Por Julio Maria
Ao telefone, um diálogo entre Pedro Mariano e Lenine fazia os dois lados da linha tremer. De cá, o filho de Elis Regina remexia no legado da mãe para convidar o cantor pernambucano a participar de um show. De lá, Lenine ouvia suas palavras sentindo o peso de cada sílaba. Juntos, tentavam chegar à melhor canção a ser interpretada pelo nordestino em uma noite em homenagem a Elis. "Cara, você é um dos poucos que eu conheço que consegue viajar de verdade, entrar na história que a música conta. Que tal Atrás da Porta?", dizia Pedro, já de caso pensado. Mas, claro, havia também O Bêbado e a Equilibrista, Fotografia, Arrastão. "Rapaz, só tem pedreira!", espantava-se Lenine. Ao final, ficou Atrás da Porta.
O projeto que vai fazer só homens mergulharem nas canções de Elis, maquinado por Pedro desde 2009, já está com data, hora, local e elenco fechados. Batizado Elis por Eles, o show de noite única será hoje, 02 de agosto, no Teatro Positivo de Curitiba. As agendas dos artistas não permitiram uma segunda noite. A apresentação será lançada em CD e DVD em novembro. A lista de 14 músicas, cada uma sendo defendida por um artista que não necessariamente conviveu com a cantora, aposta sobretudo nas músicas de maior sucesso de Elis. Invertendo a lógica das homenagens desta natureza, Pedro evitou, com exceção do caso de Lenine, escolher as músicas. No momento de chamar os artistas, perguntou o que gostariam de interpretar e pediu ao músico Otavio de Morais que fizesse os arranjos parecidos com os originais. A ideia é valorizar os intérpretes sem partir para malabarismos criativos que desfigurem as versões originais.

Seu Jorge vai encarar a pedreira de Cai Dentro, um samba de divisão e métrica em alta velocidade de Baden Powell e Paulo Cesar Pinheiro. Ao falar com Pedro, Seu Jorge resumiu. "Cara, sua mãe era do morro." Rogério Flausino, do grupo Jota Quest, escolheu Vivendo e Aprendendo a Jogar, de Guilherme Arantes, de uma fase em que Elis queria se aproximar mais das rádios FM. A justificativa de Flausino só mudava a última palavra: "Cara, sua mãe era pop."
Ao chamar Chitãozinho e Xororó, Pedro tinha certeza de que escolheriam Romaria ou Casa no Campo. Nenhuma das duas. A mulher que abriu a porteira para a adormecida música sertaneja com a gravação de Romaria, de Renato Teixeira, em 1977, será representada pela dupla sertaneja que vai cantar Como Nossos Pais, de Belchior.
O lado mais B de Elis foi escolhido por Emílio Santiago, Moda de Sangue, de Jerônimo Jardim e Ivaldo Roque, gravada no disco Saudades do Brasil. "Foi no espírito deste show que me inspirei para fazer esta homenagem", lembra Pedro. Os outros convidados serão Roupa Nova (Casa no Campo), Jorge Vercillo (O Mestre Sala dos Mares), Diogo Nogueira (Amor Até o Fim), Filipe Catto (Tatuagem) e Moska (Nada Será Como Antes), além do próprio Pedro Mariano, que fará o encerramento com O Bêbado e a Equilibrista.
2 comentários:
Bruno, esse projeto aí vai "bombar".
Gente de peso que sabe fazer.
Ótimo post.
Xeros
A Elis então é a culpada pelo avanço da pavorosa música sertaneja nas FMs.coitada.
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