terça-feira, 20 de julho de 2010

100 ANOS DE HAROLDO LOBO

Haroldo Lobo, nasceu no Rio de Janeiro em uma família de músicos. O pai, Quirino Lobo, tocava flauta e violão, e seu irmão Osvaldo Lobo (Badu) era compositor e baterista.

Iniciou seus estudos musicais (teoria e solfejo) na escola da América Fabril. Desde os 13 anos de idade, compunha sambas para o Bloco do Urso. Trabalhou como guarda na polícia de vigilância, empregando-se posteriormente na América Fabril. Freqüentador de cafés, era conhecido no meio pelo apelido de Clarineta por cantar em uma tessitura semelhante à do instrumento. Considerado, ao lado de Braguinha e Lamartine Babo, um dos três mais expressivos autores do repertório carnavalesco no Brasil.

Em 1934, teve sua primeira música gravada, "Metralhadora", cujo texto fazia alusão à revolução constitucionalista, feita em parceria com Donga e Luís Meneses, lançada por Aurora Miranda. Neste mesmo ano, lançou o samba "De madrugada", com Vicente Paiva, também gravado por Aurora Miranda. Compôs vários sambas em parceria com Milton de Oliveira, um dos quais "Juro" obteve prêmio da prefeitura do antigo Distrito Federal no carnaval de 1938, tendo sido lançado com sucesso por J. B. de Carvalho. Para os carnavais de 1940-1941, lançou "O passarinho do relógio" e "O passo do canguru", as duas em parceria com Milton de Oliveira, trazendo em ambas uma temática que se tornou característica de sua produção, letras envolvendo animais. As duas músicas foram gravadas por Aracy de Almeida, sendo que a segunda chegou a ser gravada nos Estados Unidos com o título de "Brazilian Willy", lançada também por Carmen Miranda em 1942. Em 1941, destacou-se com o lançamento de "Alá-lá-ô", uma parceria com Nássara, gravada por Carlos Galhardo. A história da música começou de fato em 1940, quando um bloco do bairro da Gávea cantou nas ruas a marcha "Caravana", de autoria de seu patrono Haroldo Lobo. Meses depois, preparando o repertório para o carnaval de 1941, Haroldo pediu a Nássara para completar a composição, que fez então a segunda parte da música. Destaca-se ainda nesta gravação a atuação de Pixinguinha, que fez às pressas um arranjo primoroso para o qual criou a introdução e partes instrumentais executadas ao longo da música. Ainda em 1941, lançou "O bonde do horário já passou", com Milton de Oliveira e, "Essa vida não é sopa", com Wilson Batista, ambas gravadas por Patrício Teixeira.

Em 1942, lançou "Emília", parceria com Wilson Batista, gravada por Vassourinha e, "A mulher do leiteiro", com Milton de Oliveira, gravada por Aracy de Almeida. Utilizava em muitas de suas composições temas do cotidiano da cidade e mesmo do país, como, por exemplo, a marcha "Oito em pé", que comentava a autorização pública para que oito passageiros viajassem em pé nos coletivos por racionamento de gasolina. Um outro exemplo, também, a marcha "Tem galinha no bonde", cuja letra mencionava a regulamentação do transporte de galinhas no bonde. Ambas foram gravadas por Aracy de Almeida.

Nos anos de 1943-1944, também na linha de comentário social, lançou "Que passo é esse, Adolfo?", com Roberto Roberti e, "As ruas do Japão", com Cristóvão de Alencar, em cujas letras satirizava práticas peculiares ao eixo beligerante, Alemanha e Japão respectivamente. Em 1945, obteve o 1º lugar no concurso de músicas para o carnaval, promovido pela prefeitura do Distrito Federal, com a marcha "Verão do Havaí", com Benedito Lacerda, gravada por Francisco Alves e Dalva de Oliveira. Ainda neste ano, fez sucesso com o samba "Rosalina", em parceria com Wilson Batista, gravado por Jorge Veiga.

Em 1946, venceu mais uma vez o concurso de músicas carnavalescas com a marcha "Espanhola", uma parceria com Benedito Lacerda, lançada por Nélson Gonçalves. Haroldo Lobo era folião dos mais animados e preparava suas músicas de carnaval com muito cuidado e grande antecedência. Sua dedicação resultava sempre em um grande sucesso popular para cada ano de folia. Dentre estes, destacam-se "O passo da girafa", com Milton de Oliveira, lançado em 1949 por Aracy de Almeida.

Em 1951, o êxito veio com "O retrato do velho", cuja letra comentava a prática instituída pelo Estado Novo (e sustentada pelos governos posteriores), que recomendava a colocação de retratos do presidente nas paredes das repartições públicas. Feita em parceria com Marino Pinto, compositor que sempre teve admiração pelo presidente Getúlio Vargas, esta marcha, na qual a volta do líder ao poder foi simbolizada no retorno do retrato à parede, foi gravada com enorme sucesso por Francisco Alves. A marcha só não foi apreciada pelo próprio Getúlio, que detestava ser considerado velho. Em 1955, obteve sucesso no carnaval com a marcha "Tira essa mulher da minha frente", parceria com Milton de Oliveira e gravada na Copacabana por Jorge Veiga, e que foi escolhida por um júri reunido no Teatro João Caetano como um das dez mais populares marchas do carnaval daquele ano

Em 1961, mais um grande sucesso com "Índio quer apito", com Milton de Oliveira, uma das composições que mais renderam direitos autorais. Seu último grande sucesso foi "Tristeza", feito em parceria com Niltinho, lançado em 1965 por Jair Rodrigues e que acabou sendo executada, a partir de 1967 em todo o mundo, transformando-se em sua única música internacionalmente reconhecida.

Um dos méritos do Haroldo Lobo é que sem dúvida alguma ele foi um dos reis do carnaval do Brasil. Vale dizer, um monarca que sabia que sua coroa não tinha o valor do vil metal. O valor era outro: a alegria. Ele foi um dos maiores vencedores do carnaval carioca, criador de dezenas e dezenas de marchinhas inspiradas.

Haroldo Lobo cantou na festa de Momo o que observava nas ruas, o que lia dos jornais e o que se passava na nossa vida doméstica e política.

A homenagem Haroldo Lobo no centenário de seu nascimento, mostra um capítulo importante da história do carnaval brasileiro. Afinal de contas, o compositor nascido no Rio de Janeiro no dia 22 de julho de 1910, listou, em vida, 453 músicas gravadas! Desse total, 338 foram feitas especialmente para os quatro dias de folia.

Algumas de suas mais conhecidas marchinhas são: “O passarinho do relógio”, “Alá-lá-ô”, “Índio quer apito”, “Pra seu governo” e “Retrato do velho”. Também existem ainda gravações raras, como o encontro de Toquinho, Vinicius e Cyro Monteiro no estúdio da RGE em 1974, quando os três interpretam o samba “Que martírio”, letra que pouca gente conhecia.

Tem ainda registros de várias épocas de Jorge Veiga, Aracy de Almeida, Dircinha Batista, Marlene, Francisco Alves e Ary Cordovil, o primeiro a gravar seu último sucesso, “Tristeza”. Aliás, Haroldo Lobo não conheceu o sucesso da música. Faleceu antes dela ser gravada por Ary Cordovil, no dia 20 de julho de 1965, no Rio de Janeiro.

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