sexta-feira, 20 de novembro de 2009

NEY MATOGROSSO VERSÃO LUXO

Em Beijo bandido cantor optou por sons acústicos e um grupo de renomados músicos.

Por José Teles

A carreira solo de Ney Matogrosso vem sendo pautada pelo extravagante versus sobriedade. Depois do exuberante e colorido Inclassificáveis, ele reaparece com um novo disco, Beijo bandido (EMI), com uma luxuosa encadernação em tons pastel e prata, com um não menos requintado encarte, no qual aparece em várias fotos de terno e gravata (direção de arte de Ocimar Versolato). Enquanto em Inclassificáveis ele tocava com uma banda de ilustres, e talentosos desconhecidos, num som plugado de guitarras distorcidas, em Beijo bandido Ney optou por sons acústicos e um grupo de renomados músicos: Leandro Braga (piano), Lui Coimbra (cello e violão), Ricardo Amado (violino e bandolim) e Felipe Roseno (percussão). Leandro Braga também é o responsável pelos arranjos e direção musical. “Nos meus discos eu primo pelo melhor e a embalagem faz parte disso. Esta capa e o encarte têm sido muito comentados, mas a de Inclassificáveis também foi luxuosa”. Pela sobriedade e elegância do figurino, o tratamento camerístico do show, tem-se comparado Beijo bandido com Pescador de pérolas,
de 1987, no qual ele também aparecia de terno, de cara limpa e com um formato instrumental parecido: Arthur Moreira Lima (piano), Chacal (percussão), Paulo Moura (saxofone) e Raphael Rabello (violão): “Pode até parecer, mas o conceito dos dois repertórios são bem diversos”, diferencia Ney, apontando para o repertório calcado no romântico de Beijo bandido.
Beijo bandido é um disco de canções e, sobretudo, de intérprete Para Ney, a canção é eterna e uma dessas com destino à eternidade é Fascinação que, com Tango pra Tereza e de Cigarro em cigarro, dá o tom e clima para o disco: “As três eu já havia gravado. Tango para Tereza havia feito com Teresa Tinoco, De cigarro em cigarro gravei com Luli e Lucina. Então esperei que estas música estivessem no CD de raridades da caixa Camaleão. Não estavam, e resolvi gravar novamente”, explica Ney Matogrosso o embrião de Beijo bandido. O título, segundo ele, foi pura coincidência, não tem influência do filme Luz nas Trevas, de Helena Ignez, no qual interpretará o célebre bandido da luz vermelha, que aterrorizou São Paulo. O título vem de um verso da música de Vitor Ramil, Invento, que ele canta no novo disco: “Leva um beijo perdido/um verso bandido/um sonho refém”. Nas 14 faixas de Beijo bandido há algumas outras surpresas, como Bicho de sete cabeças, de Geraldo Azevedo, e A distância (Roberto e Erasmo Carlos), que ele pensava em gravar desde que assistiu ao filme Violência e paixão, de Luchino Visconti (1974), mas só agora conseguiu um disco com um repertório que a enquadrasse.
O disco, como já aconteceu com outros do cantor antes, teve seu repertório primeiramente testado em público, com um show em Santos (SP). Seria apenas um, mas ele acabou fazendo também em São Paulo e no Rio de Janeiro (dois): “Fiz o show para testar a reação da plateias às músicas. Assim você sabe quais funcionam ou não. Das que cantei, duas saquei que não funcionaram, uma foi Veleiro de Villa-Lobos e Tema de amor de Gabriela. Eu queria um show menos sisudo, mais relaxante”. Mais tarde, quando já gravava Beijo bandido, ele se deu conta de que, embora as músicas escolhidas fossem boas, o disco estava ficando meio careta. Aí procurou algumas músicas de que gostava, que não estiveram no show e que poderiam dar um molho mais suculento ao repertório romântico do álbum.
Uma destas tem a interpretação mais diferente do disco, a Cor do desejo, de dois autores pouco conhecidos, alagoanos Júnio Almeida e Guima, gravada pelo primeiro, no CD Limiar do tempo, que Ney Matogrosso ganhou quando fez o show Inclassificáveis em Maceió: “Eu tinha gravado direito, uma interpretação normal. Aí trouxe para casa e fiz com uma oitava abaixo, uma experimentação. Achei que ficou bem melhor assim”, explica. A versão que está no disco é cantada de forma sensual e sussurrante, quase falada, apenas, nos primeiros versos: “Tua boca anda oca/da minha língua/da minha língua/a minha língua anda à mingua/sem tua boca/sem tua boca”. Outra canção que não fez parte do show foi Nada por mim, de Herbert Vianna e Paula Toller, gravada por Marina Lima. A cantora convidou Ney para cantar a música com ela na festa do programa Sexo na MPB, e Ney passou a pensar em gravar a canção, que entrou no disco.
A prova de fogo deste CD é a enésima regravação de Fascinação (F. D. Marchetti, versão de Armando Louzada), de Carlos Galhardo a Agnaldo Timóteo, com uma versão definitiva de Elis Regina, em 1976. Ney encara Fascinação como “apenas” um clássico, e cantando assim, acrescenta mais uma grande versão à história da música.

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