Cantor e compositor Geraldo Azevedo lança o seu primeiro DVD, no qual faz um balanço de 35 anos de carreira.
“Passei para uma nova dimensão. Comecei com o LP, depois com o compacto, o CD e agora no DVD. Um formato que dá uma abertura maior a carreira, com a mídia dando mais atenção, abrindo mais espaço. Está sendo ótima a turnê deste trabalho e um ótimo momento para mim”, comenta Geraldo Azevedo sobre a turnê que faz com o repertório do seu primeiro DVD, Uma geral do Azevedo. É o primeiro DVD solo, já que ele está com Elba Ramalho e Zé Ramalho no DVD O grande encontro Vol.3, de 2000.
O show aportou em Recife no último final de semana com praticament a mesma formação da banda que participou da gravação. Esta é uma das poucas vezes em que Geraldo Azevedo viaja com um grupo tão grande, banda completa, vocalistas: “É praticamente o mesmo pessoal que participou do DVD. Só mudou o tecladista, e saiu Lucas, meu filho, que tocou percussão na gravação, mas que voltou para Londres, onde mora”.
A carreira dele, no entanto, ressalta, ganhou consistência com os anos, assentada no formato voz e violão: “Fiz muitos shows assim, ou então com mais dois músicos. Este trabalho está sendo muito bom, mas eu gosto de voz e violão. O próximo DVD que gravar será neste formato, com alguns convidados. Isto naturalmente, depois que lançar o DVD Salve o São Francisco (também em CD), um projeto conceitual, com músicas inéditas, que tem as participações de Alceu Valença, Ivete Sangalo, Dominguinhos e Targino Gondim, que já está pronto”.
Geraldinho foi um dos últimos nomes consagrados de sua geração a lançar DVD. A razão dada para a demora foi o custo do formato, e o fato de estar já em seu próprio selo, o Geração. Lançado em setembro passado (e gravado em novembro de 2008, no Circo Voador, no Rio (“Porque foi palco de várias fases da minha carreira”, justifica). Uma geral do Azevedo, como o título dá a pista, é um apanhado da trajetória do cantor e compositor, com duas inéditas: É o frevo (com Geraldo Amaral) e É minha vida (com José Carlos Capinam). A justificativa também seria os 35 anos de carreira, não se sabe contados a partir de que etapa.
A primeira música gravada de Geraldo Azevedo, Aquela rosa (com Carlos Fernando) é de 1967. O primeiro disco, com Alceu Valença, de 1972, e o primeiro solo, de 1977. Datas redondas, porém, são o de menos. Em Uma geral do Azevedo é uma celebração a obra de um dos mais respeitados artistas da MPB.
“Além de uma retrospectiva, é também uma coletânea dos meus sucessos, dos vários ritmos com que trabalho e dos meus muitos parceiros – Capinam, Fausto Nilo, Geraldo Amaral, Carlos Fernando”. Entre os parceiros que ele não enumera está Geraldo Vandré, com quem fez a bela Canção da despedida, que passou 16 anos silenciada pela censura e agora sofre com a proibição de ser gravada, porque Vandré não libera.
Apesar de marcante na carreira de Geraldo Azevedo, Canção da despedida não pode, portanto, entrar no DVD, mas continua no repertório do show: “Não gravei porque ele podia cismar e processar a gravadora. Se fosse uma grande empresa, ainda dava, mas a minha gravadora é pequena. Não dá para encarar um processo. Já no show é diferente. Se ele quiser implicar, implique com o Ecad. Vou tentar encontrar Vandré para ver se resolvemos esta situação. A música teve a primeira gravação em 1983, no disco Coração brasileiro, de Elba Ramalho, que na época ainda morava comigo. Ele não quis liberar, alegou que o Geraldo Vandré não existia mais. Então sugeri que Elba colocasse no selo como autores Geraldo Azevedo e Geraldo, foi assim que saiu”.
No shows que vem fazendo, Canção da despedida geralmente tem sido a última que canta, antes do bis, que não cresce de assovios e palmas da plateia para o óbvio: “Canto esta, chamo a banda e canto um frevo, às vezes entra Ai que saudade de ocê, de Vital Farias”, adianta o cantor, que repassa todas as músicas do DVD, acrescentando duas que fizeram parte da gravação do vídeo, mas ficaram fora do trabalho final. “Sabiá de Luiz Gonzaga (e Zé Dantas) e uma homenagem que compus a Jackson do Pandeiro não ficaram com qualidade para entrar no DVD, que acabou virando um trabalho autoral, só com canções minhas. Mas não repito sempre o mesmo roteiro. Posso dizer que o show é meio apelativo porque atendo os anseios das pessoas, que querem sempre ouvir os sucessos que marcaram a vida. No meio das bem conhecidas incluo algumas que não fazem parte do inconsciente coletivo do público. Muitas músicas minhas se fizeram no palco. E o que gosto de fazer é um show bem participativo”, diz o cantor.
