domingo, 14 de agosto de 2011

ADRIANA GODOY - ENTREVISTA EXCLUSIVA

De família extremamente musical, Adriana Godoy completa quinze anos de carreira em 2011; e contextualizada com essa comemoração divulga o álbum Marco, onde dentre as faixas há canções inéditas de Fátima Guedes e Elton Medeiros.

Por Bruno Negromonte


Possuidora de um talento nato, a cantora paulista que vem apresentando o espetáculo "Marco" e, ao longo de 2011, comemora 15 anos de uma bem conceituada carreira. Com sucesso de crítica e público, Adriana recentemente foi apresentada ao público do Musicaria Brasil a partir da matéria ADRIANA GODOY COMEMORA QUINZE ANOS DE CARREIRA E APRESENTA MARCO, UM ÁLBUM QUE TRAZ POR EXCELÊNCIA O REQUINTE E O BOM GOSTO ((http://musicariabrasil.blogspot.com/2011/07/adriana-godoy-comemora-quinze-anos-de.html), pauta esta que abordou com uma ênfase maior o seu mais recente trabalho fonográfico. Sempre solicita, a cantora paulista Adriana Godoy nos concedeu um pouco do seu tempo para nos conceder esta entrevista exclusiva onde fala, dentre outras coisas, um pouco sobre sua trajetória artística (a partir de suas maiores influências) e sobre o seu mais recente álbum que dá nome a sua turnê.


A música é algo presente em sua vida desde sempre (talvez por conta de ter seus pais envolvidos com tal arte). Se não houvesse esse contexto musical em sua família você acha que seguiria esse ofício?

Adriana Godoy - Bela pergunta Bruno, talvez não, talvez só descobrisse meu amor pelo canto, tarde...desde pequena ouvia dizer que tinha uma bela voz, mas isso me encabulava, depois adolescente gostava de cantar na roda com amigos achava bacana ser mais afinada que os outros, mas encarar isso como um talento, uma profissão, não, para mim era questão familiar meu ouvido apurado. Até hoje tenho paixão pelas pessoas, sociedade e comportamento humano e suas associações com a natureza, era isso que eu queria fazer, estudar as estruturas sociais da natureza, inclusive a humana, meu verdadeiro hobby. O canto me pegou como uma onda imensa que arrasta o que vê pela frente e te mostra um lado da ilha que você nem fazia idéia que exista. E então percebe que essa é a paisagem que quer para você o resto de sua vida. Aos 18 anos subi no palco a primeira vez. Meu pai pediu que eu substituísse uma cantora em seu grupo eu escutava os ensaios que aconteciam em casa, desde pequena sempre foi assim, como na casa do “Vila”, fazíamos lição da escola na mesa da sala, com o ensaio rolando ao lado...mas ele acreditava que eu cantava eu não! Até que em nossa segunda apresentação me emocionei comigo e as pessoas que me ouviram também, um teatro lotado quase 800 pessoas, em Bauru. Desci do palco e pensei: Meu Deus eu sou cantora!


Quando de fato veio a decisão de iniciar uma carreira de cantora profissional?

AG - Logo após o fato que acabei de descrever. Percebi que “o bichinho da música tinha me mordido” e quando isso acontece, não há volta! Eu e meus irmãos estudamos piano desde criança, como parte da educação. Então fui estudar canto, primeiro com Maria Alvim, aqui em SP. Depois cursei a extinta Universidade Livre de Música Tom Jobim. Lá fiz grandes amigos musicais, como Fabiana Cozza, éramos colegas de classe. Foi onde conheci um universo musical que até então eu não tinha acesso mesmo sendo filha de músico, eu era uma adolescente bem comum, com gostos musicais bem diversificados. A partir daí é que fui verdadeiramente educada na música brasileira...aliás continuo...! Meu primeiro show solo foi no então reduto de MPB em SP, na casa Vou Vivendo, em 06 de junho de 1996, há 15 anos! Que comemorei no último dia 01/07, junto com meus 35 anos de vida, na casa Tom Jazz.


Como foi a experiência de sete anos e centenas de apresentações junto a uma de suas principais referências musicais, que é o seu pai, com o espetáculo “Canto, piano e canções”?

