quarta-feira, 9 de abril de 2008

100 MELHORES SEM GONZAGÃO

Por José Teles

Tem coisa mais pessoal do que lista de "melhores? Gosto é gosto, e cada qual com seu cada qual, mas em certas listas a ignorância e a idade colaboram muito. As considerações, a respeito da lista dos 100 melhores discos de todos os tempos da música brasileira, segundo a revista Rolling Stone tupiniquim. Todo bem, prezadíssimo leitor digital, a lista saiu faz um tempão, porém, só nesta semana foi que, passeando pelo blog Feijão Tropeiro, gastei tempo olhando os melhores de todos os tempos na MPB. Seguinte. Acho que quem participa destas listas, não só aqui como alhures (Melody Maker, Rolling Stone ianque, NME) é gente com menos de 30 primaveras, que tem oferta demais na Internet no presente pra se ocupar de música do passado. A não ser que a música do passado vire "raipe" do momento, feito aconteceu com Ronnie Von, que nunca foi exatamente uma Brastemp, e o que consideram nele psicodélico, não passa de subtropicalismo. Mas eis que tergiverso também na web.
Como levar a sério uma lista de 100 melhores discos da MPB de todos os tempos na qual não tem Luiz Gonzaga, o nome mais influente da MPB em todos os tempos? Uma lista sem Orlando Silva, o maior cantor da MPB de todos os tempos? Nestes dois nomes não vai hipérbole alguma. A senhora pegue Luiz Gonzaga, a música do sujeito, não falo nem dos anos 50, quando todo mundo gravou baião, mas da Jovem Guarda aos dias de hoje, é difícil alguém fazer um disco que não tenha resquício de Gonzagão. Nestas listas se vê a imprensa influenciando a imprensa, quando, por exemplo, entram entre os 100 os discos racionais de Tim Maia. Estes álbuns têm, quando muito duas ou três grandes músicas, o resto é esquisitice esotérica, ou então quando se exalta o Maria Fumaça da Banda Black Rio, um grupo que nunca alcançou o potencial dos seus integrantes.
Aliás para se entender o que foi o "movimento Black Rio é preciso ler uma matéria especial, e fundamental, da jornalista Lena Rios, feita para o Jornal do Brasil na época. O Black Rio foi o aproveitamento pelas gravadoras de uma manifestação natural que surgia nos subúrbios do Rio (que desaguou, anos depois, no funk carioca). A banda Black Rio foi montada pela Warner pra faturar em cima do movimentos dos negros suburbanos. O grupo passou uns seis meses ensaiando, recebendo salário legal, mas quando fez o primeiro baile ninguém dançou. Ou melhor, dançou a gravadora, porque os cara da banda eram puta músicos, mas não sacavam nada de música pra se balançar o esqueleto.
Estas listas chegam a ser didáticas. Mostram não apenas desconhecimento da história da música brasileira, como ratifica que o preconceito contra o que chamo de música da cobroeira nordestina, o forró. Nesta lista não há nem menção honrosa a Marinês, uma das vozes-guia da música de Pindorama. Também Dominguinhos ficou fora, assim como Jackson do Pandeiro, outra voz-guia. E aí cito apenas três grandes do forró, com discos muito mais influentes do que pelo menos uns dez citados na lista dos 100. Por fim, mas não menos importante, cadê Roberto Silva? Quem se atrever a abrir a boca para cantar samba e desconhecer Roberto Silva deve voltar imediatamente ao roquinho indie da mais nova bandinha surgida nos arredores de Manchester, Birmighan, ou naquele subúrbio distante de Londres. Falando em Roberto Silva, que tá aí com seus 84 anos, sexta, 11 de abril, ele faz uma rara apresentação no Clube das Pás, em Campo Grande, aproveitem pra conferir, pode ser a última.

JOSÉ TELES é crítico musical do Jornal do Commercio de Pernambuco

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