terça-feira, 1 de setembro de 2009

BUENA VISTA SOCIAL CLUB EM OLINDA

Famoso pelo documentário de Win Wenders, o Buena Vista Social Club é uma das maiores atrações da Mimo 2009

Por José Teles


Nos anos 40 e 50, tocava-se muito música cubana no Recife e eram constantes as apresentações de artistas da ilha caribenha nas emissoras locais de rádio. Bievenido Granda, crooner do célebre grupo Sonora Matancera, até andou gravando frevo e baião na Rozenblit. A Cubana, onde acontecem bailes movidos à música cubana de Edinho Jacaré, no Alto Bela Vista, é um resquício dos tempos em que se ouviam e dançavam os sons de Cuba por aqui. Porém, a onda passou. No entanto, ainda aos poucos, os músicos cubanos estão voltando. E quem vem de Cuba agora é um grupo de peso, o Buena Vista Social Club, que se tornou famoso mundialmente pelo documentário dirigido pelo alemão Wim Wenders. O grupo irá se apresentar no próximo sábado, na Praça do Carmo, em Olinda, na programação da 6ª edição da Mostra Internacional de Música de Olinda, a MIMO. O que poderá vir a desencadear uma nova onda de música da ilha em Pernambuco.

Quem acredita nisso é o alaudista Barbarito Torres, que participou do citado documentário: “Todos os artistas cubanos que estão se apresentando agora no Brasil, os que integram o projeto Buena Vista Social Club, como a senhora Omara Portuondo, Amadito Valdés, eu mesmo, junto com figuras jovens, feito a cantora Idania Valdés, que nos acompanha, ou a senhora Teresa Caturla, outra grande figura cubana, estão muito felizes de vir para cá e contribuir para estreitar os laços musicais entre nossos países. Os músicos cubanos sentem grande admiração pela música e os músicos brasileiros porque este País, como Cuba, é uma potência em sua música popular. Em meu caso particular, sempre quis visitar o Brasil para oferecer a minha música”.

Recentemente, alguns dos cubanos que vêm com o Buena Vista Social Club participaram do CD Rhythms del mundo, com roqueiros americanos e ingleses interpretando clássicos do rock em levada cubana. Já foram gravados dois volumes. O percussionista Amadito Valdés, outro veterano, conta ter ficado bastante gratificado com o projeto: “Esta ideia feliz foi de Kenny Young, presidente da ONG APE, da Inglaterra, com o objetivo de arrecadar fundos para as crianças vítimas do tsunami que atingiu a Ásia em 2004”.

Barbarito Torres é da mesma opinião do colega de banda, mas diz que o grupo não vai tocar músicas deste disco, na apresentação em Olinda. “Bem, não posso garantir que tocaremos algum destes temas em Olinda, pois estamos trabalhando com um repertório que não inclui nenhum destes clássicos. Porém, por que não preparar outra apresentação no Brasil que inclua estes temas? Assim agradamos ao público e teremos oportunidade de voltarmos a tocar aqui, que tal a ideia?” brinca.


TRADIÇÃO E MODERNIDADE
Tidos como tradicionalistas, os músicos do Buena Vista Social Club nesta formação que vem a Pernambuco, trazem também músicos jovens. Hoje, em Cuba, a tradição convive harmoniosamente com a modernidade, o son, um dos mais tradicionais ritmos cubanos, pode ser feito com rap. Amadito Valdés, considerado um dos mestres da percussão em seu país, garante que vê com bons olhos as fusões que estão sendo feitas em Cuba: “A nossa música sempre se deixou influenciar por correntes estrangeiras, e também serviu de ingredientes para a música estrangeira”.

Barbarito Torres teceu um comentário mais alongado sobre o atual retrato da música em Cuba: “Temos músicos jovens fazendo música muito boa com estas influências. É o caso de Ogguere, por exemplo, o grupo Orisha, a formação interativa do pianista Robertico Carcasés, integrada por jovens bastante talentosos, com uma música de um alto nível de qualidade e criatividade. No meu caso, cada vez que me convidam, e que posso fazer algo com eles, sempre aceito. Em Cuba, os músicos jovens conhecem a música tradicional cubana e trabalham em suas criações. Por exemplo, tenho um filho que é jovem e toca música tradicional comigo em nossa banda, um projeto meu de música tradicional, e ele também faz música cubana contemporânea. Atualmente, está trabalhando com uma cantora cubana muito jovem, muito talentosa, Laritza Bacallao, que faz música contemporânea sem, no entanto, desdenhar a tradicional. Realizam suas versões com todas influências modernas que têm em suas formações”.

Um dos nomes de destaque na formação da Buena Vista Social Club que aparece no filme de Wim Wenders é o de dona Omara Portuondo, que se tornou ainda mais conhecida no Brasil depois que gravou CD e DVD com Maria Bethânia, com quem também fez shows. A cantora, porém, não vem com o grupo para a Mimo. Barbarito explica que ela não saiu do Buena Vista, que, na verdade, não é exatamente um grupo mais um projeto coletivo, no qual eventualmente músicos se reúnem e viajam fazendo apresentações: “Ela se apresenta em algumas ocasiões com a orquestra do Buena Vista. Recentemente esta orquestra fez uma turnê pela Europa e Omara participou de alguns concertos. O que acontece é que quase todas as pessoas do Buena Vista Social Club, antes de participar do projeto, tinham seus grupos já reconhecidos e seus trabalhos com outras bandas. Eles se reuniram naquela época para este projeto convidados por Juan de Marcos González (ele foi o responsável por redescobrir músicos como Ibrahim Ferrer e Compay Segundo). Foi gravado aquele disco e, em seguida, veio o documentário, uma história que todos vocês conhecem”. Barbarito acrescenta que a atual formação não tem ainda disco gravado, porque se reuniu para algumas apresentações no Brasil.

ACENO DE OBAMA
No segundo volume do citado Rhythms del mundo, há uma foto e uma mensagem do presidente norte-americano Barack Obama comentando o projeto. Mais um aceno de Obama às pazes com Cuba e provável fim do embargo que o país amarga há décadas. Barbarito Torres, sem nunca falar pelo grupo, acha que o presidente americano vem dando sucessivas mostras de boa vontade em relação à ilha: “Pessoalmente, acho que foi muito bom para o povo dos Estados Unidos ter elegido Obama. Vemos isto como algo positivo. E temos fé que ele reconheça que Cuba tem direito a realizar seus projetos, como qualquer outro país, sem pressões de tipo algum. Todos sabemos que o embargo é bastante injusto e é algo que tem que terminar”.

Alguns dos 12 músicos que integram o Buena Vista testemunharam a situação de Cuba antes de Fidel Castro chegar ao poder, quando o país era uma espécie de cassino para turistas americanos ricos, com forte domínio da máfia. Indagado se não teme que, com uma abertura, o fim do embargo, o país possa voltar a ser o que era antes, Amadito Valdés, é curto e grosso: “Não há perigo de isto acontecer”.

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