segunda-feira, 5 de outubro de 2015

DJ DOLORES: "O CONCEITO DE MÚSICA REGIONAL DEVERIA TER ACABADO"

Músico vem apresentando o projeto Banda Sonora ao lado de Spok e Yuri Queiroga


Por Marina Simões 



"DJ é o cara que traz música nova para as pessoas. Não é só aquele que toca tuntz-tuntz e faz o público levantar o braço. A melhor parte de ser DJ é educar musicalmente, é ser contrabandista de música, estilos e vertentes", afirma o pernambucano Hélder Aragão, conhecido como DJ Dolores. O compositor vem apresentado o projeto DJ Dolores: Banda Sonora, onde divide o palco com Isaar, Júnior Black e Yuri Queiroga. "A ideia foi colocar o frevo em um ambiente totalmente contemporâneo. Vai ser a primeira vez em Pernambuco", explicou. 

A estreia deste projeto ocorreu no Palco Rec Beat, durante o carnaval do Recife. "As pessoas não consomem trilha sonora. Esse é um trabalho que corre completamente contra a ideia de hit. É justamente um show que é um lado B inteiro", explica Dolores. O disco Banda sonora (2013) registra o trabalho de Dolores para o cinema. O lançamento foi em 2014 com turnê na Europa.

No palco, as músicas vão da cumbia ao rock, à música eletrônica pura. É uma compilação de canções para trilha sonora de filmes, em especial, filmes pernambucanos. "Talvez a cena de cinema atual seja muito mais forte hoje em dia e equivalente ao manguebeat daquela época". 

As faixas são intercaladas com projeções de cenas, que inclui a polêmicaPolka do cu, do premiado filme Tatuagem, de Hilton Lacerda, e ainda canções dos longas Som ao redor, de Kleber Mendonça Filho, Amor, plástico, e barulho, de Renata Pinheiro e A máquina, de João Falcão.

Em entrevista ao Viver, Dolores também falou como começou a relação com o Festival de Inverno de Inverno de Garanhuns."Eu inaugurei a tenda eletrônica cara. Lembro que no primeiro ano a gente fez seis horas seguidas. Começou à meia-noite e só terminou às 6h da manhã. Comecei mixando sozinho, depois com outro DJ da minha banda e na sequência foi o show de Santa Marsa, a banda na época. E quando acabou o show, voltamos a mixar. E a gente só parou porque a equipe estava cansada e precisava ir embora. Mas a plateia estava lotado e bombando. É uma grande lembrança".

Ele também explica que não existem fronteiras quando se trata de música pernambucana e critica o termo 'música regional'. "Comecei a viajar para o exterior nunca época que ainda existia gravadora. Durante esse tempo muitos parâmetros mudaram. A ideia de música pernambucana não é mais tão importante hoje em dia. Não tem mais a ver a ideia restrita de música pernambucana. Esse sentimento geográfico não existe", observa. 

"O conceito de música regional deveria ter acabado há muito tempo. Isso é algo criado pelo Sudeste. Música regional pra mim é Racionais MCs. Já Maciel Salu, pra mim, é música pop", compara. "Não acredito muito nessa particularidade do som pernambucano. O que é uma coisa boa, pois a gente está falando de gêneros musicais, muito mais do que a ideia de bairrismo e regionalismo, que são males terríveis para a humanidade".

Ele relembra uma história que viveu com Chico Science no início do movimento manguebeat. "Quando Chico foi assinar com a Nação Zumbi, chegou um executivo da Sony, que era um cara de fazer dinheiro. Lembro que estávamos todos juntos e ele perguntou como era a batida do manguebeat. Dissemos que não tem batida. A Nação Zumbi é uma coisa, Mundo Livre é outra, mestre Ambrósio, outra. O manguebeat é um conceito que abriga várias formas de expressão e por isso foi tão forte. Vendia uma cena e a música feita no Recife. Essa cena hoje não existe mais, por vários fatores".

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