aquém do esperado justamente porque pegou o início da lei da meia-entrada.

Para o produtor Ricardo Finocchiaro, da Abstratti, a meia-entrada tem impacto até psicológico. Em um período de vacas magras, um show cujo ingresso custa R$ 200 é descartado sem pestanejar, mesmo que existam alternativas.

– Oferecemos lotes promocionais, que ficam entre o valor da meia-entrada e o valor inteiro, para quem fizer doações que variam de acordo com o show – exemplifica Finocchiaro. 

– Mas, mesmo assim, quando a pessoa vê o preço do ingresso integral, se assusta e pode desistir de ir ao show.


Calendário de shows deve ser mais enxuto em 2016

Na página do Facebook de ZH, uma enquete perguntou aos internautas se eles reduziram a frequência com que vão a shows por conta do preço dos ingressos. A esmagadora maioria foi ao encontro do pensamento de Finocchiaro. "O preço dos shows para casal ficaram proibitivos. Até o velho cineminha já está sendo racionado por conta dos altos preços", escreveu a leitora Ana Claudia Oliveira Damé.

Claudio Fávero, sócio-proprietário do Opinião, acredita que quem sofre mais são os shows de artistas que costumam vir com frequência ao Estado: o público estaria mais seletivo, preferindo apostar ou em espetáculos de maior porte ou em atrações cultuadas.

– Neste ano, tivemos sold out no Slash, na Pitty e lotação quase total nas duas noites do Criolo – exemplifica.

Mas, com exceção de atrações internacionais conhecidas e medalhões nacionais (leia ao lado), a tendência é que o calendário de 2016 seja bem magro, na avaliação de Carlos Konrath:

– Estávamos indo bem na rota dos grandes espetáculos, mas agora vai ser complicado. Com dólar em alta e lei de meia-entrada, é bem provável que a gente saia desse roteiro.


Os que estão a perigo

Crise econômica, dólar alto e a subida de preços na carona da lei de meia-entrada estão complicando a vida de shows de pequeno e médio porte. Apresentações de artistas pouco conhecidos ou de nicho são os que mais sofrem, como é o caso dos irmãos Max e Iggor Cavalera. Sua banda, o Cavalera Conspiracy, colocou 900 pessoas no Opinião no final de 2014 – o dobro do que conseguiu em maio deste ano, quando veio apresentar um novo disco de músicas inéditas.

– Poucas bandas internacionais conseguem manter ou aumentar seu público em Porto Alegre – diz Ricardo Finocchiaro, da Abstratti, responsável pela vinda dos Cavalera.

Ele aponta que a mesma queda ocorreu com bandas como Epica (que tocou para 1,2 mil pessoas em 2012 e reuniu 900 neste ano) e deve ocorrer com Zakk Wylde. Finocchiaro espera juntar 800 pessoas para o show solo do músico, previsto para 23 de agosto – em 2012, com o Black Label Society, 1,3 mil pessoas compareceram ao evento.


Os garantidos

Artistas brasileiros com público cativo e atrações gringas de grande porte são duas categorias que parecem à prova de crise. 

Mesmo em um contexto de crise econômica, cantores como Nando Reis, por exemplo, seguem esgotando ingressos com meses de antecedência. Há anos que espetáculos do ex-Titãs são sinônimo de casa cheia – em 2013 foram quatro noites sold out. Para seu próximo show, em outubro, já não há entradas de 1º lote. O rapper Criolo também não pode reclamar: fez três shows na Capital em um intervalo de seis meses, sempre com casa cheia. 

O mesmo vale para artistas internacionais populares – e cujo retorno ao Rio Grande do Sul é incerto. Neste ano, Foo Fighters e Backstreet Boys não tiveram dificuldades para arrastar multidões em suas estreias na capital gaúcha.Slash, tocando novamente em Porto Alegre, também não fez feio e lotou o Pepsi On Stage em março.

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