quarta-feira, 19 de agosto de 2015

EZEQUIEL NEVES, 05 ANOS DE SAUDADES


No ano em que faria oito décadas de vida, Ezequiel é lembrado pelos 5 anos de saudades


Por Miguel Arcanjo Prado



Conheci Ezequiel Neves, ou apenas Zeca, como todo mundo o chamava, em 2004, ainda nos tempos de estudante de Comunicação Social na Universidade Federal de Minas Gerais. Sem dúvida, ele foi uma das figuras mais carismáticas que conheci. 

Meu primeiro contato com ele foi por carta. Daquelas escritas à mão e que a gente posta nos Correios. Havia acabado de assistir ao filme Cazuza – O Tempo Não Para. Impactado, resolvi transformá-lo em tema de minha monografia de conclusão de curso. E foi Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, quem costurou nosso contato. 

Escrevi a carta a Zeca despretensiosamente. Qual não foi minha surpresa ao ver, semanas depois, uma cartinha dele – também escrita à mão – em minha caixa de correio, em Belo Horizonte. Irreverente, ele escreveu sobre Miles Davis, porres, a relação com Cazuza, o filme, a música, a nossa cidade – como eu, ele também era mineiro de Belo Horizonte. Decretou que deveríamos nos conhecer pessoalmente. 

Meses depois, em agosto de 2004, estava eu no Rio com meus primos, Guilherme Araújo, Danilo Venâncio e Daniel Graciliano, e resolvi ligar para o Zeca. Ao ouvir minha voz do outro lado, ele fez questão de propor um almoço no Fazendola, restaurante na praça General Osório, em Ipanema. 

Naquele começo de tarde, falamos de música, arte, rock, sexo, drogas... ou seja, os melhores assuntos. Zeca se mostrava descrente da geração atual, do mundo musical, das gravadoras, das bandas de rock cada vez mais medíocres. 

Antes de nos despedirmos e vermos Zeca entrar num ônibus na rua Visconde de Pirajá rumo a Copacabana, onde ele morava, o assunto, claro, caiu em Cazuza. Foi quando ouvi da boca de Zeca a definição que ninguém jamais conseguiu superar: “Cazuza era adoravelmente in-su-por-tá-vel”. Assim mesmo, com a separação das sílabas. Quando pedimos uma foto para registrar aquele encontro, ele falou: "Para quê? Coisa boa a gente guarda na memória". Estava mais do que certo. Hoje, após o intervalo exato de 20 anos, Zeca pode se reencontrar com seu pupilo mais querido. Ele e Cazuza devem estar lá em cima, fazendo boa música e, claro, pedindo mais uma dose.

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