quarta-feira, 8 de abril de 2015

ACERVO DA VIDA E OBRA DE CHICO SCIENCE ESTÁ AMEAÇADO POR DESCASO EM MEMORIAL

Museu que celebra vida e obra de Chico Science e integra complexo de aparelhos da Prefeitura do Recife no Pátio de São Pedro está abandonado

Por Larissa Lins





Às 15h da última segunda (09), ainda não havia assinaturas no livro de presença disposto na entrada do Memorial Chico Science, mantido pela Prefeitura do Recife. No dia anterior, somente um punhado de nomes. É uma época morta para visitas, atestam os cinco funcionários do espaço, localizado há quase seis anos no Pátio de São Pedro. O passeio não impressiona. Para chegar à porta, é preciso pedir ajuda a comerciantes, já que não há sinalização. Desgastada, a fachada anuncia as más condições do interior. 

São três ambientes com pouca ou nenhuma ventilação. O segundo deles, uma videoteca, é mais úmido e, por isso, tem as paredes mofadas. Os outros, secos e abafados. No último deles, uma biblioteca com cerca de 70 livros se aperta sob a escada que conduz ao setor administrativo, ao qual nossa reportagem não teve acesso. O percurso - que pode ser feito em menos de 10 minutos - pode ou não ser guiado por um dos funcionários, mediante pedido do visitante. Dados o calor e a estrutura pouco convidativa do espaço, não surpreendem as críticas dos fãs do movimento manguebeat ao memorial. Hoje, liderados pelo grupo Raízes do Mangue, eles se reúnem na Rua da Aurora para pleitear uma reestruturação do espaço ou a criação de uma nova sede. 

Segundo Almir Cunha, um dos líderes do levante, a convocação foi toda feita através das redes sociais. Cerca de 500 pessoas foram convidadas, mas a estimativa é de que 10% compareçam ao encontro, ao lado da escultura Carne da Minha Perna (a do caranguejo), às 14h. A ideia é redigir uma carta com as exigências detalhadas em torno da revitalização ou transferência do Memorial Chico Science. 


Na videoteca, as paredes estão tomadas por mofo. Foto: Blenda Souto Maior/DP/DA Press 

“Esperamos que fãs e artistas ligados ao manguebeat compareçam”, diz Almir, estudante de jornalismo, que administra o Raízes do Mangue, com o amigo Marcos Azeredo. Para ele, a atual sede do memorial está muito aquém do legado de Science. Os objetos cedidos pela família do músico, bem como acervos de livros e discos que serviram de referência ao manguebeat, estão se deteriorando. O cartaz virtual de divulgação do protesto foi compartilhado por Jorge DuPeixe na página oficial da Nação Zumbi. A legenda “essa preocupação também é nossa” só encorajou o Raízes do Mangue.

Os funcionários contam que, em época de férias, o fluxo de visitantes aumenta, principalmente antes do carnaval. A gerente operacional do Memorial, Carmem Piquet, trabalha na sede da prefeitura, que - por meio da Secretaria de Cultura - informou por e-mail que não poderia responder às demandas da reportagem até o fechamento desta edição.

ATUALIZAÇÃO: Na noite de ontem, após o fechamento do caderno Viver, a Secretaria de Cultura informou, através de email, que a Prefeitura fará uma análise das reivindicações do Movimento Raízes do Mangue, assim que as receber oficialmente para, em seguida, definir quais as ações que poderão ser realizadas no local.

Confira Chico Science & Nação Zumbi com Manguetown:




>> SAIBA MAIS

Outros espaços no Pátio de São Pedro enfrentam o mesmo descaso, como o Centro de Design, temporariamente sem atividades, e o MAP (Museu de Arte Popular), de portas fechadas na tarde desta terça. Outros, como a Casa do Carnaval e o Memorial Luiz Gonzaga exibem maior organização, mesmo com pouco movimento.

Centro de Deisgn (superior esquerda), Casa do Carnaval (superior direita), Núcleo Afro (inferior esquerda) e Memorial Luiz Gonzada (inferior direita). Fotos: Blenda Souto Maior/DP/DA Press


Centro de Design

Também sediado no Pátio de São Pedro, o Centro de Design encontra-se temporariamente fora de atividade. A previsão dos funcionários que estavam no local é de que ainda neste semestre o endereço receba novas oficinas ou exposições.


Casa do Carnaval

Coordenada pelo gerente operacional Cláudio Nascimento, a casa guarda livros, álbuns, manuscritos, estandartes e peças carnavalescas. Funciona há seis meses em endereço provisório, também no Pátio de São Pedro, onde a sede oficial está sendo reformada. Também sem placas, mas de estrutura organizada e convidativa. O assistente de pesquisa Cássio Ranieri orienta os visitantes.


Núcleo de Cultura Afro

Vizinho à sede provisória da casa do carnaval, o núcleo foi instalado no Pátio de São Pedro em 2001. Guarda referências do folclore afro, de esculturas a documentos. É coordenado pelo mesmo gestor da Casa do Carnaval, Cláudio Nascimento. 


Memorial Luis Gonzaga

Localizado ao lado do Memorial Chico Science, tem estrutura bastante diferente do vizinho. Conservado e refrigerado, não tem o glamour do Cais do Sertão, mas guarda acervo precioso do Rei do Baião. É administrado pelo pesquisador Josemauro de Alencar, que comanda uma equipe de oito pessoas - dividias em pesquisa, mediação do público e catalogação de documentos.

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