AG - Posso dizer fundamental. Meu pai é um músico livre, os arranjos eram criados no palco e aperfeiçoados a cada dia que o executávamos. Tínhamos uma estrutura base, mas ele muda um show inteiro na hora se ele achar que esta perdendo o público. E isso é uma bela escola. No palco a “peteca não cai jamais”, seja pela emoção, pelo virtuosismo ou pela ousadia, mas se as pessoas saem de suas casas para nos ouvir elas precisam ser muito bem tratadas, lhes devemos o nosso melhor! É isso que me ensinou, com casa cheia ou vazia, éramos sinceros no palco e estávamos a serviço das músicas que iríamos tocar. Então não conheci a palavra tédio trabalhando na noite. E sim escola. Aprendi o público, exercitei meu canto diariamente e tive experiências diversificadas, das mais excepcionais, como cantar para mais de 40 integrantes da Orquestra Filarmônica de Berlim, que foram lá para me ouvir e deixaram de ir à recepção do presidente Fernando Henrique, oferecida para eles, como fazer parte da história de alguns casais.


Você trouxe para os estúdios algo que hoje é perceptível em seus álbuns dessa sua longa temporada do “Canto, piano e canções”?

AG - Coragem. Acredito também que a capacidade de interpretação, dar vida as palavras e clareza às melodias em cumplicidade com a harmonia que nos direciona.


05 – Sua mãe recentemente voltou ao Mercado fonográfico com o álbum “Ave rara”, seu pai sempre esteve na ativa assim como também seus tios. Nas reuniões familiares cogita-se a possibilidade de registro de algum tipo de projeto familiar onde todos estarão presentes?

AG - Olha tivemos em 2009, quase todos...faltou minha mãe. O Dvd chama-se “Três Irmãos , Três Histórias”. Foi gravado no Auditório do Ibirapuera, SP. Meu pai sempre “pressionou” os irmãos pra isso. Com participação do Zimbo Trio, Orquestra Arte Viva (do Amilson), comigo e meus dois primos músicos, Tico de Godoy (filho do Amilton) e Frederico de Godoy (filho do Amilson). Apresentaram composições importantes de suas carreiras. Nós os filhos, abrimos o show. Agora com minha mãe, com certeza...ela que me aguarde!!!!


Como e por que surgiu o convite para gravar junto com o Quinteto de Sopros da Orquestra Filarmônica de Berlim o CD de composições de clássicos da MPB?

AG - Quando estiveram aqui em 2000, Julio Medaglia fez uma recepção para eles em sua casa e convidou meu pai Adylson, meus tios, Amilton, Amilson e o grupo de Altamiro Carrilho para tocarem música brasileira e jazz para eles. Então o Amilson falou “Dédi, leva a Adriana eles precisam conhece-la”. Foi ai. Eles procuravam uma cantora para esse projeto que eles tinham e depois de muitas cantoras que já haviam escutado, várias “figuronas”... então como disse o Julio: “Adriana você foi aprovada”. Eu não entendi nada e falei: “ah que bacana, que bom que eles gostaram da apresentação...”, isso já dois dias depois da recepção, quando os convidamos para ouvir o show “Canto Piano e Canções”. E então o Julio falou, “Não você não esta entendendo, ele querem gravar com você”. Tomei um susto, no dia seguinte tinha uma “Platéia Filarmônica de Berlim”, para ouvir a menina escolhida.


Quem assistiu ao vídeo release do álbum "Marco" sabe que o projeto (que já estava em andamento com a escolha do repertório) voltou a estaca zero quando você decidiu gravar a canção "Crescente fértil". Daí em diante, a seleção das músicas tinha como critério possuir uma certa, digamos, unidade com a composição do Ed Motta e do Aldir Blanc. Nessas novas escolhas você procurou priorizar letras ou melodias? Você poderia definir aquilo que você julgou por unidade nessas novas escolhas?

AG - Para mim a escolha de repertório é de caráter puramente emocional. Esse é o elo entre elas. A liberdade e a transformação que a emoção propicia. Minha formação e meu gosto pessoal vão do erudito ao popular, eu gosto de composições que me desafiam como interprete e como cantora, entendo os dois conceitos de maneiras distintas...esse foi meu critério.


