segunda-feira, 15 de agosto de 2011

TÚLIO BORGES CHEGA PARA MOSTRAR, ALÉM DE TALENTO, UM NOVO PRUMO PARA A MPB CONTEMPORÂNEA

Túlio Borges, um dos mais talentosos cantores e compositores da nova geração da música brasileira, apresenta "Eu venho vagando no ar", um álbum que traz um novo alento para a mpb contemporânea.

Por Bruno Negromonte


Anotem esse nome: Túlio Borges. Sim! o tradutor, poeta, cantor e compositor brasiliense merece que seu nome seja lembrado posteriormente, apenas por seu primeiro álbum. Túlio além de ser um apaixonado por música (estudou piano na Escola de Música Brasileira) e ser fã de gêneros como o fado e o jazz (tendo participado inclusive de um grupo do gênero) e de nomes como Rosa Passos e João Gilberto, vem ganhando destaque no novo cenário musical brasileiro.

Borges morou nos EUA e também na Inglaterra; e foi justamente em Londres que começou a reunir as cerca de 40 composições que havia feito até então no intuito de gravá-las. De volta ao Brasil deu início a compilação desse primeiro trabalho a partir das canções trazidas na bagagem, além de dar início a sua participação em diversos festivais. Esse laboratório rendeu-lhe dentre outros prêmios, o primeiro lugar no Sesc de Brasília e o segundo na Semana da Canção Brasileira, em SP, num júri que contava com Dante Ozzetti e Alice Ruiz.

Paradoxalmente por ser tão aficionado por música hesitou bastante antes de envolver-se com tal arte da maneira tal qual hoje está envolto, essa hesitação veio de forma positiva pois parece que surtiu como efeito o extravasamento máximo de ideias e acepção de novos ares para a nossa MPB em um tipo de efervescência agradabilíssima que resultou em seu álbum de estreia. O álbum (gravado entre 2007 e 2009) já habilita Borges como um incrível compositor e intérprete dos mais representativos da nova geração da música brasileira, tal qual um artesão musical virtuoso e inovador a partir da tradução de uma harmonização rara traduzido em um disco inovador e que demostra uma maturidade peculiar.

De canto brando e trazendo novos e prolíferos ares para a música popular brasileira, Túlio indubitavelmente vem para fazer parte do hall dos recentes compositores que merecem a atenção do grande público. Suas músicas e letras são fidedignas o suficiente para chamar a atenção da imprensa especializada, como a do crítico e musicólogo Zuza Homem de Mello, que ao ouvir o trabalho desse brasiliense foi sintético e enfático ao dizer: "Proponho aos ouvidos atentos prestarem bastante atenção ao trabalho músical de Túlio Borges. Depois a gente conversa." E é desta forma mesmo, sinteticamente impactante que este primeiro trabalho, "Eu venho vagando no ar" do Túlio Borges chega ao mercado fonográfico brasileiro.



Essa sua estreia no mercado fonográfico além da ter uma excelente receptividade do público e da imprensa especializada, traz um trabalho simples e que tem em sua contemporaneidade tudo aquilo que anseavamos encontrar sempre que surgem novas promessas na música brasileira. O músico Túlio nos traz alguns dos diversos ritmos brasileiros e suas tradições a partir de letras que são dignas das mais atentas audições para aqueles que prezam por textos coesos e coerentes o suficientes para receber inúmeras comparações como grandes nomes da MPB.

O álbum começa com a adaptação de alguns "Pontos" do folclore afro-brasileiro de domínio público a partir do canto de Borges e da percussão de Ribas que traz por peculiaridade a companhia nos vocais de sua segunda mãe (como costuma se referir) à Dona Inácia Maria da Conceição, que sola no último dos pontos e o criou e trabalha com a família do músico brasiliense há mais de três décadas. Segundo o próprio músico ela talvez tenha sido a pessoa que mais tenha o influenciado em sua formação musical por sempre ter ouvido ela cantar. “Era ela quem trazia o negro e o popular, o nordeste e as histórias para dentro de casa”, relatou em recente entrevista. Segundo Túlio a ideia era gravar fazer da gravação desses pontos um agradecimento em vida pela força que a piauiense sempre lhe deu, força essa expressada de maneira tão singela através de pequenos gestos que "limpam a alma de tão sinceros e puros", como define Túlio.

O álbum é essencialmente um trabalho autoral, cabendo apenas duas faixas que foram feitas em parceria com a carioca Vytória Rudan, que Borges a partir de festivais ao qual participou conheceu. No fado "Zorro" (a primeira das duas parcerias existentes), a sociedade existente na composição se repete nos vocais da faixa. A outra canção da dupla é o samba "Paraty", que fala da saudade de forma peculiar e destrinchada.

