quinta-feira, 15 de setembro de 2011

DE FAMÍLIA MUSICAL E EMPUNHANDO DE FORMA SEGURA SEU VIOLÃO, ANTONIA ADNET CHEGA DISCRETAMENTE

Com um lindo timbre e oriunda de uma clã pra lá de musical, Antonia Adnet apresenta "Discreta", um álbum essencialmente autoral, onde o título cai como uma luva para a artista carioca. Completa, a cantora mostra neste álbum de estreia todo o seu talento como arranjadora, cantora, compositora e instrumentista entrando de vez para o hall dos grandes talentos contemporâneos sem alardes.

Por Bruno Negromonte



Ao dar início a esta pauta, a primeira coisa que me veio a cabeça foi parafrasear um conhecido poema do saudoso mineiro Carlos Drummond de Andrade intitulado "A quadrilha" e que muitos devem conhecer. Na leitura de Francisco Achcar, o epigrama apresenta uma serialização de desencontros amorosos, através de associações ligadas aos nomes próprios; porém, o que procuro trazer aqui seria a arte como motivo agregador de tais protagonistas.


Segundo Drummond: "João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém." Analogamente com tal escrito poderia me referenciar a esta carioca nascida em um dia de outono da seguinte forma: "Carmen que toca com César que toca com Chico que toca com Muíza que toca Maúcha que toca com Mário que canta com Joana que canta com Antonia que decidiu cantar e encantar todo o Brasil."

Todos os nomes citados nessa paráfrase são da família Adnet e estão diretamente ligados à música; desde a avó Carmen Adnet até as netas Joana e aquela que aqui vamos dar destaque: Antonia Adnet. A octogenária Carmen por exemplo é especialista na obra do músico polonês Chopin e lançou recentemente um trabalho em que procura comemorar o bicentenário do compositor. A matriarca costuma dizer que fez o que poucas pianistas conseguem: “Fundei uma família musical de que me orgulho muito.” revela. Em meio a genealogia e partituras as filhas da pianistas seguiram na música, além de vários sobrinhos (como o maestro Chico e Mario, filhos de Cezar Adnet, irmão de Carmen).


O breve histórico genealógico sobre a artista a qual vamos apresentar ao público do Musicaria Brasil torna-se válido como explicação, quando observamos na jovem Antonia Adnet tanto talento, requinte e virtuosismo. A arranjadora, cantora, compositora e violonista Antonia Campello Adnet, filha do também multifacetado músico e produtor de grandes nomes da música popular brasileira Mario Adnet, começou no mundo da música ainda criança quando aos seis anos de idade já arranhava os primeiros acordes em um violão dado por seu pai. Daí para dar início a sua carreira artística foi algo natural, pois tendo o incentivo paterno e o envolvimento musical de sua irmã Joana e demais parentes bastou a junção da dupla de amigos Gabriel (sobrinho do Evandro Mesquita) e João Gabriel (filho do músico Nando Carneiro e da atriz e cantora Beth Goulart) para ter origem ao grupo Cabelos Musicais, trupe esta levada com bastante diversão pelas crianças, mas que não deixou de prezar pela qualidade musical; tanto que em 1993 apresentaram-se no Jazzmania (RJ), em um "showcase" do Centro Musical Antonio Adolfo. 



Nesse mesmo período Antonia, então com oito anos, começa a compor. Daí em diante a pequena Adnet seguiu com diversas apresentações e participação em festivais no Rio de Janeiro. Esta precoce carreira se deu por conta de dela desde muito cedo está envolta com música a partir da rotina de estúdio, arranjos e composições que seu pai se submetia, além também da participação de sua mãe enquanto produtora; sem contar é claro das demais influências existentes na família. Todas essa base musical ela costuma ressaltar sempre que questionada com frases do tipo: “Meu pai foi uma superinfluência para mim” ou “Minha família é de artistas pelos dois lados. Eu sou Campello Adnet”.

Seu envolvimento com a música tornava-se algo irreversível, tanto que participou como vocalista da gravação de diversos cd's, dentre eles o do programa infantil "TV Colosso" (Rede Globo) e também de alguns artistas, dentre eles nomes como Simony, Emílio Santiago, Angélica, Tateando, Rádio Maluca do Zezuca e Lisa Ono. Outro detalhe nessa sua carreira de cantora foi sua atuação também em gravações de alguns jingles publicitários.

Já na adolescência teve aulas de violão e teoria musical com a professora Celia Vaz fazendo com que seu envolvimento na carreira musical já fosse o suficiente para a jovem não mais ter como voltar atrás, tanto que pouco tempo depois com então 14 anos, interpreta (junto com a irmã) a obra dos Beatles, a partir de arranjos elaborados por elas mesmo.

A redenção musical veio a partir dos anos 2000, quando participou no Mistura Fina e no teatro do Leblon (ambos no Rio de Janeiro) do show de lançamento dos discos "Para Gershwin e Jobim" e "Villa-Lobos, coração popular", do seu pai e maior influente. No primeiro como convidada especial, no segundo como violonista. Sem contar sua atuação nos vocais do álbum "Para Gershwin e Jobim 2" (ao lado da tia Muíza e da irmã Joana) e a fundação da banda 3/2, onde atuou como arranjadora, cantora e violonista ao lado de Henrique Vilhena (baixo), Leo Ehrlich (bateria) e Vinicius Ferreira (guitarra).



