Respaldada pelos músicos Renato Piau e Perinho Santana, Claudia Amorim bebe as mais límpidas poesias e melodias nas fontes inesgotáveis de nossa música
Por Bruno Negromonte
Neste país de dimensões continentais não é de se estranhar que muitos talentos não cheguem ao conhecimento do grande público de imediato. Em meio a tanta banalidade existente em nossa música ainda há quem prefira não se render a banalidade e busca sempre seguir pelos caminhos mais tortuosos em pró de sua satisfação pessoal e musical. Apesar das agruras, neste contexto é possível encontrar novos nomes que utilizam das mais variadas formas para destoarem-se de modo positivo dentro desta cisão bastante evidente em que se encontra a música brasileira da atualidade. Nosso espaço preza por apresentar nomes que trazem em sua trajetória esta característica de modo bastante evidente em sua estrada como é o caso desta artista hoje em questão: Claudia Amorim. Com uma carreira iniciada ainda na infância gravando jingles e spots para rádio e tv, além de programas televisivos como "O clube do Mickey", a artista por um longo período foi back vocal de nomes como Tavito e Sandra de Sá, só aventurando-se em carreira solo quando conheceu o cantor, instrumentista e compositor Danilo Caymmi, que a presenteou com uma composição e com ela dividiu o palco, participando de sua estreia como solista. Neste longo percurso no qual a artista vem seguindo seu canto se viu longe de amarras e gêneros, e desta não delimitação surgiu uma cantora dinâmica e impregnada de boa música, sobretudo de música brasileira. Aguerrida, a cantora procura não render-se a desleal conjuntura que embate, pelo contrário, em seu mais recente trabalho ela procura levar a sua proposta sonora ao mundo, ideia esta que o próprio projeto gráfico do disco deixa transparecer quando apresenta em sua capa uma garrafa contendo uma mensagem.
Sua carreira fonográfica teve início em 1999 quando participou ao lado de nomes como Bernardo Lobo, Marcos Assumpção, Zeca Baleiro, Zé Ricardo, Pedro Mariano entre outros na série "Novo canto" lançada pela Dabliú Discos. Na ocasião a artista interpretava a faixa que viria batizar o seu primeiro álbum solo um ano depois: "Dia branco". Lançado em 2000, o disco além do clássico composto por Renato Rocha e Geraldo Azevedo (que participa do álbum dividindo os vocais com a cantora na faixa "Retirante") , traz em seu bojo mais oito faixas e a participação especial de nomes como Danilo Caymmi e Delia Fisher sob a batuta do conceituado Lui Coimbra e da Patrícia Vergara. Depois de um hiato de seis anos a artista volta ao mercado fonográfico com "... Para entender as estrelas", um disco produzido em Natal (RN) e no Rio de Janeiro, trazendo novamente a presença de Geraldo Azevedo assinando duas faixas: "América futura" (escrita a quatro mãos com o poeta e compositor Capinam) e "Inclinações musicais" (outra parceria entre o artista pernambucano e Renato Rocha) e nomes como Guilherme Arantes ("Cuide-se bem"), Caetano Veloso ("Saudosismo"), Vinicius de Moraes ("Sem mais adeus"), Tom Jobim e Chico Buarque ("Sabiá") entre outros, reiterando o seu compromisso com a música brasileira de qualidade assim como também com a beleza estética a qual o seu canto condicionou-se neste período de afastamento dos estúdios de gravação. Essa condição a conduziu a participação do Prêmio da Música Brasileira em 2007 como um dos álbuns pré-selecionados para a edição daquele ano. Agora, depois de outro intervalo significativo, a artista vem apresentando mais um projeto fonográfico. Trata-se do álbum "Sede", disco ao qual vamos nos prender e que mostra mais uma vez que a música apresentada pela artista traz, desde o início, em seu bojo uma característica peculiar: sua música não faz concessão à qualidade.