Como surgiram esses “presentes” inéditos que foram as canções “Garrafas ao mar” da Fátima Guedes e a composição "Mea culpa", que tem entre os compositores o Elton Medeiros?

AG - Tive meu primeiro contato com Fátima no Cd Todos Os Sentidos (2003), a conheci através de uma amiga em comum, Guete, produtora daqui de SP, a Guete levou meu CD para Fátima e um dia ela me liga, meu coração veio na boca, eu desavisada lavando louça, veja a cena... E meu marido, “Adri, a Fátima Guedes no telefone.”, kkkk, só rindo mesmo! Ela é uma querida, que me apoiou me desejou boa sorte e disse que para os próximos eu a procurasse porque tinha músicas que gostaria de me mostrar e assim o fiz. Com o Mestre Elton, foi através de meu parceiro Dino Galvão Bueno, trabalhamos juntos há 10 anos, canto suas composições e sou produtora musical e executiva de seu primeiro CD Mestre Navegador, que será lançado em setembro deste ano pela Dabliu. Eles são parceiros em outras composições. O Elton me ouviu num show que produzi aqui, depois disso me convidou para um projeto dele, que acabou não acontecendo... Mas quando fui gravar o disco, tomei coragem e liguei como um padrinho musical, aceitou! Agora, gravo, ao vivo, com ele o Centenário de Nelson Cavaquinho, dia 16/06, próximo, no Sesc Pinheiros em SP. O disco sairá pelo selo do Sesc.


A Débora Gurgel e o Grupo Triálogo mostram-se como, de certa forma, a alma do álbum "Marco". Como foi se deu esse envolvimento deles com o projeto?

AG - Era isso que eu queria. Construímos os arranjos juntas, cada acorde, cada pausa. Claro em suas devidas proporções, a Débora é a arranjadora, não eu. Durante quase um ano, nos encontramos duas vezes por semana, para falar sobre conceitos e tocar. O resultado é a cumplicidade do CD. Depois que estávamos totalmente juntas voz e piano, levamos o trabalho para o baixo e bateria. Filó Machado quando ouviu uma de nossas apresentações de piano e voz, já com os arranjos do CD, falou sobre isso, vocês estão coladas, fiquem atentas e levem isso para o trio. Que bom que você percebeu!!! Acho que deu certo! Claudio Machado (baixo) e Christiano Rocha (bateria) trabalham comigo desde sempre, há 14 anos. O Christiano é meu co-produtor musical, porque ele sabe o que eu quero ouvir, mesmo que eu não saiba pedir. E o cuidado que tem com o trabalho faz toda diferença, ele cuida se fosse dele. A produção musical é minha e peço para os músicos tocarem sua verdade e a favor da música, não de sua execução. Então se for muito, retire, se for pouco construa.


São 15 anos de estrada, reconhecimento tanto da crítica especializada quanto do público, 2 álbuns gravados a pré-seleção ao Prêmio da música brasileira em 2011 com o álbum "Marco", além de diversos prêmios. Hoje você se sente realizada enquanto cantora ou há ainda metas que você almeja alcançar?

AG - Fico feliz, mas não me envaideço, não acho que a arte foi feita para alimentar egos, foi feita para aprimorar sentimentos. O que mais quero é ter 80 anos e cantar lindo como Zezé Gonzaga cantou num show que ouvi há anos atrás. Voz limpa, clara, afinadíssima! E que emoção! Esse é meu prêmio! Eu respiro música, assim como respiro meus filhos, são dois!
Quero sim cantar muito, viajar pelo Brasil e pelo mundo. Conhecer culturas diferentes e levar o que eu tiver de melhor para o público. Todo artista tem de ir aonde o povo está!

1 comentários:

Laura Macedo disse...

Bruno,
Sou fã da família Godoy. A "caçulinha" Adriana me conquistou de vez com esta entrevista. Aliás, entrevistada e entrevistador arrasaram.
Depois, em outro momento, vou querer algumas dicas suas sobre a arte de entrevistar.
Vou ficar atenta ao disco que sairá pelo selo SESC, em homenagem ao centenário de Nelson Cavaquinho, com a participação da Adriana. Com certeza o show deve ter sido maravilhoso.
Bruno, parabéns pela entrevista e pelos outros trabalhos do Musicaria.
Ótimas produções. Beijos.
Laura.

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