Essa história é contada por Henrique Cazes, em seu disco Sem Tostão, feito em parceria com Cristina Buarque, em que interpretam sambas de Noel Rosa e contam casos relacionados a ele e suas músicas. Esta é a melhor. E mostra que a boa malandragem e o bom humor quase sempre andam juntos.
Sendo Noel um grande boêmio, um cara que gostava de viver nas ruas, nos botequins, ele fez logo amizade com muitos motoristas de táxi, que às vezes levavam ele pra casa, às vezes ainda emendavam uma outra farra, ou, às vezes, levavam ele pra namorar alguma moça no Joá.
Noel foi percebendo aos poucos que havia um motorista de táxi chamado Malhado, e o Malhado era cantor de serestas, era metido a dar o famoso "dó de peito", e gostava de cantar falsas canções, com palavras difíceis, rebuscadas, que ele não entendia absolutamente o que significava.
O Noel aos poucos foi percebendo o estilo do Malhado, e compôs uma canção especialmente pra ele, ensinou, e combinou com ele pra lançar a música numa seresta, pra duas filhas dum coronel lá em Vila Isabel.
Chegando lá em baixo do sobrado do coronel, o Noel disse que ia ficar do outro lado da rua, "pra dar o destaque que a voz do Malhado merecia".
Feriu o tom, e lá se foi o Malhado:
"Saí da tua alcova com o prepúcio dolorido, deixando seu clitóris, gotejante de volúpia, emurchecido. Porém, o gonococos da paixão aumentou minha tensão..."
Bem, o coronel levantou atirando, o Malhado saiu correndo, chegou na esquina lívido, o Noel já estava esperando ele e perguntou: "- Que que houve, Malhado?" E o Malhado, assustadíssimo, falou:
"-Não sei, o cara saiu atirando, não entendi nada!". E o Noel, sem perder a pose: "Isso é pra você ver, Malhado, a falta de sensibilidade dessa gente..."
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