O sambista teve um AVC na sexta, chegou a ser internado, mas optou por voltar para casa, onde faleceu na manhã deste domingo.
RIO - O cantor carioca Roberto Silva, conhecido no meio musical como o "Príncipe do Samba", morreu na madrugada deste domingo, às 3h30m. Diagnosticado há seis meses com um câncer na próstata, o sambista de 92 anos teve um AVC na quarta-feira e foi levado ao hospital, onde foi constatado que alguns órgãos pararam de funcionar. Lúcido, Silva pediu para ser levado para casa e chamou seus familiares.
— Viemos todos, de vários lugares diferentes, a pedido dele. Meu avô estava em casa, como queria, e morreu em paz. Passamos a noite rezando — conta a neta Amanda Napoleão.
Ídolo de Zeca Pagodinho e João Gilberto
Zeca Pagodinho lamentou a morte do ídolo:
— A gente perde um grande sambista. uma pessoa completamente do bem, e que viveu com muita dignidade.
Foram quase 75 anos dedicados à música. Nascido em Copacabana, mas criado em Inhaúma, ele começou a cantar ainda garoto e se destacou pela voz grave e pelo estilo, inspirado inicialmente em Orlando Silva. Sua interpretação, que se destacava pelo sincopado, logo chamou atenção no seu primeiro sucesso, “Mandei fazer um patuá” (R. Olavo/N. Martins). Trabalhou na Rádio Nacional, levado por Paulo Gracindo, e depois migrou para a Tupi, onde passou 17 anos e ganhou o apelido com que ficaria conhecido por toda a vida.
Foi nesta época que gravou seus sambistas preferidos, como Ataulfo Alves, Geraldo Pereira, Haroldo Lobo, Bide e Marçal. “Maria Teresa” (Altamiro Carrilho), “Juraci me deixou” (Raimundo Olavo/ Oldemar Magalhães), “Escurinho” (Geraldo Pereira) e "Notícia" (Nelson Cavaquinho) foram alguns dos sambas que ficaram conhecidos em suas gravações.
Enterro em Inhaúma
Apesar da idade avançada, Roberto estava bem e vinha fazendo shows, como o que relembrou seu disco “Descendo o morro” no Instituto Moreira Salles (RJ), em junho (veja a apresentação na íntegra aqui). O álbum, de 1958, fez tanto sucesso que ganhou três continuações, de 2 a 4.
— Fui abençoado por uma voz que me permite cantar de tudo, canções, valsas, baiões e até bolero, mas é com o samba que mais me identifico — disse na ocasião, garantindo que mantinha o instrumento de trabalho em forma graças aos 20 minutos de exercícios vocais que fazia toda manhã.
Em 2002, ele integrou o elenco do espetáculo "O samba é a minha nobreza", em que se apresentava ao lado de novos sambistas revelados pela Lapa, como Pedro Miranda e Pedro Paulo Malta, ganhando uma nova geração de fãs. O show contava com uma vinheta gravada com João Gilberto reverenciando o Príncipe do Samba, que era um de seus ídolos.
— O Roberto era a própria nobreza do samba — afirma Hermínio Bello de Carvalho, que concebeu o espetáculo. — Quando estava fazendo a produção, lembrei que João Gilberto era fã dele. Ele o admirava tanto que até gravou uma frase em homenagem, que incluímos no show. Roberto gostava muito de trabalhar, dominava o palco e era sempre ovacionado.
Roberto, que completou 92 anos em abril, deixou viúva, Syone Costa, sete filhos e 30 netos, bisnetos e tataranetos. O velório acontece neste domingo a partir de 12h e o enterro será às 15h40, no Cemitério de Inhaúma, na Capela Santa Isabel, sala B.
Fonte: O Globo
Fonte: O Globo
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