domingo, 4 de outubro de 2015

A VIA-CRÚCIS DO CANTO LÍRICO EM PERNAMBUCO

Três séculos após a chegada das primeiras operetas ao estado, são inúmeras as queixas dos artistas. 


Por Luiza Maia 




Numa época na qual não existia energia elétrica, no século 17, o canto lírico floresceu, junto à ópera. Sem os recursos de hoje, os artistas da voz disputavam com potentes instrumentos musicais para ocupar o espaço das casas de apresentação. Séculos depois, os esforços dos cantores eruditos ainda angariam adeptos e fãs, embora sejam pouco populares na comparação a outros campos artísticos.

No último dia dedicado aos cantores líricos houve pouco a comemorar. Três séculos após a chegada das primeiras operetas ao estado, são inúmeras as queixas dos artistas. "Recife possui um manancial de cantores subaproveitados pela ausência de um trabalho constante, como coro sinfônico e/ou de ópera, estatal", reclama Luiz Kleber Queiroz, responsável pela mais recente montagem do estado, O pescador e sua alma, e professor da UFPE, onde cerca de 25 alunos se dedicam à licenciatura e ao bacharelado de canto. Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina têm grupos incentivados por iniciativas públicas.

Um dos empecilhos para a popularização é o tempo de estudo. "O canto lírico exige quatro anos até que o aluno se apresente, ganhe dinheiro", explica Elizete Felix, professora do Conservatório Pernambucano de Música. Cursos, como o Opera Studio, gratuito e hoje na quarta edição, são procurados pelos que buscam aprimoramento. 

A falta de conhecimento sobre a existência do canto lírico atrapalha. "Eu estudava clarinete e um colega me convidou. Quando vi canto na lista, me interessei. Descobri que era lírico", recorda e estudante de bacharelado em canto pela UFPE, Kellyta Martins, 27. Ela começou a estudar há cinco anos, na Escola Municipal de Arte João Pernambuco, onde apenas dez alunos escolheram a voz como instrumento. Violão, o preferido, tem 200 estudantes, de 1,6 mil ao total. Na escola Minami, o canto popular é 80% mais procurado que o lírico, diz o professor Ciel Santos. 

O mercado local não é convidativo, mas dá sinais de melhora. Em 2008, a ópera ganhou categoria no Funcultura, principal edital estadual de fomento às artes. "Existem locais de formação, mas não grupos como o Coro do Theatro Municipal do Rio ou de São Paulo. A saída é cantar em casamentos ou outros eventos", diz Jefferson Bento, da Core, responsável pela movimentação recente da cena, com a montagem, em 2004, de O elixir do amor. Os figurinos foram bancados pelos artistas e só os instrumentistas receberam cachês. Em 2015, Bodas de Fígaro foi apoiada pela Fundarpe. Já são três as montagens deste ano, contra apenas uma há 10 anos.

- E o que é um cantor lírico?

O cantor lírico é treinado para cantar sem microfone, ao contrário do popular, através do reforço da musculatura e das técnicas de respiração. Com forcinha da tecnologia, os grupos se apresentam em locais abertos, como o Parque Dona Lindu, palco para Cavalleria rusticana, encenada pela Orquestra Sinfônica do Recife e Companhia de Ópera do Recife (Core). Eles também les se dedicam a operetas e canções eruditas. Aulas são indicadas para mulheres com mais de 16 anos e homens acima de 18, por conta da formação vocal. Heitor Villa-Lobos e Chiquinha Gonzaga são compositores brasileiros. As chansons francesas e as lieder alemãs povoam os repertórios. Pelo timbre e pela extensão vocal, os cantores são soprano, mezzosoprano e contralto (mulheres) e tenor, barítono e baixo (homens). 


- Guia de onde estudar

Conservatório Pernambucano de Música (Av. João de Barros, 594, Santo Amaro) - A seleção é feita por editais, lançados no site no fim do semestre. O local oferece cursos regulares e técnicos. A mensalidade custa R$ 40. Informações: 3183-3400.

Universidade Federal de Pernambuco - As inscrições para cursos de extensão podem ser feitas em agosto, no Departamento de Música. O Coro Universitário, regido pelo professor Flávio Medeiros, é aberto ao público. Há ainda o OPUS2 e Contracantos, para avançados.

Escola Municipal de Arte João Pernambuco (Rua Barão de Muribeca, 116, Várzea) - Não há seleção, teste ou sorteio. As inscrições terminam hoje. Informações: 3355-4093.

Minami (Rua Carlos Porto Carreiro, 159, Derby) - O curso dura três anos. Não há seleção. A matrícula custa R$ 80 e as mensalidades, R$ 180. Informações: 3032-1070.

Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil (Rua Padre Inglês, 243, Boa Vista) - As inscrições são semestrais e exclusivas para quem concluiu o segundo grau. Informações: 3366-3277.

Centro de Educação Musical de Olinda (Av. Pan Nordestina, Olinda) - As inscrições ocorrem em janeiro e julho (encerradas). As mensalidades custam R$ 40, mas são gratuitas para alunos da rede municipal. Informações: 3241-5065.

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