Em tempos em que os discos vão se desprendendo do suporte físico, Maria Bethânia mais uma vez aproveita para lançar dois discos de uma só vez. Em Tua, o amor é o tema em canções onde o violão do maestro Jaime Alem dá o tom, seguido pelo baixo de Jorge Helder e a bateria de Marcelo Costa. Já em Encanteria, Bethânia revisita ritmos interioranos do país, como o samba de roda, a viola caipira, o xote, que remete à sua terra natal, Santo Amaro da Purificação, como ela mesma conta nesta entrevista exclusiva ao SaraivaConteúdo. O primeiro sai pela Biscoito Fino, e o segundo, pelo selo da cantora, Quitanda, vinculado à gravadora.
As participações, mais que especiais em ambos os discos, incluem o piano de João Assis Brasil, a guitarra de Victor Biglione, o acordeon de Toninho Ferragutti, o bandolim de Hamilton de Hollanda, o violão e os arranjos de Mauricio Carrilho, os alunos da Escola Portátil de Música, e a vozes de Lenine, Gilberto Gil e Caetano Veloso.
Já as composições escolhidas por Bethânia privilegiam o trabalho do baiano Roque Ferreira, que já colabora com ela desde trabalhos anteriores e aqui comparece com sete canções, três em Tua e quatro em Encanteria. Gravado primeiramente por Clara Nunes em 1979, desde então Roque teve 400 músicas cantadas por João Nogueira, Martinho da Vila, Beth Carvalho e Zeca Pagodinho, entre outros. Seu único disco solo, Tem samba no mar, saiu em 2004 pela mesma Biscoito Fino, e em breve Roberta Sá grava um álbum com 14 inéditas suas.
Além dele, comparecem composições em parceria de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro em “É o amor outra vez”, Jorge Vercilo e J. Velloso em “O que eu não conheço”, Cesár Mendes e Arnaldo Antunes em “Até o fim”, Moacyr Luz e Aldir Blanc em “Remanso”, Chico César e Paulinho Moska em “Saudade” e Roberto Mendes e Nizaldo Costa em “Saudade dela”, com participação de Caetano e Gil, homenagem a Dona Edith do Prato, falecida em 2008 aos 94 anos e cujos sambas de roda permearam a vida de Bethânia. E mais canções de Adriana Calcanhotto, Vanessa da Matta, Jaime Alem, Vander Lee, além de Paulo César Pinheiro, cuja “Encanteira” deu nome a um dos discos.
O primor e a elegância de Bethânia estão presentes em ambos os trabalhos, cada um com 11 faixas, mas Encanteria se mostra mais solto e exuberante, com canções que viajam pelo vasto universo da música interiorana brasileira, com destaque para os sambas de roda de Roque Ferreira, como “Feita na Bahia” e “Coroa do mar”, o xote de Lee, “Estrela”, e de Roque, “Minha rede”. Já em Tua, mais contido, destacam-se a faixa-título, de Calcanhotto, e “Você perdeu”, de Márcio Valverde e Nélio Rosa.
Incansável, Bethânia chegou a gravar um terceiro disco, que não será lançado comercialmente, mas doado para escolas públicas, com canções e textos de poetas brasileiros e portugueses, alguns inéditos em sua voz. Aliás, incansável a baiana vem sendo desde o início desta década, quando se filiou à gravadora Biscoito Fino, onde também criou seu selo, Quintada, para lançar alguns de seus trabalhos e produzir outros por quem se interessa, como Namorando a Rosa (2004), homenagem a Rosinha de Valença, e Menino do Rio (2006), de Mart´nália. Pela Biscoito Fino, estreou em 2003 com Maricotinha ao vivo, em CD e DVD.
Desde então, foram oito álbuns de estúdio, somando estes dois recém-lançados – Cânticos, preces, súplicas à Senhora dos Jardins do Céu (2003), Brasileirinho (2004), Que falta você me faz (2005), Pirata (2006), Mar de Sophia (2006) e Omara Portuondo e Maria Bethânia (2008). Além disso, lançou o registro ao vivo Dentro do mar tem rio (2007) e os dvds Brasileirinho (2004), Tempo, tempo, tempo, tempo (2005), Omara Portuando e Maria Bethânia (2008) e Dentro do mar tem rio (2009). Com mais de 40 anos de carreira, Bethânia segue reafirmando a cada trabalho o seu lugar como Abelha Rainha da música brasileira.
> Assista à entrevista exclusiva de Maria Bethânia ao SaraivaConteúdo
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