Jacinto foi, sem dúvida, um dos principais representantes do coco-de-roda do Nordeste; ele deixou um legado de cerca de 200 composições.
Parece que foi ontem, mas já hoje completa-se 10 anos desde a morte do incomparável Jacinto Silva, um dos dos artistas mais representativos surgidos no nordeste na segunda metade do século passado. Sua marca registrada foi o coco-de-roda do qual seu maior mestre foi Jackson do Pandeiro.
Jacinto nasceu no município de Palmeira dos Índios (AL) e aos 11 anos já enveredava para a música, porém só veio gravar seu primeiro disco 20 anos depois, quando em 1962 na extinta gravadora Mocambo gravou o baião intitulado "Justiça divina", autoria de Onildo Almeida e a moda de roda "Bambuê bambuá", de Joaquim Augusto e Luiz Plácido. Ainda em 62 Ari Lobo grava "Moça de hoje, parceria de Jacinto com Ari Lobo gravado na RCA Victor
Em 1963, na mesma gravadora gravou de sua autoria o coco "Coco trocado" e de Onildo Almeida, a moda de roda "Chora bananeira". No mesmo período, registrou de Genival Lacerda e Antônio Clemente, o rojão "Carreiro novo".
Em 1964 gravou dois dos últimos 78 rotações da série 15.000 da Mocambo com a moda de roda "Aquela rosa", de sua autoria e o coco "Na base do tamanco", parceria com José Maurício. Na ocasião, os discos foram divididos com Toinho da sanfona, que gravou no lado B. Em 1966 lançou o LP "Cantando", pela gravadora CBS.
Em 1973 participou do disco "Forró na palhoça" lançado pela CBS no qual interpretou "Tarrabufado", de sua autoria e Isabel Biluca e "Flor de croatá", de João Silva e Raimundo Evangelista. Em 1974 lançou pelo selo Tropicana-Cantagalo o LP "Eu chego lá", que na época recebeu calorosa crítica do jornalista José Ramos Tinhorão, que a respeito do disco afirmou: "... desfilam toadas agalopadas como "Flor de Croatá", cocos como "Coco do pandeiro", mazurcas nordestinas como "Eu chego já", baiões de ritmo acelerado como "Tentar esquecer", sambas-baiões como "Concurso de voz", gêneros desconhecidos como mineiro-pau: uma estranha mistura que lembra ao mesmo tempo o ritmo do calango e, mais longinquamente, dos sambas de partido alto cariocas." Em 1978, teve o baião "Abôio de vaqueiro", com Zé Cacau, gravado pelo trio de forró Os Três do Nordeste no LP "Forró do poeirão".
Em 2000 lançou pela Manguenitude o CD "Só não dança quem não quer", produzido por Zé da Flauta, com participações especiais de Chico César, Vange Milliet, Mestre Ambrósio, Marcos Suzano, Toninho Ferraguti e Bocato. Destacaram-se no disco, "Fumando mais Tonha", "Coco trocado", "Chora bananeira" e "Abaio de vaqueiro". Ao longo da carreira gravou 24 LPs e dois CDs.
Seu maior discípulo é o cantor e compositor carpinense Silvério Pessoa, que ainda no mesmo ano de 2001 fez um tributo ao alagoano com o CD "Bate o mancá", com músicas de Jacinto Silva, que aparece em algumas vinhetas ao longo do disco.
Jacinto disseminou a paixão pela música por onde passou. Vítima de cirrose hepática, ele deixou o legado de 200 composições. Deixou também a esposa Maria Lieta, com quem foi casado há 40 anos. “Ele amava e deixava qualquer coisa pela música”, conta a viúva.
O alagoano veio para Caruaru no final da década de 50, para cantar nos programas de rádio. O chapéu era a sua marca registrada. Em 2000, ao lado do cantor Silvério Pessoa, Jacinto gravou um clipe que foi exibido no Abril Pro Rock.
Um cômodo da casa onde a família mora em Caruaru abriga todas as lembranças da carreira do cantor e é uma espécie de memorial da vida e da obra dele. Reportagens, discos e fotos de shows que fez por todo o país estão expostos nas paredes da sala.
“O objetivo é preservar a memória do cantor Jacinto Silva, para que, no futuro, os bisnetos venham conhecer a história dele”, conta a filha do músico, Penha Maria Jacinto Silva.
Jacinto Silva era admirado por grandes músicos da MPB, como Xangai. “Ele tinha o dom de fazer música utilizando a fragmentação rítmica e o trava língua”, diz.
O compositor Juarez Santiago guarda em casa 18 discos do ídolo. A parceria entre eles começou em 1968. A partir daí, Jacinto gravou 25 músicas de Juarez, entre elas, “Quero ver rodar”.
O cantor Valdir Santos compôs uma canção em homenagem ao ídolo. O próximo disco dele trará uma música inédita de Jacinto, intitulada “Igarapé”.
“Ele tinha a principal característica que só grandes almas têm, que se chama generosidade. Isso era muito claro na pessoa de Jacinto. E no profissional, a sabedoria, a arte de colocar palavras e a forma difícil de cantar”, conta Valdir Santos.
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