Hoje completa-se quatro décadas que o cantor e compositor carioca Evaldo Braga precocemente nos deixou vítima de um acidente automobilístico na BR-3 (Rio de Janeiro - Juiz de Fora), atual BR-040.
Por Bruno Negromonte
O final da década de 60 e início da década seguinte talvez tenha sido o período mais profícuo para a música que muitos costumam rotular como brega. Vem dessa época os primeiros registros fonográficos de nomes como Nelson Ned, Odair José, Paulo Sérgio, o pernambucano Reginaldo Rossi, o mineiro José Ribeiro, além de outros nomes do gênero ou que acabaram sendo enquadrados no gênero e permanecem até os dias atuais. Presente nessa lavra de artistas populares surge um que destaca-se pela voz aguda e letras simples.
Nascido na cidade fluminense de Campos dos Goytacazes, muitos biógrafos defendem a versão que o cantor e compositor foi encontrado em uma lata de lixo, porém atualmente a história mais divulgada é a de que o artista foi fruto de uma relação extra conjugal de seu pai. Dizem que Evaldo Braga (que não chegou a conhecer a sua mãe biológica, pois soube depois que ela havia morrido queimado quando ele ainda era criança) nunca foi querido pela esposa de seu pai. Devido a essa situação passou boa parte de sua adolescência em um colégio interno (o Instituto Profissional XV de Novembro), localizado em Quintino, Rio de Janeiro, mais conhecido como SAM (Serviço de Assistência a Menores, que mais tarde tornaria-se FEBEM).
Ainda na FEBEM, o jovem Evaldo expressava o desejo de chegar ao estrelato como cantor, e isso é relatado por seu colega de internato Dario Peito de Aço, o Dadá Maravilha, que também deixava claro o desejo de tornar-se um renomado jogador de futebol. O mais interessante desses desejos é que ambos conseguiram alcançar os seus respectivos objetivos.
Antes de tornar-se o renomado cantor que hoje conhecemos Evaldo Braga exerceu diversas atividades, entre as quais foi engraxate e lavador de carros de uma gama de artistas na porta das rádios e gravadoras existentes no Rio de Janeiro. Essa última ocupação citada o propiciou conhecer diversos artistas, como foi o caso do cantor Nilton César, que lhe concedeu uma oportunidade de ingressar no meio artístico atuando como divulgador do intérprete de "A namorada que sonhei".
Já inserido no meio artístico tem a oportunidade de conhecer o pernambucano Edson Wander e compõe (juntamente com Reginaldo José Ulisses) a canção "Areia no meu Caminho", gravada por Wander em seu primeiro disco no ano de 1968. Posteriormente teve músicas gravadas por Paulo Sérgio, um dos artistas que o ajudaram na carreira musical. O sucesso enquanto compositor acabou o tornando conhecido no meio e isso gerou a oportunidade de conhecer o produtor e compositor Osmar Navarro, que o convidou para gravar um disco na gravadora Polydor.
Conseguiu atingir o estrelato através do gênero pejorativamente intitulado de brega e sua carreira começou a ganhar notoriedade enquanto cantor em 1969, quando regularmente apresentava-se no programa Discoteca do Chacrinha. O sucesso veio muito rápido e o jovem artista não possuía estrutura emocional para avassaladora notoriedade e isso o fazia, de certo modo, bastante inseguro. Essa insegurança era perceptível principalmente quando chegava a ele críticas acerca do seu trabalho. Comentários como “- Olha aqui. O cara diz que não canto nada, né? Manda ele ver quantos discos eu estou vendendo. Diz pra ele.” eram comuns. O artista chegou a afirmar em um jornal que não fazia música para a elite e sim para aqueles que moravam na Zona Norte, que eram as pessoas que realmente entendia o que ele queria transmitir em suas músicas. E essa justificativa talvez seja a mais plausível quando vemos suas canções até hoje ser entoadas boca do povo.
