quarta-feira, 14 de julho de 2010

PAULO MOURA EM UM BOM SAMBA DE LATADA!

Esse disco foi lançado originalmente, de modo independente, em 2006. Posteriormente, foi re-lançado pela Rob Digital em 2007.

Segue abaixo um texto do José Teles, que fala sobre esse álbum na época de seu lançamento:

“O forró é a mais injustiçada e discriminada das músicas que se fazem no Brasil. Por exemplo, a caudalosa discografia do forró, que teve seu auge nos anos 60 e parte dos 70, continua quase inteiramente fora de catálogo. Esta falta de cultura musical, levou as mais recentes gerações de forrozeiros a fazer e gravar basicamente xote, com letras que pouco diferem do que cantam as duplas sertanejas.

O forró é um manto sob o qual se abriga uma grande variedade de ritmos, estilos, gêneros, inclusive o samba. Aliás, antigamente, no Nordeste, forró e samba tinham o mesmo significado. O forró e o samba eram a festa, onde se tocava do baião ao chorinho. Depois que o samba carioca foi alçado à música da nacionalidade, foi que o samba passou a designar um gênero musical.

No Nordeste ele foi adaptado para a sanfona, o triângulo, a zabumba, mais violões, banjo, instrumentos de sopro. Era chamado “samba de matuto”, ou “samba de latada”. A latada, no caso, era uma extensão da casa, ou “puxada”, coberta por folhas de flandres, onde aconteciam os forrós, ou sambas. O samba de latada teve como um dos maiores intérpretes o sanfoneiro Abdias, seguido pelo paraense Osvaldo Oliveira.

40 anos depois, Josildo Sá traz de volta ao disco esta nuance esquecida do samba. E vem na companhia de um dos maiores músicos do mundo, Paulo Moura. Não poderia tal contubérnio dar noutra. Um disco que nos leva àqueles sambas de latada dos anos 60. Daqueles que rescendiam a suor, perfume barato, com os casais grudados que nem carrapato.

“Quixabinha” (Josildo Sá / Anchieta Dali) é um desses sambas com sotaque nordestino, irresistível. O “Forró de Mané Vito” (Zé Dantas / Luiz Gonzaga), virou um samba de latada ao qual Paulo Moura deu um delicioso tempero de gafieira. Josildo Sá nunca cantou tão bem, com uma voz sertaneja, o fraseado certeiro. Ele dá um banho em “Eu gosto de você”, composição de Caçote do Rojão, um samba do jeito que Abdias gostava.

Paulo Moura, por sua vez, incorporou o espírito da coisa, e caiu no samba de matuto. Está endiabrado em “Pro Paulo”. Dá para os das antigas lembrarem Jair Pimentel, um músico que gravava pela Rozenblit e pintava os canecos com um clarinete. Este disco inclusive resgata (com perdão do termo tão desgastado) o bom-humor no forró, que hoje anda muito formal, parecendo um requerimento com firma reconhecida. Paulo Moura toca neste disco como se estivesse animando um samba numa latada, numa noite enluarada num sítio no meio do mato.

A seleção do repertório não poderia ser melhor. Tem desde “Fraguei” (Osvaldo Oliveira / Dilson Dória) lançada por Abdias. Conterrâneo de Josildo Sá, nascido em Tacaratu, Anchieta Dali fez sambas que se encaixam como uma luva no projeto do amigo Josildo, que descolou uns compositores pouco conhecidos, mas talentosos, Apolônio da Quixabinha (Quixabinha, é um sítio na terra de Josildo), ou citado Caçote do Rojão. E músicos como Gennaro, cuja sanfona vai costurando as melodias, enquanto Paulo Moura vai acrescentando-lhes cores variadas. Não cheguei a perguntar aos dois como foi engendrada esta parceria, mas seja lá como for, com certeza jogaram a fórmula fora. Pense, num disco da porra!!” (José Teles – Jornalista do Jornal do Commércio Recife – PE, escritor, pesquisador e crítico musical)

Samba de latada – Josildo Sá e Paulo Moura (2006)

Faixas:
01 - Quixabinha (Josildo Sá – Anchieta Dali)
02 - Forró de Mané Vito (Luis Gonzaga – Zé Dantas)
03 - Eu Gosto de Você (Caçote do Rojão)
04 - Pra Virar Lobisomem (Chico Chagas)
05 - Pro Paulo (Chico Chagas)
06 - Nega Buliçosa (Tiago Duarte)
07 - Fulosinha (Anchieta Dali)
08 - Fraguei (Osvaldo Oliveira – Dilson Dória)
09 - Carimbó do Moura (Paulo Moura)
10 - Beijú (Anchieta Dali)
11 - Cumpade Zé de Bina (Apolônio da Quixabinha)
12 - Baile no Sertão (Paulo Moura – Gennaro)
13 - Na Água do Bebedouro (Josildo Sá)

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