O inquieto cantor e compositor pernambucano, já possui um novo projeto pronto para sair do forno em breve, o CD “Salve o São Francisco”. Em conversa, o cantor detalha as experiências desses novos trabalhos.
Como surgiu a ideia do DVD? Há quanto tempo você pensava nele e como foi o processo criativo?
Geraldo Azevedo - Na verdade eu sempre pensei em fazer meu 1° DVD num teatro, uma coisa mais clássica, voz e violão e com algumas participações bem especiais, mas minhas filhas Gabriela e Lara vieram com uma proposta para fazermos o DVD no Circo Voador (RJ), onde sempre fiz shows. Então pensei em fazer um show bem animado, dançante, e para isso chamei músicos que sempre me acompanham nos shows de carnaval e São João. Foi tudo muito rápido, do dia em que elas me disseram que íamos fazer, que tava tudo certo, para o dia da gravção não foram mais que vinte dias. Por isso a idéia de chamar os músicos que já tocavam comigo e fazer esse apanhado da carreira.
E o resultado final, agradou? Ficou à altura de ser o primeiro DVD de Geraldo Azevedo?
Geraldo Azevedo - Se eu te falar que ainda não vi tal e qual foi lançado, voce vai achar que estou brincando, mas é a pura verdade. Ainda não parei para ver, mas o que vi no processo, um pouco antes da finalização achei maravilhoso. É um trabalho muito emocional por ter esse envolvimento familiar (os filhos de Geraldo, também músicos, complementaram sua banda na gravação), além de que meus desenhos serviram como cenário e figurinos. A Mônica Martins soube através da minha filha Gabi, que eu desenhava e fez um belo trabalho a partir deles.
Fala um pouco do show de sábado. Ele segue a estrutura do DVD? Traz novidades? Geraldo Azevedo - O show é basicamente o DVD, mas tem algumas músicas que não foram incluídas e é um show bem animado. É um show de duas horas onde mostro meus maiores sucessos, passeio pelo forró, xote, frevo e as minhas cancões que o público sempre canta junto. A banda estará quase toda completa, exceto pelo meu filho que mora fora. Será um show especial, pois estaremos celebrando a vida e comemorando um ano da gravação do DVD.
Como está o “Salve São Francisco”?
Geraldo Azevedo - O “Salve São Francisco” eu comecei antes deste DVD e no momento está sendo finalizado. Ao contrário do meu primeiro DVD, que não teve participação especial, esse projeto está cheio de gente maravilhosa: Maria Bethânia, Ivete Sangalo, Fernanda Takai, Djavan, Dominguinhos, Alceu, Moraes, Roberto Mendes. Ele alerta para a conscientização de que a água é um bem finito e que nenhuma espécie sobrevive sem água. Por ser de Petrolina, nas margens do São Francisco, sempre tive uma ligação muito forte com o rio. Estamos correndo atrás de parceiros para patrocinar o lançamento, que queremos fazer em abril e maio de 2010, começando com shows em praças públicas por cidades ribeirinhas. Quero levar todo mundo que participou, tomara que eu consiga.
Qual sua relação com a internet? Acredita na eficiência de novas mídias, como Twitter e MySpace?
Geraldo Azevedo - Eu acredito que a internet seja uma ferramenta maravilhosa para divulgação da música, mas ao mesmo tempo a gente perde um pouco o controle do direito autoral da nossa obra. Acho que ainda vamos achar um lugar confortável para todos dentro desta história. Confesso que eu ainda estou engatinhando com essa tecnologia e tenho um pouco de preguiça, sabe? Até para checar e-mail eu sou um pouco devagar. Gosto mesmo é de tocar violão (risos). Por um outro lado quando meu site entrou no ar, acho que só o Gil (Gilberto Gil) tinha também. Fui um dos primeiros da música a começar a usar essa ferramenta.
Como você analisa o cenário atual da música nordestina? Estamos perto ou cada vez mais longe de uma nova “revolução musical nordestina”, como aconteceu na década de 1980, quando vários artistas do Nordeste ganharam relevância nacional?
Geraldo Azevedo - O Nordeste tem uma posição grandiosa no cenário cultural brasileiro. Se eu for falar de todos os talentos que vieram dessa região não vai caber na entrevista. Tem muita gente boa fazendo música no Nordeste todo, apesar de também termos muitas coisas descartáveis. E ainda há a vantagem de hoje em dia o artista não precisar ir para Rio ou São Paulo para poder graver seu trabalho, como era na época em que comecei.
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