Em 1971 lança o álbum intitulado "O ídolo negro", este título gerou-o o apelido pelo qual ficou popularmente conhecido e chegou as paradas de sucesso com diversas canções presentes no disco. No ano posterior veio o "Volume 2", disco que o consagrou como um dos maiores nomes da música popular até os dias atuais. Vem desse disco sucessos eternizados na voz das grandes massas como a sua parceria com Carmen Lúcia "Sorria, sorria" (seu maior sucesso até os dias atuas, 41 anos depois), "Eu não sou lixo", de sua autoria com Pantera e a canção "Mentira", de Osmar Navarro.
Evaldo Braga morreu em um acidente automobilístico próximo ao município de Três Rios, com apenas 25 anos de idade, no ano mais promissor, segundo ele mesmo, de sua curta carreira. Segundo populares, a tragédia aconteceu quando o motorista tentou fazer uma ultrapassagem perigosa, e o Volkswagen TL do cantor foi atingido em cheio por um caminhão Scania que vinha no sentido contrário. É importante ressaltar que, no momento do acidente, Evaldo Braga não dirigia o carro, mas seu motorista, Vanderlei, que morreu na hora. Evaldo ainda foi levado com vida ao Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Três Rios, mas, como perdeu muito sangue, morreu de anemia aguda. Na época do seu sepultamento o Cemitério S. João Batista na cidade do Rio de Janeiro, lotou. A comoção teve que ser contida com o apoio da tropa de choque da PM local. E ainda nos dias atuais, após décadas de sua morte, seu túmulo, no cemitério do Caju, no Rio de Janeiro, é um dos mais visitados no dia de finados, quando milhares de fãs a ele rendem homenagens, levando flores e cantando seus sucessos.
Detalhe: Evaldo era superticioso. Não andava sem uma espécie de guia enrolada em sua mão direita. No dia de sua morte, uma fã havia lhe arrancado a tal guia.
Discografia Oficial
Evaldo Braga - O Ídolo Negro (1971)
Ficha Técnica:Direção de Produção: Jairo Pires - Eustáquio Sena
Direção de Estúdio - Mazola
Técnicos de Gravação: Mazola - Toninho
Estúdio: C.B.D.P.
Arranjos: Waltel Branco
Foto: Tobias
Capa: Aldo Luiz
Faixas:
01 - Eu desta vez vou te esquecer (Lucky People)
02 - Eu nunca pensava
03 - Por que razão
04 - Meu delicado drama
05 - Hoje nada tens pra dar
06 - Só quero
07 - Meu Deus
08 - Vem Cá
09 - Quantas Vezes
10 - Eu Amo Sua Filha, Meu Senhor
11 - A Cruz Que Carrego
12 - Não Atenda
Evaldo Braga - O Ídolo Negro - Volume 02 (1972)
Ficha Técnica:
Direção de Produção: Jairo Pires – GutiDireção de Estúdio: Guti
Técnico de Gravação: Celinho
Estúdio: Somil
Arranjos: Waltel Branco – Perucci
Foto: Ricardo de Cumptich
Faixas:
01 - Sorria, Sorria02 - Eu Não Sou Lixo
03 - Esse Alguém
04 - Mentira
05 - Você Não Presta Pra Mim
06 - Noite Cheia de Estrelas
07 - Esconda O Pranto Num Sorriso
08 - Te Amo Demais (Heart Over Mind)
09 - Não Vou Chorar
10 - Tudo Fizeram Prá Me Derrotar
11 - A Vida Passando Por Mim
12 - Alguém Que É De Alguém
13 - Já Entendi
Mis Canciones en Castellano (1972)
Faixas:
01 - Por Que Razón
02 - Cuantas Veces
02 - Cuantas Veces
03 - Mis Penas y Mi Dolor
04 - La Cruz De Mi Vida
05 - Dios Mio
06 - Ven Acá
07 - Amo a Su Hija Señor
08 - No Atiendas
07 - Amo a Su Hija Señor
08 - No Atiendas
09 - Por Increíble Que Parezca
10 - Hoy No Tienes Para Dar
11 - Yo Quiero
12 - Por Una Vez Mas
Evaldo Braga - Disco Póstumo (1973)
Ficha Técnica:
Direção de Produção: Jairo Pires – Guti
Coordenação de Produção: Fernando Adour – Haylton Souza
Técnicos de Gravação: Ary Carvalhaes – Celinho – Paulo Sergio – Luiz Claudio – João Moreira
Estúdio: Somil/Phonogram
Arranjos: Waltel Branco – Perucci
Corte: Joaquim Figueira
Lay-Out: Aldo Luiz
Ilustração de Capa: Luiz Benício
Faixas:
01 - Eu Me Arrependo
02 - Por Incrível Que Pareça
03 - Quisera Eu
04 - Minha Decisão
05 - A Triste Queda
06 - Por Uma Vez Mais
07 - Eu Desta Vez Vou Te Esquecer (Lucky People)
08 - Eu Ainda Amo Vocês
09 - Meu Delicado Drama
10 - Porque Razão
11 - A Cruz Que Carrego
12 - Noite Cheia de Estrelas
13 - Nunca Mais, Nunca Mais
14 - Eu Não Sou Lixo
Texto da contracapa:
Dedicatória – Disco Póstumo
Evaldo,
Com seu sorriso largo, sua música e sua vontade de vencer, você esteve pouco tempo entre nós. E ficou para sempre.
