sábado, 8 de setembro de 2012

25 ANOS SEM DICK FARNEY

2012 completa-se 25 anos que o cantor Dick Farney partiu para a eternidade deixando a sua marca dentro da música popular brasileira de modo singular.

Por Bruno Negromonte


Ao nos referirmos a Farnésio Dutra e Silva, poucos serão aqueles que saberão associar o nome a figura daquele que foi um dos maiores cantores do Brasil e cuja fama se propagou através do nome artístico de Dick Farney. Dick, que faleceu a exatamente 25 anos, marcou a história da mpb com os requintados arranjos que executava ao piano, assim como também com a sua belíssima voz nas interpretações diversas ao longo dos mais de 40 anos de carreira. Em sua voz ficaram registros antológicos de canções como "Marina" (Dorival Caymmi), Teresa da Praia (em parceira com Lúcio Alves) entre outros clássicos do nosso cancioneiro.

Farney, que nasceu no Rio de Janeiro em 14 de novembro de 1921, começou a tocar piano ainda na infância, pois sua família era bastante musical. A mãe ensinou canto ao pequeno Farnésio e o pai, responsável pelas primeiras instruções ao piano do futuro artista carioca, não sabia que o aquele que viria a ser um artista ouvia os seus discos de jazz escondido.

Na década de 30 Farney deu os seus primeiros passos rumo ao profissionalismo, ganhando pequenos cachês para tocar jazz no programa Picolino, apresentado por Barbosa Junior na Rádio Nacional. Em 1937 estreou como cantor no programa Hora juvenil na rádio Cruzeiro do Sul do Rio de Janeiro, quando interpretou a canção "Deep Purple" composta por David Rose. Com 18 anos, ouviu pela primeira vez Bing Crosby e o estilo intimista com o qual registrava as canções em seus álbuns. Foi arrebatadora a admiração pelo cantor e ator norte-americano, fazendo-o inclusive comprar todos os discos disponíveis até então do artista e ouvindo-os repetidamente para aprender a pronunciar as palavras exatamente como pronunciava o americano. Foi quando teve a ideia de mandar uma das gravações feitas dessas interpretações para que César Ladeira, da Rádio Mairynk Veiga, pudesse ouvir. Impressionado com a semelhança com Grosby resolveu contratá-lo para cantar músicas americanas. Em seguida, Farney começou a apresentar o programa Dick Farney, a voz e o piano. Vale ressaltar que vem desse mesmo período o conjunto formado por Dick em parceria com o seu irmão Cyll Farney (na bateria) intitulado de Os swing maníacos. Esse grupo acompanhou Edu da Gaita na gravação da música Canção da Índia, do compositor russo Nikolay Rimsky-Korsakov.




Pouco depois Farney tornou-se pianista e crooner da Orquestra de Carlos Machado, que se apresentava no Cassino da Urca. Foi lá que Dick Farney, que só cantava Bing Crosby, começou a gravar samba e recebeu o convite, em 1946, para ir à Broadway com a orquestra de Eddie Duchin. Antes de viajar, gravou vários discos para a Continental, adaptando o samba-canção para o estilo Bing Crosby exigindo nos arranjos violinos, harpas e instrumentos de Radamés Gnatalli. Nesta excursão por terras norte-americanas fez diversas apresentações na rádio NBC, principalmente como cantor fixo no programa do comediante Milton Berle. Voltando para o Brasil apresentou-se com sucesso na boate carioca Vogue e encontrou todos os seus discos nas paradas de sucesso e um fã clube integrado por Tom Jobim, Johnny Alf, Nora Ney, Billy Blanco, Carlos Manga e Baden Powell.


Na década de 50 apresentou na Tv Record, canal 7 de São Paulo, o programa "Dick Farney Show", na década seguinte formou a Dick Farney e sua orquestra que animou muitos bailes. 1965 na recém-inaugurada TV Globo - Canal 4, Rio de Janeiro, apresentados por Betty Faria e Dick Farney, o programa de TV Dick e Betty.
Foi proprietário das boates Farney´s e Farney´s Inn, ambas em São Paulo. 1971 - formou um trio com Sabá. De 1973 a 1978 tocava piano e cantava na boate Chez Régine no Rio. 

