segunda-feira, 16 de março de 2020

PAUTA MUSICAL: MÁRIO REIS E DICK FARNEY – MODERNISTAS DE CARTEIRINHA - PARTE 01

Por Laura Macedo


Mário Reis e Dick Farney – Modernistas de Carteirinha

Dois modernistas de carteirinha têm sua obra rebobinada em coletâneas eloquentes que valem por revisões históricas. Ambas lançadas pelo selo curitibano ‘Revivendo’, Jura, de Mário Reis, e ‘Copacabana’, de Dick Farney, recolocam esses cantores no vetor de mudanças que daria na Bossa Nova.

O dândi [individuo que se veste com elegância e extremo apuro] Mário da Silveira Reis (1907-1981) aprendeu com seu mestre de violão, José Barbosa da Silva, o Sinhô, a tratar o samba de forma coloquial, numa emissão quase falada.

Farnésio Dutra e Silva, o Dick Farney (1921-1987), foi buscar inspiração lá fora, em Frank Sinatra e Bing Crosby, considerados cantores ‘de travesseiro’, em comparação com os ‘dós-de-peito’ de tenores anteriores.



Mário beneficiou-se do contraste numa dupla de antípodas com o vozeirão de Chico Alves. Dick chegou a desafiar os puristas com seu samba de tinturas eruditas, movido a orquestra de cordas ou camerístico, a bordo de piano e [sacrilégio!] guitarra, se bem que daquelas aveludadas, de entonação jazzística.



Nos dois CDs não há refugo: Mário e Dick incursionaram por pérolas mais obscuras mas sempre de alta linhagem. Capturado em diversas fases de sua carreira, do início em 1928, até a última aparição, em 1971, Mário fez uma curiosa travessia do samba de orquestração amaxixada, dominante até o fim dos anos 1920 [‘Jura’, ‘Vamos deixar de intimidade’, ‘Uma jura que eu fiz’] para a produção dos bambas do modelo de samba do Estácio Bide e Marçal’. [‘Agora é cinza’], além de Noel Rosa [‘Mulato bamba’] e Custódio Mesquita [‘Doutor em Samba’], já na virada para o formato tradicional que acabaria caracterizando o ramo.



Confiram as composições citadas

“Jura” (J.B da Silva [Sinhô]) # Mário Reis. Disco Odeon (10.278-A) / Matriz (2070). Lançamento (novembro/1928).

“Vamos deixar de intimidade” (Ary Barroso) # Mário Reis e Orquestra Pan American. Disco Odeon (10.414-A) / Matriz (2605). Gravação (06/06/1929).
“Uma jura que fiz” (Noel Rosa/Ismael Silva/Francisco Alves) # Mário Reis. Disco Odeon (10.928-A) / Matriz (4482). Gravação (12/07/1932).
“Agora é cinza” (Alcebíades Barcelos ‘Bide’/Armando Vieira Marçal) # Mário Reis e Diabos do Céu. Disco Victor (33.728-A) / Matriz (65871). Gravação (25/10/1933) / Lançamento (dezembro/1933).

“Mulato Bamba [Mulato forte]” (Noel Rosa) # Mário Reis e Orquestra Copacabana. Disco Odeon (10.928-B) / Matriz (4480). Gravação (07/07/1932).

“Doutor em samba” (Custódio Mesquita) # Mário Reis. Disco Victor (33.728-B) / Matriz (65878) / Gravação (06/11/1933) / Lançamento (dezembro/1933).

Dick Farney / Braguinha /Alberto Ribeiro / Radamés Gnattali / Eduardo Patané / João Gilberto




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Fontes:
– Dicionário Cravo Albin / Verbetes: Mário Reis / Dick Farney.
– Fotomontagem: Laura Macedo.
– Site YouTube / Canais: “Adilson Flávio Santos”, “Gilberto Inácio Gonçalves”, “luciano hortencio”, “Eduardo Michels”, “Zemedela”, “George Kaplan”, “Alfredo Pessoa”, “1000amigovelho”, “Marcelo Maldonato”, “Luiz Gilberto de Barros Filho”.

-Tem mais samba: das raízes à eletrônica / Tárik de Souza – São Paulo: Editora 34, 2003 [Transcrição do texto do Jornal do Brasil, em 25/05/2001].

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