Este terceiro álbum continua a retratar a sonoridade existente no Brasil de modo cada vez mais abrangente. Lançado pelo selo Guitarra brasileira (de propriedade do músico e compositor Renato Piau) e distribuído pela Tratore, o disco parte de um seleto repertório composto por nomes que vão do panteão da MPB a emergentes compositores da nova geração. Com doze faixas, o álbum produzido e arranjado pelo saudoso músico Perinho Santana e pelo violonista e compositor Luiz Claudio Ramos apresenta emergentes compositores a exemplo do capixaba Rud Jardim (autor do afoxé "Zabelê") e do potiguar Manassés Campos, que assina "Ai que saudade." Esses dois autores trazem no bojo de suas composições características bem marcantes na discografia da artista a partir de sons imbuídos de África e nordestinidade. Outros nomes presentes dessa nova lavra de compositores da música brasileira são Zeca Costa (que traz "Meu lado esquerdo"), Marco Jabu (autor de "Sonhoso", faixa que conta com a participação especial da filha da artista), Mário Seve e Mauro Aguiar (com "Pandemia"). O disco ainda apresenta faixas assinadas por Vander Lee ("Do Brasil"), Simone Guimarães ("Água funda"), entre outros. Nomes expressivos de nossa música também fazem-se presentes assinando canções como "Você vai me seguir", composta para a peça Calabar, o elogio da traição de autoria da dupla Chico Buarque e Ruy Guerra; Sandra de Sá (com "Demônio colorido") e a dupla nordestina Anastácia e Dominguinhos que assinam "Tenho sede", tema bastante pertinente com a temática do disco. Com cores vivas e bastante, digamos, solares, o projeto gráfico do álbum vem assinado por Luciana Lumyx, que soube muito bem traduzir de modo genuíno a proposta estética e sonora do álbum.
Em uma espécie de bastião do apuro estético em defesa da brasilidade em sua melhor potência, os trabalhos elaborados por Cláudia são bastante abrangentes. Mapeiam a sonoridade as mais distintas sonoridades existentes a partir de conceituados e talentosos compositores a partir dos mais distintos gêneros existentes em nosso país como se é possível analisar a partir de sua curta discografia. No entanto, esse abarcamento não a faz perder uma das características mais evidentes em seu trabalho: uma coerente (e porque não dizer condizente) qualidade muito bem alicerçada em sua formação musical. A artista interpreta um Brasil uníssono, sem distinção. Sua sede é de sol, de mar, de caatinga, de litoral e sertão. Sua sede é de música brasileira sem delimitações e rótulos, mas repleta de exigências para saciá-la. O que a conduz a esta condição são os mais diversos adornos existentes em nosso cancioneiro nesta ânsia de versos e melodias. Bebendo da fonte dos grandes nomes da nossa música e de promissores talentos, Cláudia Amorim mostra-se aglutinadora e um forte elo entre a tradição e a contemporaneidade através das arestas que seu canto competentemente lapida. Apesar da artista perpassar pelas mais diversas influências existentes na construção de sua sonoridade sem delimitar-se, mostra-se perceptível um forte elo entre seus projetos e a música nordestina. Seja músico ou compositor, a região faz-se sempre presente nos projetos da carioca. Sem fazer concessão, Cláudia mostra-se uma hábil competente intérprete ao conseguir fazer-se esse vigoroso elo. Nesta ânsia, só é possível afirmar uma coisas: que, ao se tratar do talento e da sede desta artista, não há fonte, por mais inesgotável que seja, que consiga saciar, banhar ou até mesmo mensurar aquilo que a constitui.
Maiores Informações:
Site oficial - http://claudiaamorimoficial.com.br/
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Aquisição do álbum:
Livraria Cultura - http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=30158051
Guitarra brasileira - http://www.guitarrabrasileira.com/produto.php?cod_produto=1745094
Deezer - http://www.deezer.com/album/4601401
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