sábado, 12 de abril de 2014

MESTRES DE OUTROS CANTOS CANTANDO PERNAMBUCO – PARTE II – MARCOS E PAULO SÉRGIO VALLE (E NOVELLI)

(Esta série, iniciada com Dorival Caymmi e ‘Dora’, semana passada, é uma homenagem ao meu mestre e professor de vida Abdias Moura. Inspira-se na idéia de seu livro “O Recife dos Romancistas” – Paisagens – Costumes – Rebeliões – FacForm, 2010)

Por Joaquim Macedo Junior


Marcos e Paulo Sérgio Valle e o intruso Novelli: ‘Pelas ruas do Recife’

Quando penso em Marcos e Paulo Sérgio Valle a primeira obra-prima que vem à mente é “Eu Preciso Aprender a Ser Só”, segundo Elis Regina a primeira canção que verdadeiramente lhe colocou como uma grande cantora no cenário brasileiro (depoimento ao programa “Ensaio” da TV Cultura).

Marcos e Paulo Sérgio têm uma marca tão própria que dificilmente pensamos em músicas que não sejam da dupla. No entanto, tanto Marcos tem trajetória isolada e brilhante, quanto Paulo Sérgio é letrista de muitos parceiros, além do irmão.

Escolhi “Pelas Ruas do Recife” por um motivo muito simples: é um dos frevos mais leves e gostosos de brincar, com letra fácil (‘pelas ruas do Recife todo ano tem 7 dias de folia todo ano tem…’), parece ter sido feito por um compositor local. É harmônico, melodioso e sem mesuras. Talvez o tempero tão genuíno venha do pernambucano Novelli, que para minha surpresa (e acho que para muitos), é co-autor desse frevaço:


Pelas Ruas do Recife, de Marcos e Paulo Sérgio e Novelli – 1968


Brevíssimos perfis:

Marcos Valle

Marcos Kostenbader Valle, compositor, cantor, instrumentista e arranjador, nasceu em 14 de setembro de 1943 no Rio de Janeiro. Começou a estudar piano clássico aos seis anos de idade e formou-se em piano e teoria musical em 1956.

O primeiro sucesso da dupla Marcos e Paulo Sérgio foi ‘Sonho de Maria’, gravada pelo Tamba Trio em 1963. Marcos começou tocando no trio formado por ele, Edu Lobo e Dori Caymmi. Em 1964, sua canção ‘Samba de Verão’ atingiu o segundo lugar nas paradas de sucesso dos EUA e teve pelo menos 80 versões gravadas nos EUA.

Nos anos 70, a TV Globo encomendou aos irmãos Valle e Nelson Motta que fizessem uma canção de natal para o fim do ano, com os atores das telenovelas e artistas da Rede Globo cantando. A canção “Um novo tempo” (a dos versos “Hoje é um novo dia / de um novo tempo / que começou…”) tornou-se um sucesso tão grande que nunca mais saiu do ar, sendo presença obrigatória no Natal da Rede Globo até hoje.

Considerado um dos integrantes da segunda geração da bossa nova, iniciou sua carreira artística em 1961 integrando um trio, juntamente com Edu Lobo e Dori Caymmi.

Começou a apresentar-se em shows e abandonou o curso de Direito na PUC, do Rio de Janeiro no segundo ano. Em 1965, participou do espetáculo “A Bossa no Paramount”, realizado no Teatro Paramount (SP), no qual interpretou duas canções inéditas que se tornariam emblemáticas em sua carreira de compositor: “Preciso aprender a ser só” e “Terra de ninguém“, ambas com Paulo Sérgio Valle.

Nesse mesmo ano, lançou o disco autoral “O compositor e o cantor Marcos Valle”, com destaque para as canções “Gente“, “Preciso aprender a ser só“, “Samba de verão“, “A resposta” e “Deus brasileiro“, todas com Paulo Sérgio Valle.

Ainda em 1965, viajou para os EUA, onde fez parte, durante sete meses, do conjunto de Sérgio Mendes, Brasil’65, com o qual se apresentou em casas noturnas, universidades e no programa de televisão de Andy Williams. Também gravou um single com “All my loving“, dos Beatles, em ritmo de bossa nova. Após esse período, retornou ao Brasil.

