Por Leandro Souto Maior
Rio - Ary Barroso (1903-1964) foi mesmo um cara genial. Entretanto, até hoje pipocam gaiatos classificando o verso “esse coqueiro que dá coco”, de ‘Aquarela do Brasil’, a mais conhecida canção do compositor, radialista, locutor esportivo (flamenguista doente), jornalista e vereador (ufa, o cara fez de tudo um pouco!), como o pior da música brasileira. “O próprio Ary achava isso”, assume, às gargalhadas, o ator Diogo Vilela. “O cunhado dele ficava criticando essa parte da música, mas ele não quis mudar. Dizia que a redundância era uma licença poética”.
Ao longo deste ano de 2013, Vilela encarna Ary Barroso como protagonista em ‘Do Princípio Ao Fim’, assina a direção e (pela primeira vez na carreira) o texto da peça, com a supervisão artística de Amir Haddad. O espetáculo está em cartaz até 31 de março no Teatro Carlos Gomes, na Praça Tiradentes. Foi lá que, nos anos 20, Ary trabalhou como pianista. O compositor, que era mineiro, se encantou pelo Rio e daqui nunca mais saiu. No rastro desse ícone, preparamos um nostálgico roteiro por seus lugares preferidos.
“Na peça, ele está no leito de morte e confronta sua obra no final da vida, fazendo ajustes de contas com várias das personagens de sua época, como Lamartine Babo, Aracy Cortes e Carmem Miranda”, descreve Diogo Vilela.
Não está em ‘Do princípio Ao Fim’, porém, a histórica treta que Ary teve com a ainda iniciante Elza Soares — quando ela foi se apresentar no programa dele, o mineiro perguntou: “De que planeta você veio?”. Ao que Elza, com 16 anos, rebateu: “Do planeta fome”. “O Ary era vaidoso e arrogante, e tudo sobre esse lado de seu temperamento eu levei para o palco. Ele era um crítico severo, e achava que tinha que ser assim, que desta forma contribuiria para elevar o nível da música brasileira”, conta Vilela.
Mas diversas outras passagens marcantes estão lá, como a aposta curiosa com o tricolor Haroldo Barbosa, no Fla-Flu de 1955, quando o Rubro-Negro perdeu e Ary foi obrigado a raspar o bigode (símbolo de elegância na época) que usava havia 30 anos. “Eu sou Flamengo, mas alguns atores do elenco que não são sofrem quando têm que cantar o hino na peça. Eu digo: ‘gente, segura a onda e tudo pelo Ary!’”, diverte-se.
Em cena com Diogo Vilela, estão nomes como Tânia Alves (que interpreta a mulher de Ary Barroso, Yvonne) e os cantores Marcos Sacramento e Mariana Baltar. Estes dois últimos integram uma recente geração de sambistas que despontaram na revitalização da Lapa. “Tem muita gente jovem que se identifica com esse resgate histórico, embora um nome como Ary Barroso ainda seja mais valorizado entre a classe dos músicos. Por isso seu talento precisa ser reafirmado. Tem gente que até hoje acha que ‘Rancho Fundo’ é uma canção do Chitãozinho e Xororó e não é, é uma parceria do Ary com o Lamartine Babo”, ensina.
Para montar o espetáculo, o ator fez um sério trabalho de pesquisa, e mostra que está afiado sobre o assunto. Voltando à ‘Aquarela do Brasil’, Diogo Vilela esclarece de pronto as dúvidas do repórter sobre palavras usadas pelo autor no célebre samba-exaltação das nossas belezas naturais, como ‘mulato inzoneiro’, ‘merencória luz da lua’ e ‘morena sestrosa’. “Inzoneiro é manemolente, merencória é melancólico, e sestrosa é manhosa. Ele gostava de usar essas palavras pouco usuais”, explica.
Ao longo deste ano de 2013, Vilela encarna Ary Barroso como protagonista em ‘Do Princípio Ao Fim’, assina a direção e (pela primeira vez na carreira) o texto da peça, com a supervisão artística de Amir Haddad. O espetáculo está em cartaz até 31 de março no Teatro Carlos Gomes, na Praça Tiradentes. Foi lá que, nos anos 20, Ary trabalhou como pianista. O compositor, que era mineiro, se encantou pelo Rio e daqui nunca mais saiu. No rastro desse ícone, preparamos um nostálgico roteiro por seus lugares preferidos.
“Na peça, ele está no leito de morte e confronta sua obra no final da vida, fazendo ajustes de contas com várias das personagens de sua época, como Lamartine Babo, Aracy Cortes e Carmem Miranda”, descreve Diogo Vilela.
Não está em ‘Do princípio Ao Fim’, porém, a histórica treta que Ary teve com a ainda iniciante Elza Soares — quando ela foi se apresentar no programa dele, o mineiro perguntou: “De que planeta você veio?”. Ao que Elza, com 16 anos, rebateu: “Do planeta fome”. “O Ary era vaidoso e arrogante, e tudo sobre esse lado de seu temperamento eu levei para o palco. Ele era um crítico severo, e achava que tinha que ser assim, que desta forma contribuiria para elevar o nível da música brasileira”, conta Vilela.
