segunda-feira, 17 de agosto de 2015

MARÍLIA BATISTA - A PRINCESINHA DO SAMBA, 25 ANOS DE SAUDADE

25 anos após a sua morte, Marília Batista ainda é lembrada como uma das maiores cantoras do cenário musical nacional

Por Marcelo Bonavides



Que o samba tem reis e rainhas, isso nós sabemos.
Mas, poucos sabem que ele também teve princesa. Uma princesinha, aliás. 

Chamava-se Marília Batista (ou Baptista, no original).

Há 23 anos, em 08 de julho de 1990, ela falecia, diminuindo ainda mais a presença dos grandes intérpretes da Era de Ouro de nossa música popular.

Ela é lembrada por ter sido uma das melhores intérpretes do compositor Noel Rosa (a outra grande: Aracy De Almeida). Até criou-se uma disputa entre os fãs e críticos para saber quem era a melhor intérprete de Noel. Em minha opinião, ambas foram Grandes nesse sentido, e em muitos outros.

Marília Monteiro de Barros Baptista nasceu no Rio de Janeiro em 13 de abril de 1918.

Seu pai, Renato Hugo Baptista, era médico do Exército; sua mãe, Edith Monteiro de Barros Baptista, era pianista. Marília tinha dois irmãos, Renato e Henrique, que também eram compositores.

Desde menina, essa herdeira de uma tradicional família carioca, neta do poeta e Barão Luís Monteiro de Barros, já manifestava seu interesse pela música.


Infância.

Com quatro anos.

Em uma ida à sua casa, para cortar os cabelos de seu pai e irmãos, o barbeiro da família esqueceu seu violão. Ela, então com seis anos, não largou mais o objeto, “ganhando”, dessa forma, seu primeiro instrumento musical. O violão, instrumento que seria uma de suas grandes paixões, até ganhou versos da precoce criança: 

Fala tudo que meu peito sente
Pois, meu amigo verdadeiro 
nem brincando você mente.

Começou a compor com oito anos. Depois, foi estudar no Instituto Nacional de Música (atual Escola de Música da UFRJ), onde se formou em teoria, solfejo e harmonia, mesmo tendo abandonado o curso de piano no quarto semestre.

Aos doze anos, começou a estudar violão com o compositor Josué de Barros, por iniciativa do próprio Josué. Ele parecia pressentir quem tinha talento, pois, ao ver um recital de Marília no Cassino Beira-Mar, ficou tão encantado que passou a lhe ministrar aulas de graça. Lembrando que foi Josué quem mais tarde descobriria o talento de Carmen Miranda.

Marília ainda estudou violão clássico com o virtuoso José Rebelo, pois tinha a intenção de se tornar uma concertista. Mas, seu interesse pela música popular era mais forte.

Em 1931, em uma festa na casa da cantora Elisinha Coelho, conheceu os seguintes artistas: o Maestro Hekel Tavares, o compositor Luís Peixoto, e ainda, Almirante e o Bando de Tangarás.

Segundo o Dicionário Cravo Albim da Música Popular Brasileira, ela conheceu o compositor Noel Rosa em 1932, quando foi convidada a cantar no espetáculo Uma Hora de Arte, no Grêmio Esportivo Onze de Julho; ela tinha quatorze anos. Mas, como Noel integrava o Bando de Tangarás, é possível que eles tenham se conhecido na festa de Elisinha, no ano anterior, data que marcaria o final do Bando. 

A menos que o compositor de Vila Isabel tenha faltado.

O fato é que, sendo em 1931 ou 1932, Marília e Noel tornaram-se grandes amigos.

Ainda em 1932, ela gravaria seu primeiro disco na Victor. O lado A trazia a marcha de sua autoria, em parceria com seu irmão Henrique, Me Larga; no lado B, o samba, também da autoria de ambos, Pedi, Implorei. O acompanhamento ficou a cargo de Rogério Guimarães, ao violão, e João Martins, ao bandolim.



Por ocasião do oitavo Broadway Cocktail (show que precedia o filme exibido no Cine Bradway, no Rio de Janeiro), ela foi convidada por Almirante para cantar ao lado de grandes nomes da época: Sílvio Caldas, Jorge Fernandes e Rogério Guimarães (que era instrumentista). O sucesso foi tanto que ela recebeu convite de Ademar Casé (avô da atriz Regina Casé e um dos pioneiros do rádio brasileiro) para fazer parte do Programa Casé, na Rádio Phillips, com um contrato considerado altíssimo na época: 45 mil réis. 

