domingo, 17 de maio de 2009

35 ANOS DO LP CHICO BUARQUE - SINAL FECHADO

Como Chico não poderia gravar nenhuma música nova de sua autoria e precisava viver, cantar, fazer um disco, a sua saída foi a que lhe sugeriu a direção da Philips: fazer um disco cantando músicas de outros compositores. Os colegas estavam ansiosos para colaborar com inéditas. Rigoroso e autocrítico, Chico resistiu no início, porque nunca se considerou um cantor e tinha grandes inseguranças vocais. E ainda mais tendo João Gilberto como modelo e agora cunhado: João estava casado com sua irmã Miúcha.
Era a melhor — talvez a única — alternativa ao silêncio que o regime queria lhe impor. E Chico mergulhou com entusiasmo — e raiva — no trabalho. Pesquisou músicas antigas, com letras fortes, recebeu músicas inéditas de Gil, Caetano e Tom Jobim e elegeu a emblemática “Sinal fechado”, de Paulinho da Viola, a canção-título do disco. Fez uma reinterpretação pop da estupenda “Me deixe mudo”, de Walter Franco, recente revelação da vanguarda paulistana, recriou clássicos de Caymmi, Noel Rosa e Geraldo
Pereira, revelou a obra-prima secreta de Nelson Cavaquinho e Augusto Tomaz Júnior, “Cuidado com a outra”. Cantou melhor do que nunca e produziu um dos melhores discos de sua carreira, um disco histórico que marca a estréia — e a breve carreira — de
Julinho da Adelaide.
O desconhecido Julinho assinava duas pérolas no disco de Chico, “Acorda amor” e “Jorge maravilha”. Na primeira, um samba sincopado, Julinho apresentava uma visão dramática e hilariante da paranóia repressiva:
“... são os homens, e eu aqui parado de pijama eu não gosto de passar vexame chame, chame, chame, Chame o ladrão!”
Na segunda, um samba-rock de linguagem jorge-beniana, celebrava a liberdade e proclamava:
“Mais vale uma filha na mão do que dois pais sobrevoando. Você não gosta de mim mas sua filha gosta...”
Todo mundo acostumado a ler nas entrelinhas entendeu que a coisa era com o general Geisel, novo presidente da República, e sua filha Amália Lucy, que tinha dito em entrevista que admirava as músicas de Chico. Chico desmentia vigorosamente, ninguém
acreditava.
Com a invenção de Julinho da Adelaide, como um Garrincha enfurecido, Chico marcou um golaço por debaixo das pernas da ditadura. Combateu se divertindo, criando não só um personagem, mas sua mãe cruzadista Adelaide e seu meio-irmão e parceiro que o explora, Leonel Paiva. Quando as músicas começaram a fazer sucesso, deu uma longa e hilariante entrevista a Mário Prata, na Última Hora de São Paulo, em que Julinho
contava cínica e deslavadamente toda a história de sua vida, da mãe favelada e do pai alemão, da invenção do “samba-duplex”, que pode ser lido de duas maneiras, de sua felicidade em ser gravado por Chico Buarque.


CHICO BUARQUE - SINAL FECHADO (1974)

Faixas:
01 - Festa Imodesta
02 - Copo Vazio
03 - Filosofia
04 - O Filho Que Eu Quero Ter
05 - Cuidado Com A Outra
06 - Lágrima
07 - Acorda Amor
08 - Ligia
09 - Sem Compromisso
10 - Você Não Sabe Amar
11 - Me Deixe Mudo
12 - Sinal Fechado

1 comentários:

Elizabeth Maia disse...

Nossa... sem palavras! Amei este blog. Sempre voltarei. Achei vc na comunidade do simonal. Um abraço

LinkWithin