Por Lauro Lisboa Garcia
O CD está pela hora da morte, há tempos já se diz. Para quem gosta de música, porém, há boas novas no horizonte. Os velhos e amados discos de vinil, que fazem a alegria de colecionadores e roqueiros, estão de novo em alta no mercado. Mas desta vez o movimento não se restringe aos sebos, que têm se mantido em pé graças aos bolachões, e as novidades não vêm só dos Estados Unidos, onde as vendas subiram em 2008 (leia abaixo). Além dos lançamentos importados - disponíveis até em duas redes de livrarias, a Cultura e a Saraiva -, “um sonho realizável” está para se concretizar. A última fábrica de vinil no Brasil, a Polysom, que fechou as portas em outubro de 2008, vai reabrir sob nova administração. Quem assume as rédeas desta vez é o empresário João Augusto, presidente da gravadora independente Deckdisc.
Outro sinal de interesse nesse nicho parte da major Sony/BMG, que vai relançar, a partir de fevereiro, em CD e LP, 30 títulos de artistas de seu acervo, como Da Lama ao Caos (Chico Science & Nação Zumbi) e os homônimos álbuns de estreia de João Bosco e Vinícius Cantuária, para citar três do primeiro lote.
“A Polysom fechou por problemas de administração e é só essa questão que falta resolver. Nós nos interessamos pela fábrica e decidimos adquiri-la e colocar logo em funcionamento. Queremos já soltar os primeiros discos em abril”, diz o experiente João Augusto, que já atuou na antiga Polygram, na EMI e na Abril Music. “Temos a colaboração dos antigos donos, que também trabalhariam com a gente, há uma grande corrente favorável.” O projeto não é só dele, estão envolvidos outros profissionais com quem trabalha na Deckdisc. Um deles é o produtor Rafael Ramos, seu filho e um grande entusiasta do vinil.
A ideia básica, segundo João, é atender a indústria, não só do Brasil, mas de toda a América Latina, já que deve ser a única no continente. “Isso atinge potencialmente Argentina, Chile e Colômbia, mas basicamente o Brasil, para atender selos como Monstro, Baratos Afins e todo mundo dessa área. Por outro lado, tem as majors, que sempre encontram problemas quando seus artistas querem lançar LP, porque o processo de importação é muito lento. Temos o exemplo de Cê, de Caetano Veloso, que saiu muito depois do CD e foi até um êxito de vendas.”
Na Europa e nos Estados Unidos é cada vez mais comum o lançamento do CD de artistas em evidência hoje também ter uma produção paralela em LP - caso de Amy Winehouse, Portishead, Beck e o citado Radiohead. Por aqui, o último a investir nos dois formatos foi Lenine, com Labiata, em 2008. O próximo será o Skank. A versão em LP do álbum mais recente da banda, Estandarte, sai entre março e abril pela Sony/BMG. O problema é que, como os discos são fabricados nos Estados Unidos, o bolachão chega ao consumidor brasileiro com valor de importado: em torno de R$ 120.
Os relançamentos da série Primeiro Disco, da Sony/BMG, confeccionados nos EUA, custarão em torno de R$ 150, reunindo com o CD, o LP e um encarte especial, com fotos e material de pesquisa, numa edição conjunta. Serão mil unidades por título. “Não acredito em volumes expressivos de vendas, mas existe um movimento em torno disso”, diz Marcus Fabrício, gerente de marketing da gravadora. “É um teste, mas a gente pode ter uma surpresa, uma demanda que valha a pena produzir discos no Brasil, podendo baixar o custo de manufatura e o preço para o consumidor. Aí pode valer a pena esporadicamente investir em lançamentos simultâneos com o CD, como acontece lá fora.”
João Augusto também não pensa em ter lucro, mas que pelo menos empate o investimento. “A intenção onírica é muito maior do que a econômica”, diz. Como diante da falência do mercado massivo o de nicho ganha importância, a intenção do chefão da Deckdisc é também investir em acervo. “Vamos criar um label próprio para relançar coisas antigas. As majors não se interessam em fazer produtos para vender 500 cópias. A gente vai se interessar.” A Universal, por exemplo, já cogitou disponibilizar todo seu fabuloso catálogo para ele.
No cargo de comprador de música da Livraria Cultura, em São Paulo, Rodrigo de Castro é outro entusiasta da causa e incentivador da reabertura da fábrica de vinil. “A gente abriria espaço na loja para reedições de álbuns antigos, se tivessem algo especial. Mas não dá para apostar numa Mart’nália, por exemplo”, compara. “Um álbum como Labiata, do Lenine, é conceitual, bacana, mas não tem venda expressiva. Hoje, um lançamento em vinil tem de ter alguma faixa exclusiva, sair em edições limitadas.” E precisa ser bom, certo?
Desde 2006 a Cultura, em São Paulo, vem investindo gradativamente na comercialização de LPs. Começou com títulos de Itamar Assumpção, Mutantes e Fellini, da Baratos Afins, e hoje investe mais nos importados. Os preços variam de R$ 99 a R$ 109. Para o vinil se popularizar, outro passo importante é a indústria nacional voltar a fabricar os toca-discos. Os aparelhos importados, como os discos, continuam caros.
Os álbuns Da Lama aos Caos (1994), de Chico Science e Nação Zumbi, marco zero do movimento mangue beat, e João Bosco, de 1973, com o clássico Bala Com Bala, voltam em fevereiro em edição especial com CD e LP.
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