Foi no Programa Casé, pioneiro dos programas de auditório, que ela e Noel Rosa (que também era contratado) fizeram célebres improvisos com o samba De Babado, da autoria de Noel e João Mina. As improvisações chegavam a durar até dez (!) minutos, sem repetições nos versos por parte dos dois. Lembrando que os versos eram criados na hora.

Noel Rosa criou um prefixo para a participação de Marília Batista no Programa Casé, citando a voz característica da garota: 

Fala o Programa Casé!
Veja se adivinha quem é...
Faço a pergunta por troça
pois todo mundo já conhece
A garota da voz grossa.

Ainda nesse programa, ela lançaria o samba de Noel, Pela Décima Vez, em 1935, que seria gravado pela primeira vez em 1947 (dez anos após a morte de Noel), por Aracy de Almeida.

Curiosidade: um de seus passatempos favoritos era tricotar. Ela praticava tricô nos intervalos dos programas em que participava.

O último disco gravado por Noel Rosa, no qual Marília também participou, trazia os sambas: Quem Ri Melhor, de Noel; e Quantos Beijos, de Noel e Vadico. Ambos foram acompanhados pela orquestra de Pixinguinha, tendo no coro Cyro monteiro, Odete Amaral, Almirante e as pastoras e ritmistas da Mangueira, puxados por ninguém menos que Cartola. Ou seja, um encontro de Grandes!

Quando Noel Rosa faleceu, em , D. Martha, mãe do compositor, deu à Marília Batista os manuscritos do filho. Marília entregou-os a Almirante, que também era pesquisador musical, e que os conservou com muito cuidado. Após o enterro de Noel, ela compôs com seu irmão Henrique o samba Não há mais samba na terra, e o cantou na mesma noite na Rádio Educadora.

Foi nessa época que Marília Batista recebeu o título de Princesinha do Samba.

Ela integrou o elenco da Rádio Nacional desde o dia de sua inauguração, em 12 de setembro de 1936. Nessa emissora, passou a integrar o grupo vocal As Três Marias (inicialmente formado por ela, Bidu Reis e Salomé Cotelli), que acompanhava os intérpretes da rádio. Ainda atuou na Rádio Cajuti, Cruzeiro do Sul e Transmissora, onde apresentou o programa Samba e outras coisas.




1938

Aos 20 anos, em 1938, viajou para o Uruguai, fazendo oito apresentações em rádios diferentes. Em 1940, gravou o samba de Noel Rosa Silêncio de um minuto.

Em parceria com o irmão Henrique Batista, compôs o samba Grande Prêmio, gravado por Linda Batista em 1943, na Victor.

Em 1944, após gravar os sambas Liberdade (de Pereira Matos e Manoel Vieira) e Salão Azul (de sua autoria e seu irmão Henrique), afastou-se da carreira artística, época em que se casou.

Na década de 1950, Marília retornou à sua carreira de cantora e compositora. Teve músicas de sua autoria gravadas por Elizeth Cardoso (Praça Sete, samba-canção em parceria com Sebastião Fonseca, que fez sucesso); e, novamente em parceria com o irmão Henrique Batista, gravou os sambas Lamento e Tamborim batendo.

Nessa década ainda gravou músicas de Noel Rosa, inclusive algumas inéditas. Em 1954, ela lançaria um LP só com composições do Poeta da Vila.

Nos anos 60, Marília Batista se revezaria no rádio e na TV. Em 1965, participou, ao lado de Aracy de Almeida, Dircinha Batista, Cyro Monteiro e outros, do show de despedida de Sílvio caldas (que, felizmente, ainda viria a fazer outros shows de despedida, até perto de sua morte, em 1998), no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro.

Em 1988, aos 70 anos, participou do projeto Concerto ao meio dia, no Teatro João Teotônio (uma entrevista musical conduzida pelo pesquisador Ricardo Cravo Albin), onde chegou a ir às lágrimas com os aplausos recebidos pela plateia que superlotava o teatro.

Mais uma curiosidade: Marília Batista voltou a estudar na década de 1960, formando-se em Direito.

Sem dúvida, Marília Batista foi (e é) uma de nossas maiores intérpretes e compositora de talento.

Lembro muito bem do dia em que ela faleceu, 09 de julho de 1990, da notícia divulgada pela televisão, da entrevista de sua filha, afirmando que a mãe estava preparando uma autobiografia (será que foi lançada?). Tenho essa gravação em algum lugar.

O curioso é que ela nasceu no mesmo ano que meu avô materno (1918), e faleceu no mesmo dia e mês que ele (09 de julho), porém, ele em 1983 e ela em 1990.

Hoje, sei que o bom samba continua... lá no Céu.


Fontes:
arquivonirez.com.br
http://www.collectors.com.br/
http://memoria.bn.br
http://www.dicionariompb.com.br/

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