quarta-feira, 12 de agosto de 2015

NANDO CORDEL: FOLHA, RAMA, CHEIRO E FLOR

Por Abílio Neto



Fernando Manoel Correia nasceu em 13 de dezembro de 1953. É natural de Ipojuca, município onde fica o paraíso de Porto de Galinhas em Pernambuco. Mas quem é esse Fernando? Quase ninguém sabe. Agora se eu falar seu nome artístico, Nando Cordel, aí aparecem fãs de todo Brasil e até do exterior. Ele foi criado nos arredores de Ponte dos Carvalhos, no município do Cabo de Santo Agostinho. Filho de um cordelista, Nando é o mais velho de 14 irmãos. O nome artístico Nando Cordel, conforme vocês percebem, é uma homenagem a um tipo de arte popular, a chamada literatura de cordel, que veio da Europa e se instalou rapidamente no nordeste brasileiro. Xote, forró, frevo, marchinha e baião. A riqueza da cultura nordestina está muito bem representada na obra de Nando Cordel. Mas o artista sofre ainda grande influência de outros ritmos latinos, como a salsa e o merengue e até o reggae jamaicano. Versátil, Nando Cordel compõe em diferentes estilos para várias gerações de intérpretes.

Nando Cordel, por sua latinidade, apresentava uma sonoridade diferente de todo artista que eu via. No começo da década de noventa, fui a um show dele no Clube Atlântico Olindense e a casa estava lotada. Pensem numa noitada boa! Ainda me lembro que Nando abriu seu show cantando “Flor de Cheiro”, uma música que eu adoro até hoje, que era uma espécie de prefixo musical. A partir dali, quando posso, não perco seus shows.

Nando teve a sorte de ver suas canções gravadas por grandes ídolos como Chico Buarque, Elba Ramalho e Fagner. Por conta disso, os hits assinados por ele são bem diversificados. Tem os românticos, os dançantes e até os infantis. Com 17 anos, já fazia parte de uma banda de baile. Foi assim que começaram as apresentações profissionais desse pernambucano.

Seu primeiro parceiro foi Dominguinhos, com quem compôs, entre outras, “Gostoso demais”, “Faz de mim” e “Isso aqui tá bom demais”. A primeira música da dupla, que fez muito sucesso, foi “De volta pro meu aconchego”, gravada por Elba Ramalho. A cantora paraibana gravou também “Jogo de cintura”, “Doida”, “Tem que ter molejo”, “Vem ficar comigo” e “Vê estrelas”. Também gravaram composições de Nando Cordel os artistas Maria Bethânia, Emílio Santiago, Zizi Possi, Netinho, a dupla Leandro e Leonardo, Fagner, Fafá de Belém, Amelinha, Guilherme Arantes, Nana Caymi, Fábio Júnior, Roupa Nova, Martinho da Vila, Luiz Gonzaga e Geraldo Azevedo. A cantora e apresentadora Xuxa, fez sucesso no Brasil com “Hoje é dia de folia” e na Argentina com “Brasil/Argentina”. Nando já se apresentou em quase todo o Brasil, e também na Itália, Alemanha e França. Teve composições incluídas nas novelas “Roque Santeiro”, “Tieta”, “Pedra sobre pedra”, “Sexo dos anjos”, “A indomada” e “Tropicaliente”, esta última com o tema de abertura cantado por Elba Ramalho. Já gravou 20 discos, além de ter participado de duas coletâneas com vários artistas. Ultimamente, tem se dedicado a compor músicas para meditação, tais como “Doces canções”, “Doce harmonia”, “Doce paz”, “Doce luz”, “Doce natureza” e “Dedicado as flores”. Algumas de suas composições foram gravadas por Jorge de Altinho, entre as quais “Com você eu vou”, “É só dengo, dengo” e “Estrela do amor”, esta última composta em parceria com Dominguinhos. Em 1999, o Trio Forrozão gravou com a belíssima voz do saudoso Bastos Brilhante, “Na batida da zabumba”, que também foi o título do CD do Trio lançado naquele ano pela Natasha Records. No mesmo disco, foram lançadas mais duas composições de Nando Cordel: “É só você querer” e “Você caiu do céu”.

Com um perfil espiritualista, não é de admirar que Nando Cordel seja um homem generoso. Foi da solidariedade e do bolso desse pernambucano que surgiu a “Fundação Lar do Amanhã”. Fundada faz mais de doze anos, a creche atende em torno de cem crianças entre um e oito anos. Tem 13 funcionários e 20 voluntários, oferecendo educação e muito carinho aos pequenos. Faz isso, mas não gosta que haja divulgação. Ainda participa de outros projetos sociais, como os shows pela paz, que reúnem milhares de pessoas.

Durante o tempo em que participou de bandas de baile, Nando Cordel teve a primeira oportunidade de ampliar horizontes. Excursionou pela Europa mostrando a música brasileira. Foi nessa época que sentiu a necessidade de criar um estilo próprio e passou a compor. De lá pra cá, já são mais de 500 músicas gravadas por ele e outros grandes artistas.

Este compositor pernambucano lembrou que começou a carreira na Festa Nacional da Música, em 1981, com o lançamento do disco compacto “Flor de Cheiro”, no Rio Grande do Sul. E foi nesse mesmo lugar que em 2010 ele foi homenageado. Foi uma grande festa da Música Popular Brasileira aquela que animou a Serra Gaúcha. Dezenas de artistas participaram da abertura da Festa Nacional da Música, em Canela, um dos maiores eventos do gênero da América Latina.

O primeiro LP de Nando Cordel tem este título: “Folha, rama, cheiro e flores”. É de 1982 e foi lançado pelo selo Laço/Ariola. Um dos destaques do disco é justamente “Flor de Cheiro”, faixa 1 do lado B.

Para finalizar, transcrevo uma pergunta feita a Nando Cordel numa de suas entrevistas: o que podemos esperar da Música Popular Brasileira com as produções que aí estão?

“A Música Popular Brasileira é muito forte. Mas enquanto existirem pessoas ignorantes, gananciosas, que não fazem parte da música, mas só produzem música para ganhar dinheiro, não vejo a Música Popular Brasileira. Tem muita gente fantástica fazendo MPB, mas são artistas e artistas não sabem cuidar de outra coisa a não ser produzir. Os empresários sabem que músicas boas demoram. Enquanto tiver empresário ganancioso, tenho pena da Música Popular Brasileira. Ela está lá, com toda produção, e na hora que for dada uma chance, aparece. No dia que os homens de bem começarem a fazer algo.”

Festejando a latinidade de Nando Cordel, vamos ouvir aqui (por ele mesmo) “Eu penso em você” e “Flor de Cheiro”, ambas de sua autoria. Do gênero forró, eu trouxe “Jeito Manhoso”, também de Nando, e gravada por dois expoentes do ritmo: Marinês e Jorge de Altinho.




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