Em mais de cinco décadas de estrada o cantor e compositor teve a sua carreira pontuada por antológicas interpretações dentro dos mais variados gêneros brasileiros e em especial o samba
Por Bruno Negromonte
Por Bruno Negromonte
Uma das características principais que regem o povo brasileiro é sem sombra de dúvidas a alegria. Adjetivo este que muitas vezes é perceptível nas mais singelas atitudes e quase sempre deixa-se expressar no cerne do nosso cotidiano principalmente através de nossas manifestações artístico-culturais. Ao analisarmos este contexto perceberemos que o samba assume importantíssimo papel na expressão mais bairrista e genuína dessa alegria podendo inclusive elencarmos alguns nomes como verdadeiros representantes do gênero como é o caso deste artista nascido no interior de São Paulo em 1939. Mesmo perpassando por outros diversos gêneros musicais ao longo de sua extensa carreira, Jair Rodrigues encontrou no samba o porto seguro para a sua contagiante e pueril alegria tornando-se, ao longo dos seus mais de meia década de carreira, um dos maiores representantes deste gênero que melhor representa o nosso país. Popularmente conhecido como intérpretes de antológicos sambas, Jair passou a ser porta-estandarte do gênero já a partir dos seus primeiros registros fonográficos como é perceptível nos títulos lançados em 1964 pela Philips: "Vou de samba com você" e "O samba como ele é", que apesar de trazer um intérprete em início de carreira já é capaz de demostrar um grande potencial que viria a se revelar ao longo dos anos posteriores. À época o samba estava em alta. Vem deste período diversos lançamento fonográficos tendo o termo samba como título assim como os álbuns de Jair. Enumerando alguns, só em 1964, traria como exemplo LP's como o da conceituada intérprete Elza Soares (com Na Roda do Samba), o do promissor Jorge Ben (com Sacundin Ben samba e Ben é samba bom), o da gaúcha recém chegada a São Paulo Elis Regina (com Samba eu Canto Assim) e o do já ascendente Wilson Simonal (com A Nova Dimensão do Samba). Essa enxurrada de discos sobre a mesma temática já seria motivo mais que suficiente para que o brilho do artista igarapavense acabasse sendo de algum modo ofuscado, no entanto o que aconteceu foi justamente o inverso. Neste mesmo ano, através da TV Excelsior do Rio canal 2, Jair Rodrigues estreou ao lado de Elis Regina o programa "Dois na Bossa", que acabou gerando a gravação de uma série de três LP's ao vivo e que foi de fundamental importância para a carreira do artista. Soma-se a isso o estrondoso sucesso da canção Disparada (composta em 1966 pela dupla Geraldo Vandré e Theo de Barros) que após ser visceralmente defendida por Jair no II Festival da Música Popular Brasileira tornou-se imprescindível em seu set-list. Sem contar também que o artista acabou tornando-se o primeiro rapper brasileiro ao gravar a canção "Deixa isso pra lá" (de autoria de Alberto Paz e Edson Menezes), canção esta que foi levada primeiro ao cantor Wilson Simonal, que recusando-a por não ter se agrado com ela possibilitou a Jair gravar aquela que viria a ser o seu maior sucesso. É por acontecimentos como estes que a década de 1960 acabou tornando-se talvez a mais expressiva dentro dos cinquenta anos de carreira de Jair Rodrigues. De cunho rural, Disparada trouxe a possibilidade de Jair Rodrigues mostrar que suas vigorosas interpretações não restringia-se a apenas um gênero, ampliando a visibilidade do seu canto e oportunizando a a aglutinação de outros ritmos à sua carreira artística como é perceptível a partir de álbuns como "Carinhoso" (1983), "De Todas as Bossas" (1998), "Antologia da Seresta" (lançados em dois volumes nos anos de 1979 e 1981) entre outros títulos que acabaram tornando-se responsáveis por possibilitar o afloramento de uma latente sensibilidade presente por trás dos reluzentes sambas. É possível perceber-se tais características em antológicas interpretações como a presente no álbum "Jair Rodrigues" de 1985, onde ao interpretar a faixa "A majestade, o sabiá", revela a até então desconhecida compositora Roberta Miranda assim como também o tema de abertura do folhetim "Irmãos Coragem". Escrita por Janete Clair a composição de Nonato Buzar e Paulinho Tapajós com título homônimo a novela entrou nos lares de milhares de brasileiros todas as noites durante pouco mais de um ano gerando a possibilidade de Jair comprovar a sua versatilidade. No entanto é preciso ressaltar que o Cachorrão (como era conhecido Jair no meio artístico) nunca deixou o gênero que o consagrou de lado como se é possível perceber ao longo de toda a sua carreira. Discos como "Festa para um rei negro" (1971), "Viva meu samba" (1994), "Estou Com o Samba e Não Abro" (1977), "Orgulho de um sambista" (1973), "Eu Sou o Samba" (1975), "Jair de todos os sambas" (lançados em dois volumes ainda na década de 1960) e "Samba mesmo" (álbum que seria seu último registro em disco lançado em dois volumes neste ano de 2014 em comemoração aos 50 anos de carreira fonográfica e aos 75 anos de idade) são provas documentais disto. Responsável por disparar Jair definitivamente para o hall dos grandes intérpretes de nossa música, o samba acabou tornando-se o elo mais vigoroso do canto do artista com as raízes musicais brasileiras permitindo a Jair deixar como legado, além das antológicas interpretações e dois talentosíssimos filhos, um eterno sorriso que iluminará por muitos e muitos anos a memória daqueles que assim como eu, além de ser apaixonado por samba, buscam a alegria como dom.
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