Em todas suas gravações, que tiveram Braguinha como diretor artístico, predominava o jeito manso e romântico de cantar, dissonâncias que só viriam a aparecer com o surgimento da bossa nova mais de 10 anos depois.


O primeiro fã-clube do Brasil: Sinatra-Farney

Por volta de 1948, o radialista Luís Serranodesembarcou na Praça Mauá vindo de Nova York. Da terra do tio Sam, ele trouxe a ideia de um programa de rádio, que passou a apresentar naRádio Globo - o Disc-Jockey. A modernidade da vez era exatamente o que parece, o DJ tocaria discos na rádio. Hoje isso pode parecer uma coisa banal, mas na época quase toda a música que se ouvia no rádio era ao vivo. Além de apresentar as gravações mais recentes, Serrano ainda falava dos artistas e buscava um intercâmbio com os fãs. 

Como acontecia nos Estados Unidos, esse intercâmbio ficava muito mais fácil se os fãs se reunissem de alguma forma. Por esse motivo, o radialista começou a divulgar os fã-clubes em seu programa e a tocar discos estrangeiros, principalmente os da Capitol.

No bairro da Tijuca, três meninas pegaram no ar as ideias sobre fã-clubes que Serrano transmitia pelas ondas do rádio. As primas Joca, Didi e Tereza Queiroz fundaram, em 1949, o primeiro fã-clube do Brasil. A sede do Sinatra-Farneyficava em um porão, na Rua Dr. Moura Brito. Para ser membro era preciso passar por um teste. Todos no fã-clube tinham que ter um talento artístico, como seus ídolos. Alguns cantavam, outros dançavam e uma boa parte se esforçava para tocar algum instrumento.

Nessa época, o grande sucesso de Sinatra era "Night and day". E o brasileiro Dick Farney fora revelado pela canção "Copacabana". De Sinatra, os fãs tijucanos recebiam cartas e fotos autografadas. O que já era uma grande conquista. Farney, por sua vez, teve participação ativa no clube. O dono da "voz de almofada" fez amizade com a turma que frequentava o porão, e até lhes apresentou outros artistas. 

Mas os jovens do Sinatra-Farney não se destacam no cenário musical apenas por terem fundado o primeiro fã-clube do país. Alguns dos membros foram também nomes importantes no início da Bossa Nova. Para se ter uma ideia, faziam parte do clube: Johnny Alf, João Donato, Paulo Moura, Raul Mascarenhas, Fafá Lemos, Klécius Caldas, Armando Cavalcante, Nora Ney, Mirzo Barroso e Carlos Manga.

O Sinatra-Farney durou até 1953. Nessa época, Sinatra já tinha se casado com Ava Gardner e já tinha entrado no seu famoso inferno astral . Dick também se casou e passou a ter menos tempo para se dedicar ao clube. Nessa época os garotos também já estavam crescendo, e o clube foi perdendo o gás. Mas até hoje, são muitos os que admiram Frank Sinatra e Dick Farney.

Dick faleceu aos 65 anos de edema pulmonar no dia 04 de agosto de 1987, deixando como legado uma coerente carreira artístisca, apesar de combatido pelos críticos de ter "deformado o samba", nos mais de 40 anos de atividade artística. 



