sexta-feira, 6 de novembro de 2015

ANTÔNIO MARCOS, 70 ANOS

Foram lançadas duas caixas com quatro discos cada com todos os álbuns e compactos gravados pelo cantor romântico paulista entre 1967 e 1976

Por José Teles e Juarez Fonseca


Auge da carreira de Antonio Marcos é registrado em CD pela primeira vez Agencia RBS/Agencia RBS

"Dizem que louco sou/e que não vou muito tempo durar/que já não sei onde vou/e fico o meu tempo a chorar", os versos são de Dizem que sou louco, faixa que fecha o segundo álbum de Antonio Marcos, lançado em 1970. Ele durou bem mais tempo do que o seu modo de vida levava a crer. Morreu em 5 de abril de 1992, de problemas hepáticos. Antonio Marcos Pensamento da Silva (1945, São Miguel Paulista, SP) é um capítulo à parte na história da Jovem Guarda, e do pop romântico à italiana, trilhado pela maioria dos artistas surgidos na onda do iê iê iê. Um capítulo que estava cada vez mais esquecido e que, oportunamente, o selo carioca Discobertas traz à tona, reeditando, no ano em que Antonio Marcos completaria 70 anos, os álbuns que gravou entre 1967 e 1976, grosso modo, a parte mais importante de sua discografia, na antiga RCA-­Victor, pela qual lançou quase toda sua obra.

São duas caixas, com quatro CDs cada. O vol.1 vai de 1967 a 1972, enquanto o vol.2 de 1973 a 1976. Ressaltando­se que o primeiro álbum solo de Antonio Marcos é de 1969. Sua carreira começou em plena Jovem Guarda, com Os Iguais, sem grande sucesso pela mesma RCA. Os quatro primeiros álbuns de Antonio Marcos têm o nome dele por título. Assim como nos títulos, mostra forte influência de Roberto Carlos, que lhe forneceu o primeiro sucesso nacional, em 1968, Tenho um amor melhor do que o seu. Neste mesmo ano ele retribuiu ao Rei, que gravou E não vou deixar mais você tão só, no LP O inimitável. Roberto Carlos gravaria mais duas canções de Antônio Marcos, Como vai você (em 1972), e Aventuras (1987).

Assim como uma legião de cantores da época Antonio Marcos espelhava­se em Roberto Carlos. Ao contrário da grande maioria, tinha seu próprio estilo, sua temática, e atitude. Era diferente, o que já transparece na adolescência, nos Iguais, que gravou em ritmo de iê iê iê, O romance de uma caveira, moda sertaneja de humor negro, da dupla Alvarenga e Ranchinho (em parceria com Francisco Sales). Baladeiro romântico com jeito de roqueiro. Os cabelos escorridos e longos, barba longa, canções lentas e letras mais apropriadas a blues. Raramente suas músicas têm letras pra cima. Seu álbum menos cinzento é o primeiro, que só traz uma faixa assinada por ele (nesta reedição com seis faixas extras, duas delas com os Iguais).

O disco seguinte (1971) é quase todo autoral, assim como o terceiro, 8­1­45 (data de seu aniversário), de capa meio psicodélica. Aos 26 anos, então casado com a cantora Vanusa (que canta na faixa Namorada, concorrente ao V Festival da Música Popular, 1970). O galã deixou crescer a barba (que estará presente em capas de discos até o álbum Ele, de 1975). Nas letras, ele é um Lupicínio Rodrigues ao contrário, que em vez de vingança, autoflagela­se nas letras: "O meu corpo já cansou/minha vida envelheceu/mas não cansa o coração/que jamais te esqueceu".


Auge da carreira de Antonio Marcos é registrado em CD pela primeira vez

O intérprete, que também era compositor, morreu aos 47 anos, em 1992. Viveu seu auge entre as décadas de 1960 e 70Foto: Agencia RBS / Agencia RBS

No próximo dia 8 de novembro, Antonio Marcos completaria 70 anos. Antecipando-se à data, o selo Discobertas, do pesquisador e produtor fonográfico carioca Marcelo Fróes, lançou duas caixas com quatro discos cada, trazendo aos antigos fãs e aos colecionadores, pela primeira vez em CD, todos os álbuns e compactos gravados pelo cantor romântico paulista entre 1967 e 1976.

A receptividade que estão tendo as caixas, informa Fróes, é uma prova de que Antonio Marcos não foi esquecido. Nascido em uma família de classe média baixa, fez muito sucesso, alimentou as revistas de fofocas e celebridades com uma vida amorosa agitada e comportamento desregrado pelo uso de álcool e drogas, morrendo aos 47 anos, em 1992. Com tantas biografias e documentários biográficos produzidos ultimamente no Brasil, é curioso que ele ainda não tenha sido lembrado.



Além de cantor bem acima da média, Antonio Marcos era bom compositor e tinha o perfil de galã. Depois do primeiro sucesso, em 1968, com Tenho um Amor Melhor que o Seu, de Roberto Carlos, fez teatro político atuando na peça Arena Conta Zumbi (1969) e esteve no elenco de Hair (1970). Também atuou no cinema e em telenovelas. Participou da era dos festivais, foi o melhor intérprete no 5º Festival da MPB, da TV Record.

Na vida amorosa, a primeira namorada foi Martinha, cantora da Jovem Guarda que, recentemente, declarou ter sido ele "o grande amor da minha vida". Depois, casou com a cantora Vanusa, em seguida com a atriz Débora Duarte e finalmente com Ana Paula, enteada de Roberto Carlos. Teve cinco filhos, entre eles a atriz Paloma Duarte e a cantora Aretha (que estrelou vários musicais infantis da Globo).

Enfileiro tudo isso para enfatizar que o cara mandou ver, não era qualquer um. Os oito discos, lançados originalmente pela RCA, são a trilha sonora da trajetória dele. O primeiro, de 1969, é ainda bem ligado à estética da Jovem Guarda, que vivia seus dias finais. Depois, contando com bons arranjadores, Antonio Marcos passa a definir uma linguagem própria, sempre romântica mas com variantes como seu maior sucesso, O Homem de Nazareth (Claudio Fontana), e como a contundente Mensagem de um Planeta Perdido (Taiguara). Cerca de metade das canções é assinada por ele e parceiros; as outras, por autores como Luís Vieira, Isolda, Sílvio Brito, Peninha, Sérgio Reis, Tom Gomes/Luís Vagner e Belchior (Todo Sujo de Batom). Ouvidos hoje, a uma distância de 40 anos, os álbuns revelam grande coerência.

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