Aliados e testemunhas de sua luta para dar o melhor de si e conquistar a admiração e o respeito das multidões, nós sempre encontramos dentro do “ídolo negro” dos auditórios, o homem comum e humilde, a criança pobre, o artista disciplinado e o amigo sincero que você foi sempre. No desespero do início, no aceso da luta e na alegria da vitória.
A sua música povoou de emoção milhares de corações e, cantando suas dores e alegrias, você a fez um pouco de cada um que a ouviu e sentiu.
Para as multidões você será sempre o “Ídolo Negro”. Mas para cada coração, para cada rosto anônimo que o amou de longe, sua voz ficará como a do amigo que dividiu a imensa tristeza e as poucas alegrias de uma vida de lutas e sofrimentos com cada um que ouviu seu canto.
O canto de Evaldo Braga ficará para sempre. Porque ficam para sempre as dores de amor, a solidão, o desespero e a alegria pura e simples de um homem puro e simples, de um grande artista.
Evaldo Braga nasceu no dia 28 de setembro de 1947 em Campos, Estado do Rio e nunca conheceu seus pais: foi abandonado na rua e encontrado por uma senhora do Juizado de Menores que o encaminhou ao SAM (Serviço de Assistência ao Menor), hoje FUNABEM, onde viveu seus primeiros vinte anos.
Evaldo trabalhou numa empresa funerária e numa companhia de aviação e, quando se viu sem possibilidades de conseguir outro emprego, foi engraxar sapatos na porta da Rádio Mayrink Veiga, conhecendo então vários artistas. E foi Isaac Zaltman, que apresentava o programa “Hoje é Dia de Rock”, quem lhe deu a primeira oportunidade. Pouco depois a rádio fechou e Evaldo não tinha sequer onde morar.
Ele dormia nos estúdios da Rádio Metropolitana quando o disk jockey Roberto Muniz conseguiu para Evaldo ajudar na divulgação de Lindomar Castilho. Mas foi na Rádio Globo que encontrou Osmar Navarro, que lhe conseguiu a primeira gravação. O disco não chegou a fazer sucesso.
Foi na Polydor que Evaldo conseguiu seu primeiro grande sucesso, o compacto “Só Quero” que, comandou as paradas do país inteiro e vendeu mais de 150 mil cópias. Seguiram-se, sempre com sucesso, o LP “O Ídolo Negro” volume 1 e 2.
Aos 25 anos, no dia 31 de janeiro de 1973, num acidente automobilístico na estrada Rio-Belo Horizonte, morria Evaldo Braga, encerrando-se tragicamente uma carreira curta mas vitoriosa.
Cia. Brasileira de Discos Phonogram.
4 comentários:
Muito interessante esta história ,era realmente um cantor...
Lembro-me dele, estava no auge do sucesso, era o ídolo das meninas da minha geração, tínhamos os discos dele e suas músicas tocavam muito nas rádios...poderia estar ainda fazendo sucesso se não fosse essa tragédia...
Ate hoje sou fa dele. Eu cresci ouvindo as belas músicas dele. Quando nasci ele já tinha morrido.
Desde a primeira vez que ouvi suas músicas, sempre as admirei...
De tempos em tempos eu volto a ouvi-las...
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