Discografia

1944 - The music stopped(fox)/Mairzy doats(fox-trot) - Com a Orquestra de Ferreira Filho - Gravadora Continental
1944 - What's new? (fox-trot) - Crooner do Conjunto Milionários do Ritmo.
1944 - San Fernando Valley/I love you
1944 - I don´t want to walk without you
1945 - This love of mine/The man I love
1946 - Copacabana/Barqueiro do rio São Francisco - Com acompanhamento de Eduardo Patané
1946 - Era ela/Ela foi embora
1947 - Just an Old Love of Mine (Peggy Lee/Dave Barbour)/For Once in My Life (Fisher/Segal) Com Paul Baron e Sua Orquestra
1947 - Marina/Foi e não voltou
1947 - Gail in Galico/For sentimental reasons
1948 - Ser ou não ser/Um cantinho e você
1948 - Meu Rio de Janeiro/A saudade mata a gente
1948 - Esquece/Somos dois…
1949 - Ponto final/Olhos tentadores
1949 - Junto de mim/Sempre teu
1950 - Não tem solução/Lembrança do passado - Gravadora Sinter
1951 - Uma loira/Meu erro
1951 - Canção do vaqueiro/Nick Bar
1952 - Mundo distante/Não sei a razão
1952 - Luar sobre a Guanabara/Fim de romance
1952 - Sem esse céu/Alguém como tu
1953 - Perdido de amor/Meu sonho
1953 - Nova ilusão/João Sebastião Bach
1953 - April in Paris/All the things you are
1953 - Speak low/You keepcoming back like a song
1954 - Copacabana/My melancholy baby
1954 - Tenderly/How soon - Majestic Records
1954 - Somebody loves me/There's no sweeter word than sweetheart
1954 - Marina/For once in your life
1954 - Grande verdade/Você se lembra?
1954 - Outra vez/Canção do mar
1954 - Tereza da praia/Casinha pequenina - Junto com o cantor Lúcio Alves
1954 - Música romântica com Dick Farney- Lançou o long-play ou Lp com a destaque para a música "Canção do mar"
1954 - Sinfonia do Rio de Janeiro - Disco de 10 polegadas
1955 - A saudade mata a gente
1955 - Foi você/Tudo isto é amor
1955 - Dick Farney e seu Quinteto
1955 - Bem querer/Sem amor nada se tem
1955 - Dick Farney on Broadway
1956 - Jingle bells/White Christmas/Feliz Natal
1956 - Jazz Festival
1956 - Jazz after midnight
1956 - Meia-noite em Copacabana com Dick Farney
1956 - Dick Farney Trio - contendo a canção "Valsa de uma cidade" (Ismael Netto/Antônio Maria)
1957 - Un argentino en Brasil/Nem fala meu nome
1957 - O ranchinho e você/Só eu sei
1957 - Toada de amor/O luar e eu…
1959 - Este seu olhar/Se é por falta de adeus
1959 - Esquecendo você/Amor sem adeus
1959 - Atendendo a pedidos
1960 - Dick Farney em canções para a noite de meu bem
1960 - Dick Farney e seu jazz moderno no auditório de O Globo
1960 - Dick Farney no Waldorf
1961 - Somos dois/Uma loura
1961 - Dick Farney Jazz
1961 - Dick Farney Show
1961 - Jam Session
1962 - Dick Farney apresenta sua orquestra no auditório deO Globo - Paticipação especial de Leny Andrade
1965 - Meia-noite em Copacabana
1967 - Dick Farney, piano e Orquestra Gaya
1972 - Penumbra e romance
1973 - Dick Farney
1973 - Concerto de Jazz ao vivo
1974 - Dick Farney e você
1974 - Um piano ao cair da tarde
1975 - Um piano ao cair da tarde II
1976 - Dick Farney
1976 - Tudo isso é amor - Junto com a cantora Claudette Soares
1977 - Cinco anos de jazz
1978 - Dick Farney
1978 - Tudo isso é amor II
1979 - Dick Farney: o cantor, o pianista, o diretor de orquestra - série Retrospecto - gravadora RGE
1981 - Noite
1983 - Feliz de amor
1985 - Momentos Inexplicáveis
1986 - Dick Farney "ao vivo" (Arte do espetáculo) - Gravado no restaurante - Bar Inverno e Verão, na cidade de São Paulo.


Fonte:
Wikipédia
http://atrilhasonora.blogspot.com.br

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