Em 2003 ingressou na UNI-Rio, no curso de bacharelado em arranjo (música popular) e teve aulas de violão solo e violão de 7 cordas com o professor Luiz Otávio Braga; vem desse período o grupo “Gandharvas”, onde Antonia (sob orientação do professor Roberto Gnattali e ajuda do seu pai) procurou abordar a obra do pernambucano Moacir Santos adaptando inclusive alguns arranjos do disco “Ouro Negro”. Nesse período houve diversas apresentações do grupo, sendo a mais importante a do Armazém Digital do Leblon, que contou com a presença do próprio Moacir.

Em 2005 recebe do tio Rodrigo Campello o convite para o substituir na banda da cantora potiguar Roberta Sá, onde participou da das turnês dos dois primeiros álbuns da artista (Braseiro e Que Belo Estranho Dia Para se Ter Alegria). Dessa experiência relata que substituir seu tio foi algo desafiador, pois até então só tocava violão de seis cordas enquanto ele tocava guitarras, violão de 7 e cavaco. O desafio foi superado a partir de muito empenho e hoje Antonia a partir de sua dedicação já tem um domínio musical que vai além do violão tradicional; e esse acumulo de experiência fez com que ela se dedicasse em definitivo à carreira artística, deixando pela metade o curso de desenho industrial para concluir o curso de música na Uni-Rio. Atualmente, com o curso da UNI-Rio já concluído, faz aulas de canto com o preparador vocal Felipe Abreu, participa da atual turnê da Roberta Sá: “Pra Se Ter Alegria” e vem lançando o álbum que aqui por nós está sendo abordado.

Vale salientar que essa sua permanência na banda da cantora potiguar acabou lhe dando o amadurecimento necessário para a cogitação da ideia da gravação do primeiro álbum, fato que veio a acontecer de maneira gradativa ao longo de dois anos nos intervalos de suas apresentações junto a Roberta Sá. De 2008 a 2010, Antonia aos poucos, foi dando os moldes necessários ao disco. O resultado não poderia ter sido outro: um excelente álbum no final. "Eu me envolvi em cada pedacinho desse disco", conta a cantora, que se diz orgulhosa com o resultado obtido. O disco acabou sendo lançado a partir de uma parceria entre a Biscoito Fino com o selo Adnet Mvsica e a ele foi dado o nome de "Discreta", onde o canto pequeno, doce e afinado de Antonia sedimenta de vez o seu nome entre os poucos nomes artísticos femininos que abrangem as características que o seu talento apresenta.


O repertório de "Discreta" é basicamente autoral, pois das 12 faixas Antonia assina sete. Isso talvez se dê porque desde os 6 anos a artista toca violão e compõe desde os 8 anos, como foi abordado anteriormente. O disco começa com "Carnavalzinho" (Meu Carnaval) (Lisa Ono e Mario Adnet), onde o suave tom de sua voz dá a essa canção uma interpretação que nos remete aos áureos tempos das marcha ranchos cantadas pelas grandes divas de nossa MPB. Em seguida vem "Um Dia Quem Sabe" (canção composta por Antonia quando tinha por volta dos 15 anos) e a faixa que batiza o álbum: "Discreta" (um samba-canção que fala do desejo de um dia tranquilo, mas que gera surpresas a partir do encontro com um grande amor e seus nuances) como diz a letra entoada com a participação especial da Roberta Sá: "A minha discrição é um labirinto, não dou minha descrição pra quem chegar". A faixa que segue trata-se de um choro instrumental e inédito composto pelo maestro pernambucano Moacir Santos na década de 40, a canção "Vitrine" vem como um verdadeiro presente para os ouvintes deste disco.


Da lavra mais recente da artista vêm as faixas "Dois" (com Daniel Basílio) e "Vem e Vai" (com Ana Clara Horta), canções que trazem como eixo temáticos respectivamente os encontros e despedidas de um amor e a crença positiva no dia de amanhã. A faixa "Pessoas Incríveis" trata-se de uma canção essencialmente feita pela clã Adnet. A música foi composta por Mario, há a participação de Marcelo Adnet (o conhecido humorista que atua na MTV no programa Adnet Ao Vivo), as guitarras e programações ficam por conta do tio Rodrigo Campello e nos vocais a irmã, o pai, as tias e o tio Chico; a única exceção na composição da faixa encontra-se na letra da canção composta pelo poeta carioca Bernardo Vilhena e na execução dos cellos, que é feita pelo músico gaúcho Hugo Vargas Pilger.

Em seguida vem mais uma canção instrumental, desta vez de autoria da própria Antonia, a canção é intitulada de "Primeiro Choro".



