sexta-feira, 20 de março de 2015

FERNANDO CANECA RETOMA SUAS ORIGENS MUSICAIS NO RECIFE

Referência musical na MPB, Caneca pesquisa obras de Luperce Miranda e Canhoto da Paraíba

Por Alef Pontes



Não é qualquer músico que acumula em sua carreira trabalhos com nomes como Ivan Lins, Martinho da Vila, Simone, Marisa Monte, Gal Costa, Vanessa da Mata e Maria Gadú. Este é o caso do instrumentista, produtor e “solucionador de problemas musicas” Fernando Caneca, nascido em Pernambuco.

Caneca é do Recife; passou a sua infância na Rua da Amizade, Bairro das Graças. Foi aqui que ele – morador do Rio de Janeiro desde a juventude – deu seus primeiros passos na música. “Eu tenho família aqui, por parte de pai e de mãe, e sempre venho visitá-los. Foi numa das minhas vindas ao Recife que comecei a tocar”, relembra.

Nessa época, tive a oportunidade de conhecer o Marcos César, que é um grande músico pernambucano, e tive uma experiência curta com ele no Conservatório Pernambucano. Que, infelizmente, eu não pude desenvolver porque tive que trabalhar com outras coisas”, conta o músico, citando o período no qual integrou o Regional de Choro do Conservatório Pernambucano de Música, em 1982.

Logo em seguida, Fernando retornou para Niterói, no Rio de Janeiro, onde iniciou e desenvolveu a sua trajetória musical. Mais de 20 anos após os seus primeiros acordes, ele faz o caminho de retorno à sua origem: “Eu adoro ser músico, me realizo tocando. Desde cedo, tenho esse instinto de conhecer melhor as raízes de Pernambuco. A partir de um trabalho que eu fiz em 2005, sobre a obra do Canhoto da Paraíba (Fernando Caneca visitando Canhoto da Paraíba), que morou muitos anos no Recife. Com isso, eu inaugurei esse caminho de volta, um retorno às bases culturais e musicais”.

Agora, ele pretende dar continuidade a este trabalho e se prepara para lançar uma homenagem a obra de Luperce Miranda – outro pernambucano que desenvolveu parte de seu trabalho no Rio de Janeiro. “Estruturalmente, o disco terá o mesmo formato”, adianta. Uma particularidade em seu trabalho é que, tanto no álbum de 2005, quanto na releitura da obra de Luperce, Caneca divulga junto às canções um arquivo com as partituras das obras. “É importante para facilitar a comunicação”, justifica. Garante, também, a perpetuação e a divulgação da boa música.

Essa coisa de voltar a sua antena pra o seu lugar, na verdade, te internacionaliza mais. Como o chorinho, e outros folclores do mundo, que estão sendo cada vez mais procurados”, avalia. “E você ter esses códigos facilita a comunicação em um ambiente internacional. Um músico japonês que comprar o disco só tem esse arquivo para poder se aproximar da música que está ouvindo”, complementa Caneca.

Segundo ele, o objetivo do estudo das obras desses compositores é divulgar quem são os seus grandes mestres. “O Luperce Miranda é praticamente meu professor de música, eu estudo com ele todos os dias”, brinca, falando sobre o aprendizado a partir da obra de um dos maiores bandolinistas do País, que faleceu na década de 1970.


SEMPRE MELHOR

Com uma vasta experiência em gravação e produção, Fernando Caneca também tem se dedicado a atividade de consultor musical, chegando a ganhar o apelido de “Martelinho de Ouro”, por sua dedicação em ajudar a refinar o trabalho de novos nomes da MPB.

“De certa forma, eu sempre sonhei e quis ser um solucionador de problemas musicais. Do pessoal mais novo que tenho trabalhado, tem a Maria Gadú, que veio nesse bolsão de novos artistas”, diz. “É uma menina que cresceu muito e crescerá muito mais, por ser extremamente musicalizada. Essa ideia de “Martelinho de Ouro” é, de certa forma, o que eu tento remeter a ideia de solucionar problemas.”

Entre os problemas mais recorrentes que encontra no trabalho de novos músicos, ele identifica a dificuldade na construção e na métrica das canções. “A gente tenta estabelecer uma espécie de padrão. E, dentro de um tempo médio da música, você não pode esticar muito os motivos (as ideias musicas, fragmentos da melodia), ou ter eles muito rapidamente”, explica.

Segundo ele, para uma absorção ouvinte, é preciso que esse jogo dos motivos musicas esteja composto de maneira ideal – e é aí que ele entre no processo: “Eu trabalho com musica popular, então, a primeira pergunta que eu faço pra quem trabalha comigo é: Você quer se comunicar? Você quer que um cara que more lá do outro lado do país entenda sua música?”.

Confira a entrevista em vídeo:

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