quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

CURIOSIDADES DA MPB

Roberto Carlos, com uma pastinha debaixo do braço, e Erasmo Carlos, carregando um violão, entraram esperançosos no elevador do velho prédio de quatro andares onde funcionavam a gravadora e os estúdios RCA, nas vizinhanças da Central do Brasil. Roberto precisava gravar: seu primeiro Lp produzido por Imperial tinha fracassado e agora todas as suas esperanças se concentravam em uma versão que Erasmo tinha feito para “Marina”, um calipso lento de levada contagiante que ele tinha ouvido no “Make Believe Ballroom” da Rádio Metropolitana e que estava estourando nos Estados Unidos. Na pastinha levava o seu compacto de “Brotinho sem juízo” para mostrar que já tinha gravado e a letra do calipso, porque queria mudar de gênero.
A porta do elevador se fechou e em seguida se abriu para que entrassem Cauby Peixoto e seu empresário Di Veras. Roberto perdeu o fôlego, Cauby era um de seus grandes ídolos, seu modelo de cantor. Quando a porta se fechou, Roberto não se conteve:
“Sou grande admirador seu”, gaguejou para Cauby.
“Eu também”, Erasmo acrescentou.
E Cauby, rindo magnânimo: “Eu sei, garotos, eu sei...”
“Quer dizer que vocês também vão... lá?”, perguntou enigmaticamente Cauby, enquanto o elevador subia lentamente.
“Não, nós vamos conversar com o diretor artístico para ver se a gente grava um disco”, respondeu Roberto. Eufórico, Cauby fez um vocalise e contou que ia gravar um sucesso, uma música que estava arrebentando no mundo inteiro. “Vocês ainda não conhecem, mas é uma música maravilhosa, que se chama "Marina", um sucesso nos Estados Unidos, se quiserem podem assistir à gravação”, convidou o ídolo gentilmente.
Murchos e mudos, Roberto e Erasmo nem saíram do elevador.
Desceram lentamente em silêncio e pegaram o lotação de volta para a Tijuca.
Mas apesar de todo o seu sucesso internacional e de toda a voz e popularidade de Cauby, “Marina” fracassou no Brasil.

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