sexta-feira, 12 de agosto de 2011

ZÉ RAMALHO CANTA, E BEM, OS BEATLES

O projeto iniciado em 1999, só agora foi finalizado.


Por José Teles


Zé Ramalho lança o quinto CD da série de projetos de intérprete, iniciado com a música de Raul Seixas, há dez anos. Depois de cantar também Luiz Gonzaga, Bob Dylan e Jackson do Pandeiro, ele chega ao que considera matriz de sua música, The Beatles. Com selo da Discobertas chega às lojas Zé Ramalho canta Beatles, com capa emulando a do LP With the Beatles, de 1963. Naquele ano, ele estava com 14 anos, morava em João Pessoa (nasceu em Brejo da Cruz, interior da Paraíba), foi quando ouviu, pela primeira vez, I want to hold your hand: "Eu era inocente, burro e besta. então aquela coisa penetrou nos meus ouvidos, me magnetizou, e me deu vontade de tocar um instrumento". Logo, sua guitarra Giannini estaria a serviço de Os Demônios, The Gentlemen e os Quatro Loucos (no qual substituiu Vital Farias).

Nestes dois últimos grupos, ele tocava bailes que duravam até quatro horas: "No meio, sempre havia um momento Beatles, em versões. Alguns artistas de Jovem Guarda, feito Renato e seus Blue caps foram responsáveis em disseminar a músicas deles. De tanto ouvir, ela me absorveu, entrou no meu sangue”, conta Zé Ramalho.

Este disco dedicado aos Beatles iniciaria a série, no entanto demorou 12 anos até sua finalização: “Surgiu como uma curtição do artista no final de 1999, quando Zé entrou em estúdio para rascunhar a ideia daquilo que seria seu primeiro projeto especial de intérprete. As gravações de 10 anos atrás foram retrabalhadas ao longo dos anos, enquanto Zé, volta e meia, entrava em estúdio para gravar mais alguma dos rapazes - em projetos diversos que, como fã que sempre foi, ele nunca abriu mão de participar”, diz Marcelo Fróes, da Discobertas.



Também fã de carteirinha dos Beatles, Fróes produziu vários discos dedicado ao grupo, ou a trabalhos solo de John, Paul e George. Em todos Zé Ramalho participou. Das 16 canções selecionadas para Zé Ramalho canta Beatles, apenas quatro faixas foram gravadas este ano (a mais antiga, God, é de 2000), porém, as atualizações que Zé Ramalho foi enxertando para chegar a este CD não deixam transparecer o tempo entre uma e outra. O cantor rebate críticas sobre sua pronúncia em canções lançadas nos projetos anteriores da Discobertas: "Cantei tudo em inglês, sem a mínima vergonha. Meu sotaque nordestino está no meu inglês, não tentei copiar o sotaque britânico”. No entanto, cantar no idioma dos Beatles foi decisão acertada. Da série Zé Ramalho canta o menos interessante é o CD dedicado a Bob Dylan, as letras em português puseram o trabalho a perder.

Zé Ramalho canta Beatles recebeu interpretações pessoais, algumas iconoclastas, mas sem radicalismo, como acontece em While my guitar gently weeps, emoldurada pela sanfona de Dodô Moraes, e com levada de Frevo mulher. Acertadas também a simplicidade na maioria dos arranjos, a interpretação enxuta, sem que Zé Ramalho cometa o pecado maior de grande parte dos que gravam os Beatles: a tentativa de se aproximar muito, ou se afastar demais da gravação original. O paraibano não fez nem uma coisa, nem outra. Apenas cantou estas canções como se fossem composições suas.

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