Por Bruno Negromonte
A arte como um todo em nosso país nunca teve o seu devido reconhecimento, talvez até por conta da ausência quase que total de estímulos que venham a executar o mínimo que seja em relação a mudanças substanciais nesse panorama ao longo dos anos. É perceptível a falta de incentivos nos diversos âmbitos culturais de nosso país, seja nas artes plásticas ou na música; seja na falta de amparo aos pequenos grupos que procuram preservar as culturas regionais nos mais recônditos lugares do Brasil ou até mesmo quando através de leis como a Rouanet vultosas quantias são direcionadas a projetos que beneficiam meia dúzia de pessoas. Isso talvez seja reflexo da história recente do Brasil, onde através de regimes autoritários impostos em alguns momentos em nosso país a cultura tenha tido alguns revés de forma significativa.
Acredito que o primeiro momento no século XX que talvez mereça destaque tenha sido o Estado Novo, período em que o então presidente Getúlio Vargas impôs o primeiro regime ditatorial em nosso país e mesmo com a criação do Sphan (o atual Iphan) teve também momentos profícuos cerceados (típicos como toda ditadura nos tem mostrado ao longo dos anos) e, mesmo sendo superado pelos poucos anos de democracia pós-Estado Novo acabou levando mais um baque a partir de 1964. E que baque!
Na minha humilde concepção a alienação e o ufanismo impostos por circunstâncias maiores a partir dos Atos Institucionais na década de 60 deixaram profundas marcas na forma de se ver e se valorizar a arte como um todo em nosso país, talvez por isso grande parte da população do Brasil não tenha por hábito frequentar ambientes culturais como cinemas, bibliotecas e teatros.
Ou talvez todo esse reflexo da deficiência cultural enfrentada no Brasil seja consequência de outro fator que se aprofundado aqui seja motivo para um outro artigo: a falta de investimento em educação. Muito do que se ver na educação do nosso país fica aquém do que realmente deveria ser, pois os estudantes deveriam desde a educação básica até o ensino superior contextualizar-se mais com a cultura brasileira como um todo.
E é nesse contexto de depreciação que eu vejo aqueles que fazem cultura no sentido mais significativo da palavra profusão sucumbirem pela falta de reconhecimento e apoio por parte dos que deveriam, de certa forma, colaborarem ou financiarem as diversas ideias existentes nos mais variados segmentos culturais. Desses que fazem e vivem da arte muitos são aqueles que historicamente não tem os seus devidos reconhecimentos; e um dos que mais sofrem com isso são aqueles que exercem o árduo ofício de compositor (até mesmo pela falta de prática dos meios de comunicação em difundir seus respectivos nomes, atribuindo aos intérpretes toda o reconhecimento da obra).
Todo o contexto anterior veio apenas para dar o embasamento para a história que irei contar a partir de então, pois dentre outras alegrias proporcionadas pelo singelo espaço que aqui vos escrevo estão as gratas surpresas e manifestações que recebo a partir dos mais diferentes canais; e são essas gratas manifestações e descobertas que proporcionam-me a renovação diária na fé de que nem tudo está perdido em nossa cultura popular como um todo. Como o nosso espaço é particularmente dedicado a música, hoje gostaria de destacar uma dessas gratas surpresas que me surgiram nos últimos dias que é o compositor Milton Bezerra da Silva, mais conhecido no município paulista de Ilha Solteira por Bezerra e que aqui representará o exemplo de tantos outros que arduamente lutam por seu espaço e contra as dificuldades nos diversos âmbitos culturais existentes.
Pois bem, nesse árduo porém prazeroso ofício (por essa razão o título da pauta) Bezerra procura se manter na composição; e apesar de ter o nome semelhante ao do partideiro pernambucano (falecido em 2005) Bezerra da Silva, a busca por seu reconhecimento e lugar ao sol é um trabalho árduo. Bezerra já possui algumas de suas composições interpretadas em festivais nos municípios paulistas por nomes como o do cantor e compositor Hugo César (ganhador de festivais de MPB no estado de São Paulo, como o de Ilha Solteira) e o da cantora Magda Faria (que defendeu uma de suas canções no mesmo festival de MPB em Ilha Solteira recentemente), além de alguns cd's que registram esses festivais.
Em 2010, no ano em que foi comemorado o centenário de Noel Rosa, Milton Bezerra compôs a canção "O céu de Noel", canção defendida por Magda no 36º Festival de MPB de Ilha Solteira. Segundo Bezerra "A canção tenta retratar, de forma alegre como sempre foi Noel Rosa, a sua passagem por esse mundo, pois apesar do pouco tempo que a sua estrela brilhou entre nós, até hoje o reflexo de sua luz se faz presente no cenário artístico e musical de nosso país e sutilmente faz parte de seu contexto os nomes de algumas das obras primas deste grande instrumentista, cantor e compositor".
O CÉU DE NOEL (Milton Bezerra da Silva (Bezerra))
Seu nascer mudou o samba, de forma tão genial
Deu sabor à sua época, enfeitou o carnaval
Com frescor de coisa nova, inovou na poesia
E só hoje é que se sabe, por que é que ele fazia
Foi além dos horizontes, conquistou a eternidade
Coisa rara de se vê, para alguém de pouca idade
E juntando ao Tangarás, mostrou criatividade
Quem quiser; deixa falar, é novo, é samba
Passou pela Estácio de Sá.
