segunda-feira, 5 de outubro de 2009

MORRE, AOS 74 ANOS, A CANTORA MERCEDES SOSA

A lendária cantora argentina Mercedes Sosa faleceu neste domingo (03), conforme informaram os familiares. Ela tinha 74 anos. "Nesta data, na cidade de Buenos Aires, Argentina, temos que informar que a senhora Mercedes Sosa, a maior artista da música popular latino-americana, nos deixou", diz um comunicado entregue pela família da cantora a jornalistas que estavam na frente da clínica Sanatório de la Trinidad, no bairro portenho de Palermo.

"Uma mulher maravilhosa nos deixou" disse o sobrinho da cantora, "Cuqui" Sosa. Segundo ele, o corpo da cantora será velado no Congresso argentino.

Até agora, não existe boletim médico sobre a morte de Mercedes Sosa, cujo óbito aconteceu pouco após 5h deste domingo.


O último boletim de sábado (02) à noite dizia que a saúde da cantora "segue muito grave" e "com deterioração maior das funções orgânicas". Os médicos também ressaltaram que ela continuava "em coma e com assistência respiratória mecânica". Na noite da sexta-feira, o sacerdote Luis Farinello deu a extrema-unção à cantora.

"Gracias a la vida/que me ha dado tanto...", a canção de Violeta Parra, considerada uma das fundadoras da música popular do Chile, ganhou versão definitiva na voz de Mercedes Sosa. Apelidada por alguns de "A voz da América Latina", Sosa deixa uma obra vasta e de forte temática social, após uma vida de resistência política misturada ao romantismo, com dezenas de parcerias importantes.

Nascida em 1935 em Tucumán, no norte da Argentina, Mercedes Sosa teve origem humilde e gostava desde cedo de interpretar canções folclóricas. Aos 15 anos, participou de um concurso de uma rádio com um grupo, quando a afinada cantora se destacou. O prêmio pela vitória foi um contrato de dois meses com uma emissora. Era o início da carreira.

Na década de 1960, Mercedes participou do Movimento do Novo Cancioneiro, surgido em Mendoza e centrado na música popular latino-americana, com ênfase no componente social. Além de obter sucesso na Argentina, a artista ganhou palcos pelas Américas e também na Europa.


A temática social e a ligação com a esquerda lhe renderam também dissabores. Em 1979, um show da artista foi invadido pelos militares, durante a ditadura argentina (1976-83). Não apenas ela foi presa, mas inclusive o público presente. Naquele mesmo ano, Mercedes decidiu se exilar.

"La Negra", como também era conhecida, voltou à Argentina em 1982, na fase final da ditadura. Na década de 1980, Mercedes realizou trabalhos em parceria com Milton Nascimento. Entre os brasileiros que também cantaram com ela estão ainda Caetano Velloso e Daniela Mercury.

Na reta final, Mercedes ainda encontrava reconhecimento do público e da crítica. Seu último álbum, "Cantora 1", alcançou boa vendagem e foi indicado a três prêmios no Grammy Latino, com entrega marcada para 5 de novembro em Las Vegas. Entre os parceiros deste último trabalho estão artistas como Shakira, Fito Páez e Joaquín Sabina.


No Brasil, Mercedes Sosa se tornou amiga de medalhões da MPB

O auge da popularidade de Mercedes Sosa no Brasil foi nas décadas de 1970 e 1980, quando se tornou amiga de medalhões da MPB, que chamaram a atenção para a sua importância e para a beleza contundente de seu canto. Amiga de Milton Nascimento, Caetano Veloso, Fagner, Chico Buarque, Vinicius de Moraes, Elis Regina e Beth Carvalho, Mercedes fez duetos em shows e gravações com vários deles. Numa de suas últimas vindas a São Paulo, em 2007, dividiu o palco com Maria Rita. Registrou em discos também canções de Vitor Ramil, Djavan, Marcos Valle e Kleiton Ramil.

Milton é o brasileiro mais presente no repertório da cantora, que também fez duetos históricos com ele em "Volver a los 17" (Violeta Parra) e "Sueño con Serpientes" (do cubano Silvio Rodriguez). Em 1985, os dois dividiram o palco com o argentino León Gieco num grande show em Buenos Aires, que virou disco: "Corazón Americano". Procurado pelo jornal "O Estado de S. Paulo", Milton, segundo sua empresária, não quis dar declarações por estar muito abalado com a morte da
amiga. Outros encontros marcantes de Mercedes com brasileiros foram com Beth Carvalho, em "Solo le Pido a Diós" (León Gieco) e com Fagner em "Años" (Pablo Milanés). Um compacto com "O Cio da Terra" (Chico Buarque/Milton Nascimento) e "San Vicente" (Milton/Fernando Brant) é outro registro que merece destaque.

"Éramos bastante amigas desde que vi um show dela no Scala, no Rio. Depois convidei-a para gravar em 1986. Foi uma gravação muito feliz, muito bonita", lembra Beth Carvalho. Depois ela me convidou para fazer um espetáculo no Luna Park, em Buenos Aires, chamado "Sin Fronteras", em 1988. Ela estabeleceu que era uma reunião das rainhas de cada lugar. Do Brasil fui eu, do México tinha Amparo Ochoa, da Venezuela foi uma outra. Foi muito lindo, eu encerrava o show com ela", lembra Beth.

Em 1980, Mercedes gravou o álbum "Ao Vivo no Brasil" e em 1982 teve um outro disco montado só para o mercado brasileiro, "Gente Humilde", puxado pela faixa-título de Chico Buarque, Vinicius de Moraes e Garoto. O álbum também incluía "Viola Enluarada" (Marcos/Paulo Sérgio Valle) e o dueto com Fagner em "Años". Em 1986, ela fez uma participação no programa Chico & Caetano, da Rede Globo, cantando "Volver a los 17" com os anfitriões mais Milton Nascimento e Gal Costa. O encontro saiu em CD numa coletânea brasileira.


Recentemente, Vitor Ramil, de quem Mercedes gravou "Semeadura", a tinha convidado para participar de seu novo álbum, mas ela já estava doente. O produtor Ricardo Frugoli tinha um projeto de gravar um novo álbum de Mercedes no Brasil ainda este ano. "Seriam 14 canções, sete com cantores brasileiros consagrados e sete canções com cantores brasileiros de várias gerações com enorme talento e menor visibilidade", conta Frugoli.

Mercedes também estaria no projeto que Beth Carvalho vem alimentando há anos, que se chama "Beth Carvalho Canta as Músicas Revolucionárias Latino-Americanas". "Ela topou na hora quando falei desse projeto. Iria cantar com ela, com Silvio Rodríguez, cada um representante de cada lugar desse tipo de música, revolucionária, que acho linda. Queria fazer uma coisa grandiosa, gravar em Cuba. Mas eu vou fazer, pena que não vou ter mais a Mercedes."

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