Jazz, música eletrônica e muita brasilidade. Vos apresento o Projeto CCOMA, um duo que preza pela qualidade sonora a partir de um experimentalismo que vem dando certo.
Por Bruno Negromonte
A música brasileira é vista ao redor do mundo como uma das mais profícuas existentes no planeta. Esse é um dos fatores que faz nosso país ser mundialmente respeitado e reconhecido como um dos maiores celeiros musicais do existentes ao redor do mundo, e quando nos detemos à música instrumental é que as coisas de fato ganham visibilidade. Esse reconhecimento foi sendo construído ao longo dos anos, mais precisamente a partir do século XVIII através do nome do nome do compositor Carlos Gomes, perpassando por Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, João Pernambuco entre outros não menos relevantes nomes até desembocar no século XXI com uma gama sonora impressionante, onde o virtuosismo divide espaço com elementos eletrônicos, propiciando aos ouvidos dos admiradores da boa e velha música encontros até pouco tempo atrás inimagináveis. Quem pensaria na fusão de elementos sonoros aparentemente tão distintos tais quais a música eletrônica e o jazz a algum tempo atrás? Talvez isso fosse considerado até pouco tempo atrás como utópico, uma vez que a integração de elementos sonoros tão aparentemente divergentes resultaria em algo desagradável aos nossos ouvidos. No entanto, como hoje podemos ver, tudo não passou de um ledo engano; pois a evolução deu-se de modo harmonioso e hoje é possível aliar o mais rudimentar dos tambores às mais evoluídas tecnologias existentes. E neste novo panorama musical é possível afirmar que vem da região sul um dos grandes expoentes existentes em nosso país.
Advindos do estado do Rio Grande do Sul, mais precisamente da cidade de Caxias do Sul (cidade à cerca de 128 km da capital gaúcha), o Projeto CCOMA surgiu em 2004 a partir da ideia de dar vazão ao experimentalismo de dois amigos em um laboratório sonoro que corrobora, de certo modo, com o nome escolhido para o projeto, visto que o propósito era "bater de frente" com situação de estagnação induzida pela mídia de massa em nossa cultura uma vez que o nome do duo é indissociável ao estado de inconsciência profunda. No entanto há a necessidade de se levar em consideração que tal termo possui mais alguns relevantes significados que encaixam-se de modo muito peculiar visto que coma também é o espaço entre um semitom e outro das notas musicais, além de significar vírgula em espanhol. "queremos possibilitar um espaço, um momento, para as pessoas reflitam mais sobre a nossa música.", diz Roberto Scopel quando questionado o sobre o porquê desse batismo em forma de protesto.
Como já citado anteriormente, o Projeto CCOMA trata-se de um duo formado pelos músicos Roberto Scopel e Swami Sagara. O músico Roberto é trompetista desde os 10 anos de idade quando começou sua trajetória musical influenciado por sua família. Por volta de 2003, formou-se no Conservatório Pablo Komlós, especializando tanto no estilo Erudito quanto no Popular. De modo bastante sucinto, pode-se dizer que a sua trajetória musical conta com a participação em concertos com orquestras sinfônicas e apresentações ao lado de grandes nomes da música brasileira, entre eles Leila Pinheiro, Guilherme Arantes, Ivan Lins e Zeca Baleiro além de outros projetos. Já Sagara, atua a mais de duas décadas como músico e além de percussionista é também produtor e baterista. Talvez pela larga experiência hoje ele sinta-se tão à vontade para dar ênfase a esse experimentalismo que já tornou-se marca registrada dessa dupla que traz arraigada em seu som tantas peculiaridades.
Dessa combinação de elementos sonoros tão distintos surgiu esse hibridismo entre a música instrumental e a eletrônica, fazendo um som que foge aparentemente de qualquer paradigma nesta união de bits, trompetes e elementos percussivos que resulta em uma espécie de 'future jazz', visto que une o tradicional ritmo norte americano à uma simbiose interessante, onde as experimentações rítmicas dão vazão a novas óticas musicais. O modo high tech como ambos encaram até os mais primitivos ritmos a partir de elementos percussivos tais quais tambores e artefatos inusitados somados a influências do rabian-beats, elektro-bossa, electro-tango, Mile Davis e uma boa dosagem de música brasileira faz desse efervescente caldeirão denominado de "Future Jazz" um dos grandes destaques da música instrumental contemporânea brasileira.
