sábado, 26 de abril de 2014

MESTRES DE OUTROS CANTOS CANTANDO PERNAMBUCO – PARTE IV (ÚLTIMA) – MORAES MOREIRA

(Esta série é uma homenagem ao meu mestre e professor de vida Abdias Moura. Inspira-se na idéia de seu livro “O Recife dos Romancistas” – Paisagens – Costumes – Rebeliões – FacForm, 2010)

Por Joaquim Macedo Junior



Moraes Moreira: “Vassourinha Eletrônica”



Moraes Moreira é de outros carnavais. Não fosse ele a mais importante e genuína conexão das folias baiana e pernambucana, estaria na minha lista TOP-10 pelo trabalho solo e antes, com a fantástica experiência de música e de convivência social alternativa, quando viveu em Arembepe com a tropa, a turma, a trupe do inesquecível “Novos Baianos”.

Na minha limitada opinião, entendo que os “Novos Baianos” estão entre grupos revolucionários como “Os Mutantes”, “Som Imaginário”, “Secos e Molhados”, cada um no seu cenário e na sua estética.

Quando os conterrâneos de Dorival tocaram “Brasil Pandeiro”, de Assis Valente, também natural de Santo Amaro da Purificação de personalidades como Emanuel Araújo e d. Canô, despertaram a musicalidade adormecida entre os brasileiros e até rejeitada pelas gerações mais novas. É de fundamental importância o trabalho, de Moraes, Galvão, Paulinho Boca de Cantor, Baby e Pepeu (que som!).

Aqui a nossa conexão se faz pelo excelente “Vassourinha Eletrônica” que dispensa de vez as intrigas e pendengas de pernambucanos e baianos quanto à criação e fundação do frevo. Moraes diz: “o frevo, que é pernambucano, sofreu ao chegar na Bahia, um toque, um sotaque baiano, uma nova energia…”

Moraes agregou duas das três potências do carnaval brasileiro e assim reina como ídolo em todos os cantos, incluindo no carnaval de Recife e Salvador.

Vassourinha Eletrônica – Moraes Moreira



Varre, varre, varre vassourinhas
Varreu um dia as ruas da Bahia
Frevo, chuva de frevo e sombrinhas
Metais em brasa, brasa, brasa que ardia

Varre, varre, varre vassourinhas
Varreu um dia as ruas da Bahia

Abriu alas e caminhos pra depois passar
O trio de Armandinho, Dodô e Osmar (bis)

E o frevo que é pernambucano, ui, ui, ui, ui
Sofreu ao chegar na Bahia, ai, ai, ai, ai
Um toque, um sotaque baiano, ui, ui, ui, ui
Pintou uma nova energia, ai, ai, ai, ai

Desde o tempo da velha fubica, hahahahaha…
Parado é que ninguem mais fica

É o frevo, é o trio, é o povo
É o povo, é o frevo, é o trio
Sempre junto fazendo o mais novo (bis) – Carnaval do Brasil


A História

Dodô e Osmar foram os inventores do trio elétrico do carnaval baiano. Dodô (Antônio Adolfo Nascimento) e Osmar Macedo se conheceram em um programa de rádio em 1938.

Os dois estudavam música e eletrônica e pesquisavam uma forma de amplificar o som dos instrumentos de corda. A amplificação aconteceu dez anos depois e, no carnaval de 1950, a dupla saiu em cima de um Ford 1929 – a Fobica – tocando um violão e um protótipo de guitarra, adaptados à bateria do automóvel as canções de uma Academia de Frevo do Recife, que se apresentava em Salvador.

No começo de 1950, o Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas, do Recife, seguiu para um desfile no Rio de Janeiro e, como a embarcação em que viajava fez uma escala na capital baiana, a prefeitura o convidou para realizar uma apresentação.

Assim, no dia 31 de janeiro Vassourinhas desfilou pelas ruas de Salvador. Nosso colega de “Besta Fubana”, o historiador Leonardo Dantas Silva registrou: “rico estandarte alçado ao vento, morcego abrindo a multidão, balizas puxando dois cordões (…) tudo ao som de uma fanfarra de 65 músicos que, com seus metais em brasa, viriam naquele momento revolucionar a própria história da música popular brasileira.”

Logo a multidão empolgada acompanhava o cortejo.

Vendo a animação com que o público reagiu ao frevo pernambucano, Dodô e Osmar saíram pelas ruas executando o ritmo recifense, com enorme sucesso.

Em um ano, fizeram aperfeiçoamentos e incluíram mais um membro, Temístocles Aragão, formando assim o trio elétrico em 1951. No ano seguinte uma empresa de refrigerantes percebeu o enorme sucesso do trio e colocou um caminhão decorado à disposição dos músicos, inaugurando o formato consagrado por todos os carnavais até hoje – o trio elétrico.

Em 1978, Moraes Moreira e o guitarrista Armandinho, filho de Osmar, inovaram trazendo um cantor no trio elétrico, com a canção “Assim Pintou Moçambique“. Teve início, então, uma nova fase do carnaval baiano, e do próprio trio, renovado com a presença vocal, na figura de Moraes, que apresentava sucessos cantados pela primeira vez no “palco móvel” dos trios, como “Vassourinha Elétrica” – homenagem ao clube recifense que deu início a tudo – pois até então os trios eram exclusivamente instrumentais, como relembra o compositor Manno Góes.


Brevíssimo perfil:

Antônio Carlos Moreira Pires, cantor, compositor e músico, ex-integrante do grupo “Os Novos Baianos”, nasceu em Ituaçu, 8 de julho de 1947.

Moraes Moreira começou tocando sanfona de doze baixos em festas de São João e outros eventos de Ituaçu, o “Portal da Chapada Diamantina”.

Na adolescência aprendeu a tocar violão, enquanto fazia curso de ciências em Caculé, Bahia. Mudou-se para Salvador e lá conheceu Tom Zé, e também entrou em contato com o rock n’ roll.

Juntamente com Luiz Galvão, foi compositor de quase todas as canções dos “Novos Baianos”. O álbum ‘Acabou Chorare’, lançado pela banda em 1972, foi considerado pela revista Roling Stone Brasil um dos 100 melhores álbuns da história da música brasileira.

Moraes Moreira possui 40 discos gravados, entre Novos Baianos, Trio Elétrico Dodô e Osmar e ainda dois discos em parceria com o guitarrista Pepeu Gomes. É um dos mais versáteis compositores do Brasil, misturando ritmos como frevo, baião, rock, samba, choro e até mesmo música erudita.

Alguns dos sucessos dessa fase são “Pombo Correio“, “Vassourinha Elétrica” e “Bloco do Prazer“, dentre outras. Durante os anos 80 se afastou um pouco do carnaval baiano, devido a sua comercialização para a indústria do turismo.

Em 2012, Moraes gravou o disco “A Revolta dos Ritmos”, um disco com 12 composições inéditas dele. Paralelo ao novo CD Moraes, viajou pelo Brasil, ao lado do seu filho Davi Moraes, com uma turnê comemorando os 40 anos do disco “Acabou Chorare”.


Em tempo:

Pude ver, pela televisão, a apresentação de Moraes na última noite do Carnaval Pernambucano de 2014. Não sei se eu estava com disenteria ou de mau humor, mas considerei a apresentação muito fraca. Parecia um Moraes rouco e desmotivado. Quem salvou o show foi o filho David Moraes. Sei o que aconteceu, não!

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