Por Abílio Neto
“Frevo e forró na minha vida
É como feijão e arroz:
Eu não vivo sem os dois!” (Ed Carlos)
Ele já foi Edy Carlos, agora é Ed Carlos e só não é confundido com aquele cantor da Jovem Guarda porque esse Ed pernambucano do Recife canta é muito frevo e forró.
Mais conhecido no exterior do que no próprio Brasil, esse artista é a cara da cultura pernambucana. Com mais de 20 anos de estrada, é um dos melhores intérpretes da música de Pernambuco. Já realizou temporadas em países como Holanda, Áustria, Itália, França, Suíça (Festival de Montreux) e Alemanha.
Ed Carlos participou de diversos festivais tais como Frevança, Canta Nordeste e Recifrevoé sendo premiado em alguns. Ele cresceu ao som dos ritmos regionais como o frevo, maracatu, forró, coco e ciranda. Por isso se tornou um artista tão eclético, embora algumas pessoas às vezes confundam isso com oportunismo. É injusto! Tendo talento, não deve existir barreira para o artista.
Em 1995, através do radialista Ednaldo Santos, foi criado na Rádio Jornal do Recife, o projeto “Rádio do Povo”, o qual reuniu em um programa especial, algumas pessoas que estudavam, cantavam, pesquisavam e conheciam a obra de Luiz Gonzaga para no final apontarem as cinqüenta melhores músicas do “Rei do Baião”.
Ed Carlos foi escolhido para interpretar cinco canções por semana a fim de serem submetidas ao voto popular. E tudo foi feito ao longo de dez semanas. Ao final, as dez melhores composições escolhidas por esse júri foram apresentadas em um grande show para toda população recifense.
Em 2008, 13 anos depois, Ed Carlos resgatou a memória de todo aquele processo para gravar o CD “É DO POVO”, uma obra que tem o escopo de sugerir uma reflexão sobre as mudanças e intervenções (estéticas e técnicas) realizadas nos (des)caminhos forró, estilo musical que se fez conhecido no Brasil e no mundo por meio de Luiz Gonzaga. É de suma importância realçar que os arranjos originais de “Seu Luiz” foram respeitados nas gravações. E foram acrescentadas mais três músicas ao projeto.
É um trabalho que não se preocupou muito com a evolução das sonoridades do forró defendidas por muitos. O enfoque principal foi a tradição e assim sendo a proposta inicial era não ter a presença de guitarras e metais para acompanhar o artista. Há de se reconhecer que o forró formado apenas com o tripé sanfona, zabumba e triângulo conquistou fervorosos adeptos em todo o mundo.
O registro sonoro ficou um pouco diferente da proposta, porém o forró apresentado, de maneira alguma é do tipo “forró transviado”. O disco foi gravado em Recife em abril de 2008 e traz os seguintes músicos: Cezinha (sanfona); Sandro Maia (violão de 12 e guitarra semi-acústica); Heraldo Júnior (baixalão); Raminho (zabumba, gonguê e triângulo) e um vocal formado por Lylian reis e Joana Angélica.
A capa do disco é muito bonita e traz a foto da sanfona de Luiz Gonzaga, com destaque para a expressão “É DO POVO”, registrada no instrumento do Rei do Baião. O trabalho rende homenagem a Gonzaga, em conjunto com a bancária Edelzuíta Rabello, uma espécie de madrinha do cantor, que foi o último amor de Luiz Gonzaga (meu zamô!). Digamos que foi a outra na vida dele porque de direito ele nunca se separou de Helena das Neves Cavalcanti Gonzaga. Mas Edelzuíta teve uma importância fundamental nos últimos 14 anos de vida do eterno Rei do Baião. Quem ama, cuida, e ela cuidou dele até 02/08/1989.
De certa forma, Ed Carlos ficou triste com este lançamento porque Edeluzuíta Rabello que sonhava tanto com essas gravações partiu deste mundo sem ouvi-las. Ficou a homenagem e ela é linda!
Eu gosto muito das treze gravações deste disco. São interpretações de primeira! Selecionei duas para tocar, emoldurando este trabalho, pelas seguintes razões: 1) A minha filha (quando menina) que hoje já tem 32 anos adorava o “Xote Ecológico”, de Luiz Gonzaga e Agnaldo Batista, este tão esquecido hoje em dia, música que animou a festa junina da criançada dos colégios até o começo da década de noventa; 2) O áudio “Matuto de Opinião” é um dos mais belos arrasta-pés gravados por Gonzaga, música dele com o filho Gonzaguinha. Aqui teve a participação especial de Santanna, outro herdeiro do Rei, que fez um belo dueto com Ed Carlos. Com direito à citação do nome “Edelzuíta” na repetição da letra da música.
Parabéns, Ed Carlos, esse seu disco apesar de não ser muito citado pela chamada mídia especializada, é uma obra prima!!!
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