Tornou-se amigo do pinho, esse menino rueiro
Só a paixão pela vida lhe fazia prisioneiro
No escudo de madeira, fez sua filosofia
Ser um ser apaixonado era o risco que corria
Amigo da boemia, lugar de proezas mil,
Viva a Central do Brasil, viva a Central do Brasil (2x)
Da saúde descuidou, o menino descuidou,.
E muito jovem, conheceu o criador.
E na hora do chamado, questionou o menino Noel
Com que roupa eu vou, pra esta festa no céu?
Vou de lenço no pescoço, e levo a minha viola
Seus acordes bem tocados é o som que me consola
A minha felicidade é viver sem dar adeus
Fiquem com os seus amigos que eu vou rever os meus
E quando eu lá chegar, vai ter, vai ter uma festa no céu
Amigos que lá estão, cantarão pro menino Noel
Perdoe-me pelo abuso, se eu não me controlar
Peço que dê três apitos, para o samba terminar
Instrumentistas
Violão: Roberto Maranhão (Betinho)
Baixo: João Carlos P. Neto
Bateria: Heron Luiz de Oliveira
Sax: Rafael Fernandes Cunha
Trombone: Jefferson Douglas dos Santos
Trompete: Bruno Ricardo Ludovino
Pandeiro: Mateus Giovani Nascimento de Paula
Aproveito a oportunidade para citar outras das composições do compositor Bezerra, dentre as quais "Ave de Rapina", um música que muito me recordou o saudoso maranhense João do Vale e o seu "Carcará" interpretado divinamente por Maria Bethânia na década de 60.
Além da canção acima também merecem destaque "Instrumental do samba", samba contagiante pela malemolência presente tanto na melodia quanto na letra; "Uma queixa diferente", um partido-alto que conta a inusitada história de um sujeito que vai a delegacia prestar uma queixa inusitada e que se faz digna da voz de nomes como Wilson Simonal e "Sob a lua cheia", um singelo choro que canta o encontro entre amigos para tocar boa música, música esta que o cronista relata tudo o que acontece de interessante a partir dela, uma praça e uma lua cheia.
A quem for de interesse conhecer melhor o trabalho e as composições do Milton Bezerra da Silva (ou simplesmente Bezerra) citadas acima (além de também outras composições) podem entrar em contato através do nosso link CONTATOS através do sub-link PÚBLICO EM GERAL para que possamos encaminhar as canções que foram apresentadas aqui.
10 comentários:
VALEU AMIGO, ESSE MILTON BEZERRA É FERA NO QUE FAZ E ENCONTRA ALGUEM QUE GOSTA DE BOAS COISA SÓ PODIA DAR NISSO VALEU ILHA SOLTEIRA, E A VOCE QUE ACREDITOU NELE GRANDE ABRAÇO ROCHA
Bom dia!
Bruno Negromonte, parabéns pela qualidade da matéria, abrangente e muito bem redigida. Conheço Milton Bezerra da Silva há mais de 30 anos, além de amiga sou sua cunhada, sei o talento e capacidade de compositor que ele possui e a busca constante para ver suas composições sendo interpretadas! Parabéns mais uma vez e sucesso sempre!
Bezerra me surpreendeu muito com um tipo de talento nato para a composição. Aí foi só fazer a junção do propósito do espaço com o talento dele.
Ao amigo Milton Bezerra da Silva minhas sinceras considerações e parabéns pela inegável competência para prestar tão belo tributo a este ícone da música brasileira.
Parabéns poeta querido.
Sucesso
Nilo Carvalho
Ao amigo Milton Bezerra da Silva minhas sinceras considerações e parabéns pela inegável competência para prestar tão belo tributo a este ícone da música brasileira.
Parabéns poeta querido.
Sucesso
Nilo Carvalho
Uma obra tão maravilhosa como a de Noel Rosa, Só poderia merecer uma grande homenagem como essa.
Uma letra magnifica, que dissecou ,em versos tão bela trajetória.
Com talento ímpar e peculiar de Milton Bezerra
sucesso Amigo
Parabéns Bruno Negromonte! Mestre da oratória como mui dificilmente se ve hoje em dia! Além disso presta uma mais do que merecida homenagem a um outro mestre das palavras e das composições: Milton Bezerra da Silva, homem forte de índole humilde!
Parabéns Milton, você merece! Parabéns Ilha Solteira! Abraços de seu fã!
Du Javaro
Du Javaro e Nilo Carvalho, obrigado pelas palavras de carinho referentes ao texto, mas enfatizo de que nada seria a pauta se não houvesse o Bezerra, o mérito é todo dele!
Bom dia Milton!
Muito obrigada por ter me dado a oportunidade de defender esta música com esta bela letra.Parabéns mesmo poeta.
Parabéns também pela qualidade da matéria e parabéns pelo seu talento.
Bjs na alma!!!
Bruno Negromonte, parabéns pela preciosa matéria! Eu só tenho coisas boas pra falar do SR. Bezerra. Afinal, meu pai! e digo isto com mto orgulho! Com certeza ele irá alcançar seu lugar ao sol com suas composições que faz com tanto carinho e dedicação.
Espero que vc continue apoiando esses compositores para que consigam atingir suas metas e ideais.
Parabéns!!!
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