O Brasil talvez ainda não tenha se dado conta de que, em 7 de junho de 2009, vai fazer 20 anos que Nara Leão (1942 - 1989) partiu, vítima de complicações decorrentes de um câncer no cérebro que já dera os primeiros sinais em 1979. A biografia Nara Leão - A Musa dos Trópicos chega à cena - em edição independente de Cássio Cavalcante, escritor cearense radicado em Recife (PE), fã da cantora - para reviver uma artista que marcou época na música brasileira de seu tempo. Já existe uma biografia de Nara Leão no mercado - escrita por Sérgio Cabral, lançada em 2001 e reeditada em 2008. O livro de Cavalcante nada acrescenta de substancial ao já contado por Cabral, mas prima por enfatizar as audácias estilísticas da obra fonográfica de Nara. Com base em reportagens e críticas sobre discos e shows de Nara Leão, publicadas em jornais e revistas dos anos 60 aos 80, o autor refaz a trajetória desbravadora da cantora na MPB - sigla, aliás, que bem pode ter como ponto de partida a gravação do primeiro LP da artista, Nara (1964), cujo repertório inovou ao trazer para o universo musical do asfalto músicas de compositores do morro como Cartola (1908 - 1980), Zé Ketti (1921 - 1999) e Nelson Cavaquinho (1911 - 1986). Uma atitude pioneira que fez com que, já no ano seguinte, 1965, uma cantora classuda como Elizeth Cardoso (1920 - 1990) subisse o morro para gravar álbum igualmente antológico dedicado ao samba de compositores populares. Nara Leão não foi intérprete de grandes recursos vocais, mas, por seu fio de voz, passaram informações e músicas que fizeram a cabeça de gerações e influenciaram todo o panorama da MPB a partir dos anos 60. Musa mítica da Bossa Nova, Nara logo extrapolou a estética elitista do gênero. Aderiu a música de protesto no lendário espetáculo Opinião, deu voz à música de compositores nordestinos como João do Vale (1933 - 1996), pediu passagem para a música de Chico Buarque antes de o compositor ganhar projeção nacional com A Banda em festival de 1966, avalizou de imediato a geléia geral tropicalista de 1967/1968, criou a moda de discos de duetos nos anos 70 (Meus Amigos São um Barato, 1977), surpreendeu as elites ao dedicar um álbum inteiro ao cancioneiro de Roberto e Erasmo Carlos (...E que Tudo Mais Vá pro Inferno, 1978) e, já reconciliada com a Bossa Nova, ajudou a propagar o gênero no Japão nos anos 80, tendo sido a primeira cantora brasileira a gravar (em 1985) um disco com a tecnologia digital do compact disc, o popular CD (o álbum, Garota de Ipanema, chegou às lojas em 1986). Dividida em 15 capítulos, a biografia enfatiza o caráter desbravador da carreira de Nara Leão. Para chegar ao mercado em merecido âmbito nacional, o livro - que inclui discografia, filmografia e belas fotos da cantora - precisa somente para passar por cuidadosa revisão para que os erros gramaticais do texto sejam limados e, dessa forma, a narrativa tenha o rigor estilístico típico da obra e do canto livre e pioneiro de Nara Leão.
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