Por falar em saudade o tema também é abordado na faixa composta exclusivamente pelo cantor nascido em Brasília e intitulada "Cicatriz", a canção aborda o tema de maneira visceral ao ponto de referendar a saudade que devora e que deixa cicatrizes. As demais faixas também são assinadas unicamente por Túlio como o baião "Trem" que traz consigo uma propriedade do ritmo de maneira tão encorpada pelo acordeom de Ferragutti que ao tratar de um arrependimento em não confessar um amor tipo de amor cheio de peculiaridades nos remetes as mais genuínas composições do gênero. O álbum segue com blues e solos de guitarra como em "Shirley", que aborda uma relação com uma doidivana que inclui tardes de rum barato, linguicinha com pão e a cerimônias do chá.



Em "Birosca" (um samba típico das crônicas musicais de compositores da estirpe de Noel Rosa), o protagonista finge que torce para que o vento não vente o suficiente para levantar a pequena saia de frequentadora do bar que por sua simples presença já aguça o libido dos frequentadores do estabelecimento. A clarineta, os violões e o piano remete-nos aos clássicos sambas de nossa música. Já as faixas "Oi/Morro de rir", "Altar" e "Toca aí" têm as suas peculiaridades. A primeira trata-se de um choro onde a competência musical aflora a partir de instrumentos como a trompa e a clarineta acompanhadas pelo toque do pandeiro trazendo o relato de alguns desejos em forma de chorinho; já "Altar" (que tem nos vocais a participação do cantor e compositor fluminense Fred Martins) traz sentidos figurados tão consistentes em seu propósito que chegam a ganhar valor denotativo; e por fim "Toca aí", uma canção que traz o alerta: "Se eu chorar, continua há muito choro em mim...".

Sem deixar de abordar o lado feminino, Túlio vem com a faixa "Sua" que traz o compositor ao piano e tem por característica uma competência inerente a nomes como o de Chico Buarque e por fim a faixa que dá título a obra: "Eu venho vagando no ar", canção de uma singularidade melódica e de uma estética lírica fascinante.

Na tessitura instrumental do álbum há participações de nomes como o do pianista, maestro, compositor e arranjador paulista Leandro Braga que dá seu toque peculiar em faixas como "Altar", "Birosca" e "Cicatriz" e do músico, arranjador e compositor paulista Toninho Ferragutti que participa das faixas "Trem", "Zorro" e "Sua". Além desses renomados músicos, participam do disco o percussionista Amoy Ribas, os violonistas Marcus Moraes, Rafael dos Anjos e Fernando César; os bateristas Sandro Araújo e Leander Motta; o cavaquista Pedro Vasconcellos, o bandolinista Jorge Cardoso, o guitarrista Genil Castro, o trompista Yuri Zuvanov, o clarinetista Ademir Júnior e o baixista Oswaldo Amorim que completam com requinte e sofisticação as faixas apresentadas em "Eu venho vagando no ar". Os músicos, procuraram partir em busca da construção de uma sonoridade que flerta com ritmos como o samba, o fado e o jazz a partir de variantes que acabam classificando-se como uma sonoridade atípica (no sentido mais sublime da palavra).

E é dessa forma impressionante que o álbum do brasiliense Túlio a cada nova faixa, vai ganhando a consistência no limite exato sem perder a leveza, algo que torna-se perene pelo conjunto e qualidade. Dessa forma chega a ser possível afirmar que "Eu venho vagando no ar" (que pode ser adquirido clicando na imagem ao lado ou através dos endereços abaixo) supre uma parcela significativa da esperança que temos em firmar novos e talentosos nomes no cenário musical brasileiro a partir dos últimos anos. Não é que não haja tais talentos, pelo contrário, existem muitos, porém poucos são aqueles que trazem em suas composições a robustez necessária para se firmar como tal. As letras de Túlio Borges trazem-nos um tipo de linguagem que apresenta um novo tipo de consciência estética tal qual o poeta francês Arthur Rimbaud e a sua linguagem libertária, já as suas melodias remetem-me a uma gama de ritmos de caráter contemporâneo e universal, partindo de suas mais profundas raízes. E é no paradoxo desta dicotomia que encontramos um álbum que merece uma atenção especial ao ser ouvido, pois Borges apresenta um timbre agradável aos ouvidos em uma combinação perfeita entre letras e músicas, fazendo de cada faixa uma agradabilíssima descoberta a partir de um projeto muito bem elaborado procurando apresentar tudo o que precisamos para uma excelente audição na medida certa. Parafraseando o título da obra do autor Aldous Huxley analogicamente com este disco vos digo: Admirável disco novo!

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Crédito das fotografias:
Foto 01 - Raquel Pellicano
Foto 02 - Fabrício Olivieri
Foto 03 - Raquel Pellicano

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