O álbum segue com a canção "Quero Um Xamego" (Dominguinhos e Anastacia) gravada originalmente em 1976 no álbum "Domingos Menino Dominguinhos" e que conta com a participação do João Cavalcanti, filho do cantor e compositor Lenine e integrante do grupo Casuarina. Em seguida vem "
Bom Assim", outra letra e música do período da adolescência da artista e que retrata a ansiedade causada pela saudade de um grande amor. As duas últimas faixas são "Salineiras", canção que retrata mais uma vez a saudade de maneira interessante a partir da letra e música do Pedro Mangia e o tema instrumental composto pela própria Antonia e que recebeu o título de "Tema de Outono".

Chamam a nossa atenção as faixas instrumentais presentes no disco (que pode ser adquirido clicando na imagem ao lado), e que mostram o porquê da artista ser considerada completa. Ela chega a ir além do convencional procurando fugir do padrão de cantora
que toca o essencial indo do tradicional violão de seis  ao de 7 cordas de maneira bastante segura de si.

Além da presença de Antonia nos violões, a contextura do disco se dá também a partir dos arranjos elaborados por ela juntamente com seu pai e seu tio, nomes como Rafael Barata e Jurim Moreira (Bateria), Jorge Helder e Pedro Mangia (Contrabaixo), Everson Moraes(Trombone), sua irmã Joana Adnet (Clarinete), Teco Cardoso e Eduardo Neves (Flautas/Sax tenor), Ricardo Silveira (Guitarra), Marcelo Caldi (Acordeom), Aquiles Moraes (Flugelhorn), Philippe Baden Powell, Ricardo Rito e Marcos Nimrichter (Pianos), Bernardo Aguiar (Percussão), Aquiles Moraes (Trompete), Hugo Pilger (Cellos), Henrique Band (Sax Barítono), Rodrigo Campello (Cavaquinhos/Percussão/Programações/Arranjos) e Daniel Basílio (Violão) dão o devido requinte ao produto final. Por fim vêm as singelas ilustrações de Duda Moraes e a produção do álbum, que fica por conta da própria Antonia e do Mario Adnet, seu pai.

Esse debute vem apenas para somar mais um trabalho fonográfico com a excelência inerente à família Adnet. Uma estreante com uma sonoridade singular e elegante, trazendo em cada detalhe de "Discreta" a marca e a segurança que geralmente são atribuídas aos grandes nomes. Paradoxalmente ao título, a singeleza e a pureza de suas letras e melodias presentes no álbum, Antonia vem de maneira arrebatadora configurar-se na música brasileira contemporânea não como redentora, mas como uma esperança de que a música popular ainda consegue gerar cantoras e instrumentistas da estirpe dos grandes nomes de décadas passadas.

A explicação para toda esse talento e segurança foi dada ao longo desta pauta, mas sinteticamente pode ser lida através do release de "Discreta" a partir das palavras da amiga e companheira de palco Roberta Sá no texto a seguir:


Discreta Ousadia


"Conheci Antonia em 2003 quando fazia pesquisa de repertório para o meu primeiro disco. O produtor, Rodrigo Campello, sugeriu que eu procurasse seu cunhado, o arranjador e compositor Mario Adnet, para me ajudar nessa busca. Marcamos um café, que virou um suco de morango com abacaxi e mais tarde uma macarronada, já que ficamos das 14h às 20h trocando ideias, ouvindo canções e reconhecendo afinidades. Sentei à mesa para jantar com a família e logo vi que dali nasceria uma amizade e parcerias eternas. Primeiro porque a comida da Pimpim (Mariza Adnet) é sensacional. Segundo, porque percebi que essa família respira, exala, compartilha, toca, faz e só pensa em música. Brasileira!

Meses depois, já com Braseiro lançado, Rodrigo me disse que precisaria de um substituto para seguir comigo na estrada, caso ele não pudesse comparecer a algum show. Com apenas um ensaio, sua sobrinha e afilhada, Antonia Campello Adnet, se integrou à banda com uma calma de quem sempre esteve ali. E sempre esteve mesmo. Ela começou nos palcos tão cedo que não lembra da sua vida antes do violão.

A partir daí, nossa história profissional segue lado a lado e até se confunde um pouco. Viajamos o Brasil e o mundo e aprendemos juntas os prazeres e dificuldades da estrada, a beleza e os percalços da profissão que abraçamos.

Sim, ela tem a segurança de quem nasceu nesse berço de ouro da música brasileira. Mas agora, chegou a hora de fazer um voo solo e rasante.

No seu primeiro e corajoso disco, Discreta, Antonia Adnet se lança no ar, e no mercado, de uma vez só, como produtora, arranjadora, compositora, cantora e violonista. Não conheço nenhuma outra artista tão jovem que domine tantos talentos.

A discrição está no nome do álbum e nos gestos de Antonia. Mas o resultado é um disco extremamente ousado, porque enquanto outros aumentam cada vez mais o volume em prol de entretenimento, Antonia sugere a delicadeza. Sua proposta é recuperar os sentidos, reaprender a ouvir. Sua música é brasileira e atual, contemporânea, sem aditivos ou agrotóxicos. É música pura e rara, assim como a moça linda que estampa a capa."


Maiores Informações:

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O álbum pode ser adquirido através dos seguintes endereços:
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