Mas diversas outras passagens marcantes estão lá, como a aposta curiosa com o tricolor Haroldo Barbosa, no Fla-Flu de 1955, quando o Rubro-Negro perdeu e Ary foi obrigado a raspar o bigode (símbolo de elegância na época) que usava havia 30 anos. “Eu sou Flamengo, mas alguns atores do elenco que não são sofrem quando têm que cantar o hino na peça. Eu digo: ‘gente, segura a onda e tudo pelo Ary!’”, diverte-se.
Em cena com Diogo Vilela, estão nomes como Tânia Alves (que interpreta a mulher de Ary Barroso, Yvonne) e os cantores Marcos Sacramento e Mariana Baltar. Estes dois últimos integram uma recente geração de sambistas que despontaram na revitalização da Lapa. “Tem muita gente jovem que se identifica com esse resgate histórico, embora um nome como Ary Barroso ainda seja mais valorizado entre a classe dos músicos. Por isso seu talento precisa ser reafirmado. Tem gente que até hoje acha que ‘Rancho Fundo’ é uma canção do Chitãozinho e Xororó e não é, é uma parceria do Ary com o Lamartine Babo”, ensina.
Para montar o espetáculo, o ator fez um sério trabalho de pesquisa, e mostra que está afiado sobre o assunto. Voltando à ‘Aquarela do Brasil’, Diogo Vilela esclarece de pronto as dúvidas do repórter sobre palavras usadas pelo autor no célebre samba-exaltação das nossas belezas naturais, como ‘mulato inzoneiro’, ‘merencória luz da lua’ e ‘morena sestrosa’. “Inzoneiro é manemolente, merencória é melancólico, e sestrosa é manhosa. Ele gostava de usar essas palavras pouco usuais”, explica.
Por onde andava Ary
Ary Barroso se encantou pelo Rio desde que chegou à cidade. Aqui, você confere um roteiro de lugares que marcaram sua vida carioca, entre bares (Ary também ficou conhecido como um dos maiores boêmios de sua época), teatros e espaços públicos.
Ary Barroso se encantou pelo Rio desde que chegou à cidade. Aqui, você confere um roteiro de lugares que marcaram sua vida carioca, entre bares (Ary também ficou conhecido como um dos maiores boêmios de sua época), teatros e espaços públicos.
CERVANTES
O jornalista e escritor Sérgio Cabral, autor da biografia ‘No Tempo de Ary Barroso’, conta que um dos pratos de botequim favoritos do compositor era a galinha frita (o atual frango à passarinho, R$ 23) servida no tradicional bar Cervantes, fundado em 1955 e que fica aberto dia e noite (Rua Barata Ribeiro 7, Copacabana). “Gostava de comer a galinha com a mão”, descreve o escritor.
O jornalista e escritor Sérgio Cabral, autor da biografia ‘No Tempo de Ary Barroso’, conta que um dos pratos de botequim favoritos do compositor era a galinha frita (o atual frango à passarinho, R$ 23) servida no tradicional bar Cervantes, fundado em 1955 e que fica aberto dia e noite (Rua Barata Ribeiro 7, Copacabana). “Gostava de comer a galinha com a mão”, descreve o escritor.
EDIFÍCIO A NOITE
O nome do arranha-céu na Praça Mauá 7, no Centro, é Edifício Joseph Gire, mas todos chamam ele de A Noite por ter sido inicialmente sede do jornal ‘A Noite’. Abrigou também a Rádio Nacional, onde Ary estreou, em 1956, seu programa ‘Aqui Está o Ary’. Construído no fim da década de 1920, é considerado um marco arquitetônico da cidade.
LA FIORENTINA
Ary morou muitos anos no Leme. Perto de casa, ele frequentava o La Fiorentina (Avenida Atlântica 458, aberto diariamente, das 11h30 até o último cliente), restaurante que tem até uma estátua sua na entrada. Hoje, o carro-chefe do cardápio lá é o espaguete com frutos do mar (R$ 58).
LARGO DA CARIOCA
Em 1920, Ary Barroso veio para o Rio estudar Direito. Dois anos depois, começou a tocar piano no Cinema Íris, no Largo da Carioca. O local a céu aberto também é palco de artistas populares e vendedores dos mais diversos serviços e produtos.
THEATRO MUNICIPALEm 1946, o versátil Ary Barroso entrou para a política, conquistando a segunda maior votação do Rio. Criou leis e é dele o projeto que reativou o Theatro Municipal, na Praça Marechal Floriano s/nº, no Centro. O espaço é aberto a visitação, de terça a sexta, das 11h às 16h, e aos sábados, das 11h às 13h.
VILLARINO
O boteco Villarino (Avenida Calógeras 6, loja B, esquina com Avenida Presidente Wilson, Centro) era ponto de encontro de músicos. Lá, o compositor tomava seu uísque beliscando fatias de presunto cozido com pão fatiado (R$ 28,50) e uma pasta de queijo roquefort (R$ 24). De segunda a sexta, de meio-dia às 22h.
TEATRO CARLOS GOMESEm 1923, Ary Barroso vai trabalhar com a orquestra do maestro Sebastião Cirino, tocando na sala de espera do teatro Carlos Gomes. Local onde estreou e manteve-se em cartaz até o último mês de março a peça ‘Do Princípio ao Fim’, com Diogo Vilela. Praça Tiradentes s/nº (2224-3602).
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