domingo, 5 de fevereiro de 2012

LUIZ GONZAGA É CEM: HOMENAGEM DA UNIDOS DE LUCAS

Por Abílio Neto

Inúmeras pessoas pensam que a homenagem a ser prestada a Luiz Gonzaga pela escola de samba Unidos da Tijuca, do Rio de Janeiro, com o enredo “o dia em que toda a realeza desembarcou na Sapucaí para coroar o Rei Luiz do Sertão”, é o primeiro enredo sobre o nosso Rei do Baião.

Não é. Em 1982, a escola de samba Unidos de Lucas, que pertencia ao segundo grupo, prestou a Luiz Gonzaga uma significativa homenagem. E ele desfilou na comissão de frente da escola de chapéu de couro e gibão como bem mostra a foto acima. O mais importante daquela homenagem foi o samba-enredo, “Lua Viajante”, que sem dúvidas é um samba bem melhor do que este que ganhou o concurso para representar a Unidos da Tijuca na homenagem dos cem anos do sanfoneiro de Exu/PE.

A autoria daquele samba precioso é tripla: Zeca Melodia, Dagoberto de Lucas e Dona Gertrudes. O intérprete foi Abílio Martins e o destaque da gravação de Lua Viajante foi a participação do próprio Luiz Gonzaga que à medida que a letra ia sendo cantada ele a aprovava dizendo “é isso”, “tá certo”, “é verdade”. E no final da gravação canta o refrão da música acompanhado da sua vibrante sanfona. Uma beleza de samba, tanto na letra quanto na melodia! Se existe hoje em dia uma coisa impossível de ser ouvida é um bom samba-enredo. Uma prova de que o samba era bom mesmo foi ter sido escolhido como o melhor do segundo grupo, recebendo o famoso troféu “Estandarte de Ouro”.

O enredo Lua Viajante foi uma criação do carnavalesco Carlos D’Andrade que chegou a ser reapresentado pela mesma escola em 2006. Sobre Lua Viajante, escreveu lindamente Luiz Antonio Simas em 05/01/2007:

“Ando aluado de tantas luas. Deve ser porque vi, numa Marquês de Sapucaí iluminada, nas lonjuras de 1987, a Unidos de Vila Isabel cantar os amores entre a lua e o sol e o nascimento das estações do ano - num belo samba sem rimas do Martinho - segundo a tradição dos índios Urubu-Kaapó. Belezura que foi aquele mar azul e branco de cocares, só quem viu.

Vi também, meninote de calças curtas, nas saudades dos meus quatorze anos, o desfile magnífico da Unidos de Lucas (numa Marquês de Sapucaí deserta - era desfile do grupo 2) em homenagem ao velho Luiz Gonzaga. O samba-enredo, do qual não esqueci até hoje nenhum trecho, entra na minha lista dos dez maiores. Chama-se Lua Viajante. Reparem que letra magnífica e vejam se não é de aluar.

Senhoras e senhores, puta-que-pariu, pato não bota ovo, puta-que-pariu de novo. Foi bonito até dizer chega! O velho Luiz Gonzaga desfilou, de gibão majestoso, sanfona branca e chapéu de cangaceiro. Ali, naquele momento, que me desculpe a lua nova que banhava a Guanabara, a lua grande tava era no asfalto, na pele curtida de sol do mestre sanfoneiro do Araripe.

É por isso, amigos meus, que aluado de carnavais, luas e Lua, às margens do rio Maracanã, vou acender uma vela inusitada no meu altar da pátria, zelando pelo encantamento do meu mundo.

A vela de hoje vai pra quem eu não conheço nem os nomes. Vai pros compositores do samba da Unidos de Lucas, obscuros e magníficos personagens da minha vida, provavelmente cariocas, possivelmente gente do povo. Onde eles estiverem que as luas levem, nas asas do vento, o recado de que eles proporcionaram, ao menino de quatorze anos, um momento de encantamento do mundo que, ainda hoje, insiste em ecoar no coração do adulto em todas as fases da lua. Obrigado. Axé!”

É um dos mais belos textos que já recolhi desta maravilha do mundo chamada internet. Depois disso, só me resta fazer o quê? Colocar para escuta o belíssimo samba “Lua Viajante” com a brilhante participação de Luiz Gonzaga, o nosso inesquecível Rei do Baião, o qual demonstrou naquela gravação que também era muito bom de samba!

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