O ENCONTRO ENTRE CLÁUDIO NUCCI, NELSON CAVAQUINHO E NOEL ROSA

Homenageando artistas centenários, Cláudio Nucci cumpre a difícil missão de sintetizar a obra de dois dos maiores nomes do samba em um único trabalho.

Por Bruno Negromonte

O cantor, compositor, instrumentista e produtor Claudio José Moore Nucci nasceu no município de Jundiaí, cidade do interior de São Paulo que fica a cerca de 489 Km de distância do berço dos dois homenageados desse novo projeto idealizado pelo ex-integrante do grupo Boca Livre.

Com mais de 30 anos de estrada, Claudio Nucci deu início a sua vida profissional em 1976, com o show "Pensamento de momento", e desde então vem conduzindo a sua carreira pautada em uma qualidade inquestionável a partir, a princípio do "Grupo Semente", posteriormente com Zé Renato, David Tygel e Maurício Maestro no "Boca Livre" até 1980,  posteriormente em carreira solo, assim como também em incursões com o grupo vocal "Nós e Voz" e em dupla com Zé Renato. Além, é claro, de sua carreira solo.

Autor de sucessos como "Toada" (com Zé Renato e Juca Filho) e "Quem tem a viola" (com Zé Renato, Xico Chaves e Juca Filho), faixas do primeiro LP do Boca Livre. Além de canções como "Meu silêncio" (c/ Luís Fernando Gonçalves), "Aventureiro" o grande sucesso do repertório do grupo Roupa Nova: "Sapato velho" (com Mu Carvalho e Paulinho Tapajós) já foi gravado por grandes nomes de nossa música popular, dentre os quais Nana Caymmi, Emílio Santiago, César Camargo Mariano, Zizi Possi, Simone, Cauby Peixoto, Quarteto em Cy, Joyce, Pery Ribeiro e Olívia Hime.

Em 2004, no álbum que antecede essa homenagem aos dois grandes nomes do samba brasileiro, Nucci também trouxe um trabalho temático abordando o repertório do cantor e compositor soteropolitano Dorival Caymmi. O disco intitulado "Ao mestre, com carinho" é composto por 14 faixas em homenagem aos 90 anos do artista baiano.

E com este novo projeto não poderia ser diferente. Todas as marcantes características que norteiam a carreira do artista desde o início se encontram presentes em "Noel, Nelson e Nucci". Pelo prazer de fazer música Claudio Nucci emprega toda ternura e sensibilidade a partir de arranjos que comprovam a sua suave musicalidade e bom gosto.

O marcante repertório de Nelson Cavaquinho (1911 - 1986) e Noel Rosa (1910 - 1937), dois cariocas que entraram para a história do nosso cancioneiro tendo características o legado deixado para o nosso samba, funde de maneira as canções da lavra de Nucci de maneira uníssona a partir das doze faixas presentes no álbum. Clássicos do poeta da Vila como o samba-canção "Três apitos" (1933), "Conversa de botequim" (1935) , "Tarzan (O filho do alfaiate)" (1936) e "Palpite infeliz" (1935) estão dividindo espaço com faixas de autoria do cantor e compositor jundiaiense como "Integridade" (Claudio Nucci e Felipe Cerquize), "Polícia montada" (Claudio Nucci), "Metade" e "Noel" (ambas de autoria de Claudio Nucci e Luiz Fernando Gonçalves). Soma-se aí ainda canções de outro bamba do samba que é Nelson Cavaquinho, que vem assinando "Cuidado com a outra" (com Augusto Tomás Júnior), "Minha festa", "Folhas Secas" e "Quando que eu me chamar saudade" (todas em parceria com Guilherme de Brito).

Depois de oito anos, Nucci volta ao mercado fonográfico mostrando em sua plenitude, apresentando novamente não só o seu vigoroso e fértil lado compositor, assim como também sua veia interpretativa a partir de grandes clássicos da nossa música em arranjos simples, vigorosos e elegantes. É um trabalho que exige a necessidade da calma para o seu "consumo", pois recomenda-se sentir o "aroma" das melodias e o "sabor" de cada verso presente tanto no disco quanto no show que já vem percorrendo o país. O espetáculo "Noel, Nelson e Nucci"

vem mostrando-nos que o velho bom jeito de fazer canções ainda vive, nos remetendo a um tempo onde a música e o coração eram inseparáveis a partir da mesma sonoridade presente no cd, a partir de Claudio Nucci (Voz e Violão/Baixo), Rafael Lorga (Percussão), Dri Gonçalves (Voz) e Marcelo Bernardes (Sopros).