segunda-feira, 1 de junho de 2015

O FORRÓ “PÉ DE SERRA” E A MOTIVAÇÃO DOS JOVENS FORROZEIROS DE BELO HORIZONTE - PARTE 01

Por Camila Moura Cardilo*


RESUMO: 
O forró “Pé de Serra” contagia muitos jovens da cidade de Belo Horizonte. Assim, este estudo procura compreender o motivo que os levam a viver e reviver esta dança, música e espaço definido como forró. Primeiramente foi realizada uma pesquisa bibliográfica para apresentar o significado do forró “Pé de Serra”, do jovem e da motivação. Posteriormente, uma observação em um dos espaços da cidade em que se realiza o forró e uma aplicação de questionários a 20 jovens freqüentadores, deu continuidade à pesquisa. Quanto aos resultados verificou-se que, mesmo com as influencias externas do meio, os jovens possuem um forte envolvimento intrínseco com o forró pelo forte despertar de sentimentos e emoções.

PALAVRAS-CHAVE: Dança. Atividades de Lazer. Recreação.



INTRODUÇÃOd

A vida nos oferece vários caminhos a serem trilhados... e o homem, como sujeito a incompletude, se vê repleto de buscas. Buscamos a realização, no trabalho, no A vida nos oferece vários caminhos a serem trilhados... e o homem, como sujeito estudo, no sucesso, nos amigos, na família, na felicidade e inevitavelmente no prazer! São inúmeros os motivos pelos quais o ser humano busca algo em sua vida, mas nem sempre esses são comuns a todos, pois cada um possui seus desejos, ideais, concepções, percepções, conhecimentos que se expandem e expressam de forma específica. 

Há aproximadamente doze anos, o forró “Pé de Serra” se tornou uma prática essencial em minha vida, manifestação que considero uma das minhas fontes para a busca do lazer e do prazer. Deparei-me com essa modalidade na escola, quando estava na 6ª série do ensino fundamental. Curiosamente, não foi nas aulas de Educação Física que esse interesse surgiu, e sim, durante alguns recreios. Nesses momentos, tocava-se nas caixas de som dispostas pelo pátio, o forró “Pé de Serra”. Os alunos e alunas cantavam e dançavam, eu apenas observava. O forró vivia seu momento de explosão, um verdadeiro auge entre os hits da época. Valeria a pena problematizar seu uso pela direção da escola: seria para controlar os ânimos dos adolescentes? Seria para educá-los para uma prática de lazer? Esse não é o objetivo desse trabalho, mas posso dizer o que aconteceu comigo. Eu não dominava a dança, portanto não a praticava, o que realmente intimidava-me. Mesmo assim, fui desenvolvendo meu gosto pelo forró. Passei a treinar passos em casa, sozinha, ouvindo meu primeiro CD de forró, dado pela minha mãe.

Tempos depois, conheci uma pessoa que se tornou minha amiga, com quem dividi o gosto pelo forró “Pé de Serra”. Já em idade de freqüentar o “forró” (modo carinhoso de denominar o forró “Pé de Serra”, chamado assim pelos seus apreciadores), eu e minha amiga fomos pela primeira vez. Nesse dia tivemos nosso primeiro contato com os forrozeiros(as) de Belo Horizonte. Tudo era fantástico: ritmo, letra, dança; encantava-me e me transportava para outro mundo (HUIZINGA, 2001). Na batida do forró, o meu coração também batia mais forte, a felicidade tomava conta da minha alma, o meu corpo falava. Ainda hoje, freqüento casas noturnas para desfrutar do prazer de dançar e escutar o forró.

A dança do forró “Pé de Serra” traz consigo além de uma grande história, também valores e realidades proporcionando possibilidades de compreendê-la como uma fonte educativa que desenvolve conhecimento, sociabilidade e prazer. O ritmo é contagiante, forte e marcante. A letra da música retrata a realidade nordestina destacando o amor e a relação do clima árido e seco de sua natureza. A dança é alegre, realizada em pares, com a condução do cavalheiro (cabe à dama entregar-se a ele e seguir seus comandos), passos específicos (lentos ou rápidos) conforme o ritmo, onde o contato com o outro envolve respeito, atenção e sintonia. Portanto, vivenciar o forró, torna-se uma possibilidade de nos educarmos para e pelo lazer (MARCELLINO, 1987). 

O surgimento do forró na Região Sudeste e, consequentemente na cidade de Belo Horizonte, propagou-se entre os jovens e trouxe-lhes uma cultura distinta, uma vivência diferente. Dele faz parte costumes, roupas, calçados, acessórios, música e dança bem características da Região nordestina. Com o encanto dos jovens belorizontinos, a prática do forró “Pé de Serra” espalhou-se e até os dias atuais abrange um público bem significativo de praticantes, seja em casas noturnas, escolas de dança ou num encontro entre amigos.

Segundo Lancellotti (1992, p.14), “ser jovem é ser e ter um modo próprio de prazer.” O jovem que busca o forró, identifica-se com a prática por motivos específicos, hipótese é de que alguns se encontram no forró pela valorização cultural e sentimento fazendo-o sentir prazer em viver e ainda querer reviver estes momentos. A minha emotivo que os envolvem na dança, outros em busca de amizade ou relacionamentos, e alguns são influenciados por outras pessoas ou por não terem “nada melhor pra fazer”.

O que me move nesse estudo é desvendar o mistério que envolve os jovens forrozeiros, tentando compreender o que os motivam a viver e reviver o forró “Pé de Serra”, tudo isso considerando que, o forró é uma possibilidade de socialização, interação e integração do jovem com outro jovem, com o ambiente e consigo mesmo. 

Assim, essa prática seria um meio do jovem sentir o prazer envolvendo-se culturalmente numa manifestação educativa, rica, alternativa, lúdica e repleta de emoções. Nesse contexto, o objetivo desse estudo, foi verificar qual a motivação dos jovens para vivenciar o forró “Pé de Serra”. Parti do significado do forró para cada um deles e questionei o que os movem a viver e reviver a dança, a música e o ritmo.

Para a realização desse trabalho foi utilizada uma metodologia qualitativa, com o objetivo de trabalhar com os aspectos que não podem ser quantificados, focando na compreensão e na explicação da dinâmica das relações sociais (FONSECA, 2002). Para dar início ao estudo, foi realizada uma pesquisa bibliográfica para a compreensão do forró “Pé de Serra”, do jovem e da motivação. Posteriormente, uma pesquisa de campo numa casa noturna de Belo Horizonte, deu continuidade ao trabalho. Essa investigaçãoaconteceu em um dia da semana que houve especificamente o forró “Pé de Serra”. 

Nessa pesquisa, foi observado o espaço e também o comportamento dos jovens ali presentes. Além disso, foram aplicados questionários, como instrumento de coleta de dados. Os mesmos foram respondidos por 20 jovens (10 mulheres e 10 homens) escolhidos de forma aleatória, com a restrição de terem no mínimo 18 e no máximo 35 anos de idade.


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* Bacharel em Educação Física pela PUC- Minas.

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