Show foi concebido em Portugal. Cantora diz que afastamento do país a fez se sentir mais brasileira
(foto: Leo Aversa/Divulgação )
O nome dela é Adriana Calcanhotto, mas pode chamá-la de A Mulher do Pau Brasil, um termo que pode também designar a mulher brasileira de forma geral. “A mulher que precisa batalhar e batalha. Somos todas nós”, afirma a cantora e compositora gaúcha que estreia nesta sexta (10), no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, a turnê nacional de A mulher do Pau Brasil. “Foi uma feliz coincidência BH ser a primeira (cidade a receber o show). Coincidiu com a minha agenda – o início dos ensaios e o retorno de Portugal”, diz Adriana, que voltou há pouco de uma temporada lusitana na qual concluiu uma residência artística na Universidade de Coimbra.
O modernismo, o movimento antropofágico e as teorias de Oswald de Andrade norteiam o espetáculo, planejado no formato de “concerto-tese”. Adriana conta que foi convidada a fazer um show na agenda de espetáculos anuais promovidos em Coimbra. “Como eu vinha pensando nessa ideia da antropofagia, da identidade brasileira, resolvi fazer um concerto-tese. Em vez de apresentar um show qualquer, preparei um relacionado às coisas em que estava pensando, como se fosse um trabalho de conclusão de curso. Por isso eu o batizei assim.”
No início de sua carreira, quando ainda morava em Porto Alegre, onde nasceu, Adriana fez o espetáculo A mulher do Pau Brasil, que abordava o modernismo e no qual ela lia a carta de Pero Vaz Caminha. “Quando estava lá em Coimbra, pensando sobre o Brasil, sobre as ideias antropofágicas, o modernismo e tudo o mais, lembrei que tudo isso era muito parecido com ideias que eu já tinha tido quando montei esse show lá no Sul”, recorda.
O próprio repertório do show atual faz uma volta no tempo, com canções como Eu sou terrível (Eramos Carlos e Roberto Carlos) e Geleia geral (Gilberto Gil e Torquato Neto). Acompanhada por Bem Gil e Bruno Di Lullo, Adriana elaborou um roteiro com músicas que compôs durante sua estada em Portugal, além de releituras (a recente As caravanas, de Chico Buarque), sem deixar de fora clássicos de seu repertório, como Inverno, Vambora e Esquadros.
“As músicas da primeira montagem de A mulher do Pau Brasil seguiram me acompanhando ao longo da minha trajetória, seja em discos ou apresentações, mas foram se diluindo. Quis colocá-las agora e acrescentei outras como Nenhum futuro (João Bosco e Francisco Bosco), e Range rede, composição minha instrumental que entra bem no comecinho”, conta.
O vermelho dá o tom ao espetáculo e está presente no cenário, na iluminação e no figurino. A escolha não foi aleatória. Adriana Calcanhotto cita que a cor vem do pau brasil (árvore que deu nome ao país) e que o pigmento vermelho era sinônimo de status. “Só o clero, a nobreza e a realeza usavam roupas vermelhas. Praticamente dizimaram uma espécie de árvore apenas para vestir essa elite”, comenta.
Dor Mas o vermelho tem outros significados. “O jornalista Leonardo Lichote afirmou que o vermelho é a cor da dor do Brasil; do sangue dos indígenas, do sangue dos escravos, do sangue dos excluídos. Não gosto muito dessa ideia de que o vermelho não pertence às cores do Brasil.O vermelho é a cor oculta, porque se quer ocultar certas coisas”, defende.
Adriana diz que se sente mais brasileira após esse período em Portugal e que a temporada no Velho Mundo influenciou o seu jeito de enxergar o Brasil. “Quando a gente está longe, aprende a valorizar mais as nossas coisas. É engraçado, porque vi tantos estrangeiros que têm o sonho de passar as férias no Brasil. Eu me sinto cada vez mais brasileira justamente porque sou brasileira e tenho passado muito tempo fora. E quanto mais tempo fico longe, mais me sinto brasileira”, frisa.
Fonte: Redação EM Cultura
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