Em 2004, participou, ao lado de Gilberto Gil e outros artistas, da gravação do CD “Hino do Fome Zero” (Roberto Menescal e Abel Silva). Também nesse ano, apresentou-se, ao lado de Johnny Alf, João Donato, Carlos Lyra, Roberto Menescal, Wanda Sá, Leny Andrade, Pery Ribeiro, Durval Ferreira, Eliane Elias, Os Cariocas e Bossacucanova, no espetáculo “Bossa Nova in Concert”, realizado no Canecão (RJ).

Em julho de 2011, a EMI brasileira lançou a caixa de CDs “Tudo” onde estão todos os seus discos gravados para a empresa britânica entre 1963 e 1974, incluindo alguns fonogramas inéditos recuperados pelo pesquisador Charles Gavin nos porões da gravadora.


Paulo Sérgio Valle

Paulo Sérgio Kostenbader Valle, compositor e letrista, nasceu no Rio de Janeiro, em 6 de agosto de 1940.

Irmão do compositor Marcos Valle, Paulo Sérgio começou sua carreira compondo bossa nova quando fez, com o irmão, ‘Samba de Verão’, que se tornaria, com ‘Garota de Ipanema’ e ‘Aquarela do Brasil’, uma das três canções brasileiras mais famosas no exterior.

Depois disso, Paulo Sérgio passou a fazer letras para diversos outros compositores, tornando-se um letrista importante em todos os segmentos da música. Além de letrista de músicas, Paulo Sérgio é autor de jingles de sucesso.


Novelli

(chamei-o de intruso porque, sendo pernambucano, não caberia no perfil que proponho para a série “Mestres de outros cantos cantando Pernambuco” – aqui ele apenas é um dos três compositores)

Djair de Barros e Silva, baixista, pianista, compositor e cantor nasceu no Recife, em 20 de janeiro de 1945. Novelli começou a carreira artística nos anos 60, como crooner do Conjunto Nouvelle Vague, em Recife. Recebeu o apelido de Novelli, em homenagem ao nome do movimento artístico do cinema francês. Logo depois, adotou o contrabaixo como instrumento profissional.

Em 1967, já morando no Rio de Janeiro, acompanhou o pianista Mário Castro Neves, gravando o disco “Mário Castro Neves e Samba S.A”.

Foi membro do Trio 3D, ao lado de Antonio Adolfo (Piano) e Victor Manga (Bateria). Tempos depois, fez parte do grupo a Tribo, juntamente com Nelson Angelo, Joyce, Toninho Horta e Naná Vasconcelos, gravando um compacto duplo pela Odeon.

Em 1973, viajou com Nelson Angelo e Naná Vasconcelos para a Europa, onde gravou o disco “Naná Vasconcelos, Nelson Angelo e Novelli”.

No mesmo ano, se reuniu com Beto Guedes, Danilo Caymmi e Toninho Horta, registrando o LP Beto Guedes, Danilo Caymmi, Novelli r Toninho Horta.

Em 1975, participou da gravação do LP “Imyra Ipy Tayra Taiguara”, do cantor e compositor Taiguara, ao lado de Wagner Tiso, Toninho Horta, Hermeto Paschoal, Paulinho Braga, Nivaldo Ornelas, Zé Eduardo Nazário e muitos outros.

Nos anos 80, foi integrante da Turma do Funil, se somando a Francis Hime, Miucha, Danilo Caymmi, Nelson Angelo, Lula, Olívia Hime e Cristina Buarque. Quatro anos depois, lançou o segundo disco Canções Brasileiras.

Músico atuante em mais de quarenta anos de carreira, acompanhando Milton Nascimento, Marcos Valle, Gal Costa, Elis Regina, Tom Jobim, Egberto Gismonti, Dori Caymmi, Lô Borges, João Donato, Raul Seixas, Joyce, Edu Lobo, Ivan Lins, MPB-4, Simone, Sueli Costa, Alaíde Costa, Nana Caymmi, Danilo Caymmi, Chico Buarque, Sarah Vaughan, Zizi Possi, Gonzaguinha, Cristina Buarque, Toninho Horta, Miucha, Francis Hime, Geraldo Azevedo, Ney Matogrosso, Carlinhos Vergueiro e muitos outros.

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