A estória em disco desta dupla teve início em 2009 com o lançamento do disco “Das CComa Projekt”, porém a visibilidade maior só veio no disco posterior, quando Roberto e Swami foram indicados ao longo do ano passado ao 23º Prêmio da Música Brasileira, concorrendo na categoria “melhor álbum eletrônico”. Nesta mistura de "saravá eletrônico com Miles Davis" (como se auto definem definem) eles estão na estrada divulgando o seu mais recente trabalho cujo título faz jus a sonoridade da dupla. Batizado de "Peregrino", o disco conta com a assimilação sonora, rítmica e melódica de diversas culturas ao redor do mundo. O som vai das diversas culturas existentes na América do sul, passando pela cultura Turca e indiana até desaguar na influência do jazz e da música brasileira. Nessa miscelânea onde instrumentos como o theremin e a zurna juntam-se ao exótico hang drum e trompetes em uma verdadeira celebração do elemento som nas dez faixas autorais existentes no álbum, um disco que conta com a adesão de nomes como Zeca Baleiro, Di Melo (O Imorrível), Luciano Sallun (Pedra Branca), Paulo Johann, Corina Piatti, Diogenes Baptisttella e João Luiz Oliveira.
Di Melo está presente no afrobeat “Xangô é Rei”, uma canção imbuída de brasilidade onde os vigorosos metais e tambores afro revestem-se de uma sonoridade pop a partir de elementos tecnológicos em uma verdadeira, parafraseando os cantores e compositores Gilberto Gil e Caetano Veloso, “bitmacumba”. O disco tem continuidade com faixas como “Grand Bazar” (uma canção que pincela elementos sonoros indianos, porém não deixa de fazer jus a classificação atribuída a ela: a word music). De influência moura o disco ainda apresenta “Bukowina”.
Di Melo está presente no afrobeat “Xangô é Rei”, uma canção imbuída de brasilidade onde os vigorosos metais e tambores afro revestem-se de uma sonoridade pop a partir de elementos tecnológicos em uma verdadeira, parafraseando os cantores e compositores Gilberto Gil e Caetano Veloso, “bitmacumba”. O disco tem continuidade com faixas como “Grand Bazar” (uma canção que pincela elementos sonoros indianos, porém não deixa de fazer jus a classificação atribuída a ela: a word music). De influência moura o disco ainda apresenta “Bukowina”.
O gênero mais representativo do nosso país é representado através de “Partido-alto-canhoteiro” (uma alusão a partir de um dos estilos existentes do samba.) Outro ritmo reverenciado é a tradicional milonga (gênero musical de forte influências na América platina e que se faz presente também no Rio Grande do Sul, estado de origem dos músicos.). O ritmo aqui é apresentado a partir da faixa “Milonga para los perros” como pode-se conferir no video-clipe acima. As mais tradicionais raízes musicais brasileiras também surgem a partir de “Iracino e Cerolvita”, um baião vanguardista embebecido no tradicional maracatu e complementado por uma dosagem de música eletrônica. O disco ainda conta com “Amazonica fever”, “Música surda”, “Caminho do meio” e para atestar a universalidade e ecletismo da dupla a canção “Cosmopolita”, que conta com a participação de Zeca Baleiro e que ganhou recentemente um clipe.
Em 2009 o cineasta colombiano Daniel Vargas e o Projeto CCOMA produziram um média metragem com imagens produzidas em países como Grécia Colômbia, Brasil, Alemanha e Uruguai, Inglaterra e França onde diversos músicos dão os seus respectivos depoimentos sobre como é a vida de músico e suas respectivas dificuldades diante das novas perspectivas do mercado fonográfico, das novas tecnologias existentes diante dos antigos meios de fazer música entre outras dualidades existente na profissão. O Documentário encontra-se na íntegra logo acima para que possamos tirar nossas respectivas conclusões.
Maiores informações:
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